Fotos: Divulgação/Dragão do Mar

E foi assim. Num susto. Uma mensagem chegou com a notícia, pouco depois a confirmação. Não houve muito tempo para entender a dimensão do acontecido. Pá pum. Belchior estava mesmo morto. Publicada em primeira mão pelo O POVO, na manhã do domingo, 30, logo o Brasil estava dando conta da perda irreparável de um compositor que dedicou sua obra a refletir sobre o homem e o que o cerca.

Com a urgência de quem tem uma missão a cumprir, logo um grupo de artistas cearenses se reuniu para celebrar a história do rapaz latino-americano. Encaixado no encerramento da Maloca Dragão, o show aconteceu ainda na noite do domingo, no Poço da Draga, após a banda BaianaSystem. Sem tempo para muitos ensaios, a homenagem foi costurada por muita emoção, nós na garganta e um repertório que era acompanhado pela multidão que se acumulou ali.

Rodger Rogério pediu ajuda do público na letra de Velha Roupa Colorida

Anunciado para começar à meia-noite, o show começou uma hora e quinze minutos depois. O primeiro a subir ao palco foi Fernando Catatau, que interpretou Pequeno Perfil de um Cidadão Comum, e já deu tom do que viria a seguir. Canções que fazem o cearense se orgulhar mais de sua terra, onde ele se vê retratado, compreendido e valorizado. “Eu não sou do lugar dos esquecidos! Não sou da nação dos condenados! Não sou do sertão dos ofendidos! Você sabe bem: Conheço o meu lugar!”, avisou Erickson Mendes – pontuado pela flauta de Moacir Bedê – que seguiu com Conheço o Meu Lugar.

Mona Gadelha relembrou Galos, Noites e Quintais numa interpretação contida

Numa noite em que até as imperfeições valorizavam o todo, cada artista que assumia o microfone contava uma história, revelava um sentimento, confessava sua admiração. Rodger Rogério foi um deles. O amigo dos tempos de Pessoal do Ceará (se é que esse tempo passou) escolheu Velha Roupa Colorida e pediu ajuda da plateia na letra que ele “não sabia direito”, mas é uma de suas preferidas. O pedido foi atendido e o compositor de alma roqueira deu recado para Belchior.

Lorena Nunes foi o melhor momento da noite, com Pequeno Mapa do tempo

Entre velhos amigos, jovens admiradores e parceiros de Belchior, a noite foi seguindo com risos, lágrimas e ousadias. Ricardo Guilherme surpreendeu ao interpretar – à capela – uma canção inédita, feita para uma peça de teatro, que destacava a veia política do homenageado. Lídia Maria misturou Belchior com Beatles ao interpretar Comentário a Respeito de John. Lorena Nunes deu a medida exata da emoção em Pequeno Mapa do tempo e Nayra encerrou a lista de convidados cantando Como Nossos Pais.

A noite que teve ainda Marcus Caffé, Paula Tesser, Soledad e outros nomes, encerrou com todos juntos no palco cantando A Palo Seco. A plateia aplaudiu tudo, por respeito e orgulho de ter entre seus conterrâneos o autor daquelas canções. Embriagados todos de emoção e melodias, público e artistas encerraram a homenagem já depois das três da madrugada. E muito foram embora ainda cantando. “Eu não estou interessado em nenhuma teoria…”

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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