Há cerca de dois anos, a gravadora Warner relançou parte do acervo nacional em caixas temáticas dedicadas a alguns dos seus mais célebres artistas. Num projeto muito parecido com o que vem fazendo o selo Discobertas, a multinacional preparou pacotes de CDs para perfis bem variados de público. Teve Elis Regina, com três dos seus últimos trabalhos, e os quatro primeiros discos de Lulu Santos. Nessa leva, teve ainda raridades de Oswaldo Montenegro, os anos de ouro do Ultraje a Rigor, obras menos incensadas de Jorge Ben Jor, discos celebrados do Ira! e os anos 1970 de Raul Seixas.

A coleção está sendo retomada este mês com mais três pacotes de discos. Analisando em conjunto, a nova leva já chega despertando mais curiosidade entre os caçadores de raridades que o time de estrelas de dois anos atrás. Focando nos anos 1970, a nova tiragem de boxes reúne projetos que fizeram história, venderam bem, ainda são bem escutados e hoje são disputados em sebos nas suas versões em vinil.

Esse é o caso de Se o Caso é Chorar, disco que abre a caixa Anos 70, com quatro álbuns de Tom Zé. O baiano de Irará, que este ano completa 81 anos, tem encaixotada sua porção mais estudada e cultuada. O álbum de 1972 joga suas ideias universais sobre uma base de samba e traz faixas históricas como Pecadinho, Menina Amanhã de Manhã e a faixa título. Em seguida vem o sempre polêmico Todos Os Olhos (aquele da bila), Estudando o Samba (que contou com presenças definidoras de Elton Medeiros e Heraldo do Monte) e Correio da Estação do Brás (uma visão particular sobre o migrante).

Abra suas asas
Parte dos discos lançados no box de Tom Zé foram recolocados nas lojas em vinil nos últimos anos. Já o segundo nome homenageado pelos relançamentos está vivo nas memórias mais nostálgicas, mas há tempos virou marca dos tempos em que Donna Summer reinava nas pistas. O sexteto Frenéticas foi um marco dos anos 1970 formado a partir de um grupo de garçonetes da casa de shows Frenetic Dancin’ Days, aberta pelo antenado Nelson Motta. Num determinado momento da noite, elas que subiam no palco para cantar, dançar e fazer festa.

O primeiro sucesso das meninas (que tiveram de deixar o cargo de garçonete de lado), A Felicidade Bate à Sua Porta, foi composto por Gonzaguinha, namorado de Sandra Pêra (irmã da Marília) e teve boa execução nas rádios. A abertura deu a elas aval para serem as primeiras contratadas da Warner, por onde elas lançariam os álbuns Frenéticas (1977), Caia na Gandaia (1978), Soltas Na Vida (1979) e Babando Lamartine (1980). Este último, uma homenagem desbundada e carnavalesca ao compositor Lamartine Babo, fecha a época de ouro das Frenéticas.

Até lá, elas lançaram algumas jóias inesquecíveis como O preto Que Satisfaz, Perigosa, Tudo Bem Tudo Bom ou Mesmo Até e Dancin’ Days. Além destas todas, a caixa traz bônus, versões e raridades como Açúcar Candy, gravação que permanecia inédita. Com a chegada da década de 1980 e de novos sons no mercado, as Frenéticas ainda se reinventaram com uma formação menor, lançaram um disco pela pequena Tapecar tentando entrar na onda rock brazuca. Outro disco viria com outra formação em 2001, agora agregando compositores que surgiam, como Gabriel, O Pensador e Pedro Luís. Infelizmente, a magia não era mais a mesma.

Telúrica
Mas uma magia que não se esgota, por que vem de forças superiores, é a de Bernadete Dinorah de Carvalho Cidade. A niteroiense, na adolescência, adotou o nome de Baby Consuelo e, depois, tornou-se a cara e a simpatia dos Novos Baianos. Com o fim do grupo, a “falsa baiana” pegou o guitarrista e marido Pepeu Gomes pelo braço e saiu despejando uma série de sucessos em rádios e trilhas de novelas apoiado num som feito de samba, rock, afoxé, bossa nova, liberdade e muito sorriso.

Na esperada caixa lançada pela Warner estão os discos O Que Vier Eu Traço (1978), Pra Enlouquecer (1979), Ao Vivo em Montreux (1980), Canceriana Telúrica (1981) e Cósmica (1982). Os discos passeiam por um Brasil tão plural e sem fronteiras que é difícil imaginar um rótulo para eles. Tem o forró roqueiro de O Fole Roncou, a delicadeza de Tudo Blue, o pop “ritalírico” Papo de anjo, choro com Ademilde Fonseca (Apanhei-te cavaquinho) e catarse ritualística gravada no Festival de Montreux.

Na virada dos anos 1970 para os 80, Baby e Pepeu seguraram a magia do sucesso arregimentando fãs adultos e crianças. Para os menores, a caixa traz bônus como Emília, a Boneca Gente, feita para o especial Pirlimpimpim. Para os adultos, a bandeira pró-liberação da maconha O mal é o que sai da boca do homem, lançada em compacto. Em 1984, Baby iria para uma casa nova (CBS), mudaria o nome para Baby do Brasil, largaria vida mundana para virar popstora, voltaria a tocar com o Novos Baianos, resgataria os anos de sucesso gravando o primeiro DVD (com mais de 60 anos) e confirmaria ser, ainda, uma voz e uma alegria que o Brasil não pode perder.

Serviços:
Tom Zé – Anos 70
O quê: caixa com os discos Tom Zé (1972), Todos Os Olhos (1973), Estudando o Samba (1976) e Correio da Estação do Brás (1978)
Preço médio: R$ 158,90

Baby Consuelo do Brasil
O quê: caixa com os discos O Que Vier Eu Traço (1978), Pra Enlouquecer (1979), Ao Vivo em Montreux (1980), Canceriana Telúrica (1981) e Cósmica (1982)
Preço médio: R$ 199,90

40 anos de Dancin’ Days
O quê: caixa com os discos Frenéticas (1977), As Frenéticas (1978), Soltas Na Vida (1979) e Babando Lamartine (1980)
Preço médio: R$ 158,90

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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