making-of-muro-riso-melanieLançado em 1985, o álbum Olhar transformou a banda A Gota Suspensa numa febre nacional. Com som e nome novos, o quinteto re-batizado como Metrô viu sua vida tragada por uma tormenta de shows lotados, programas de TV, paradas de sucesso, fotos em revistas e cobrança. O prazer do sucesso foi avassalador, mas o cansaço logo começou a minar a relação entre os antigos colegas do Liceu Pasteur, de São Paulo.

O resultado foram brigas, separações e mágoas que afastaram Virginie Boutaud (voz), Dany Roland (bateria), Alec Haiat (guitarra), Yann Laouenan (teclado) e Xavier Leblanc (baixo) por quase 30 anos. A reaproximação aconteceu em 2004, nos 50 anos do Liceu Pasteur, que convidou os ex-alunos para a festa. Sem pretensões, os músicos de ascendência francesa se prepararam para um único show. Foram poucos ensaios. Virginie, que mora na França, chegou ao Brasil no dia da apresentação, fez uma breve passagem de som e já foi embora no dia seguinte.

Aquele show foi suficiente para que a banda percebesse que poderiam voltar a trabalhar. Com a formação original, eles já lançaram duas faixas inéditas e estão divulgando a edição comemorativa do álbum Olhar. Com sucessos presentes ainda hoje, o segundo disco do Metrô fez o Brasil balançar com Sândalo de Dândi, Ti Ti Ti (versão de Rita Lee), Tudo pode Mudar e Johnny Love.

A ideia de relançar nasceu quando Dany Roland encontrou por acaso, num vôo, com o antigo técnico de som da banda, Paulo Junqueiro. Na conversa, Dany falou do reencontro, do show e da química que rolou. Paulo, que agora é presidente da Sony Music, ouviu a história e se empolgou para fazer algo que celebrasse os 30 anos da banda que abraçou uma new wave colorida e sorridente naqueles anos 1980. Ele revelou ainda que tinha gravações inéditas da banda ao vivo.

“Eu fiquei muito espantada há um mês e meio, quando entrei num programa que diz onde suas músicas estão tocando. Você acredita que Tudo Pode Mudar toca 46 mil vezes por semana? Uma loucura”, espanta-se Virginie com sotaque característico. Morando em Tolouse, a vocalista conta que os projetos recentes reanimaram o Metrô, que mantém uma agenda de shows e lançamentos tocada de forma independente. “Enquanto não estamos juntos, trabalhamos de longe com composição e divulgação. Não estamos com muita pressa. A ideia é concentrar e fazer vários shows”, explica.

Nessa retomada, o relançamento de Olhar mostra o som do Metrô pode ser ainda sedutor. Alguns timbres soam datados, mas o repertório é divertido e bem selecionado. Como raridades, faixas ao vivo e demos gravadas entre 1984 e 85. Nessa época, a banda 46333215reunia o repertório do disco com canções da época da Gota Suspensa e incluía citações de Duran Duran, Prince, Blondie e outros. “Os shows eram muito corridos. Viagens pra lá e pra cá com aviões, ônibus. A agenda era muito carregada. Isso foi acertando uma vida confortável que a gente tinha e daí cansou. O que aconteceu foi uma implosão”, explica a cantora que foi convidada a sair do Metrô e substituída por Pedro d’Orey, que assumiu os vocais do pretensioso A Mão de Mao (1987).

Trocar o pop doce pelo experimentalismo gerou elogios da crítica e o abandono dos fãs. O quinteto se afastou e Virginie foi cuidar da vida trabalhando com Arrigo Barnabé e, em seguida, com a banda Fruto Proibido. Ela só voltou a gravar com parte do Metrô em 2002, quando eles lançaram o bossanovista Déjà vu. “Agora, estamos relativizando as coisas. Você já foi pai? Pra mim, ser mãe foi uma coisa muito revolucionária que pôs o contador no zero”, comenta a cantora que se divide entre a banda e o trabalho com crianças especiais.

Qual o próximo passo do Metrô, Virginie não tem certeza. Mas ela já se orgulha de ver o quanto as novas gerações andam curiosas pelo som da banda. “Agora querem o vinil”, ri-se como se estivesse num looping do tempo. Por certo, eles lançaram o reggae A Vida É Bela Lalaiá e a melodiosa Dando Voltas no Mundo, e seguem preparando outros singles, sem pressa ou cobrança. “Essa música está precisando de um belo videoclipe. Somos produtores independentes e isso faz demorar mais. Está indo pouco a pouco”, acalma Virginie que mantém o timbre suave que fez fama nos anos 1980. “A voz está a mesma, mas o meu cabelo…”

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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