No início dos anos 1990, um grupo de rap rock carioca começou a chamar atenção de público, produtores musicais, representantes do poder público e justiça brasileira. Em um contexto de múltiplas repressões, o Planet Hemp surgiu para, como os integrantes costumam dizer, “fazer barulho”. Com letras afiadas e um discurso que desafiava a reflexão sobre a legalização da maconha, seis integrantes da banda foram presos em 1997. A história foi contada em um documentário de cinco minutos, disponibilizado no Youtube.

Marcelo D2, Gustavo Black Alien, Formigão, Bacalhau, Zé Gonzales e Jacksom foram presos após um show em Brasília. À época, o delegado titular da Delegacia de Tóxicos e Entorpecentes, Eric Castro, disse que a Polícia Civil do Distrito Federal estava em processo de estudo das letras da banda há um ano. Os músicos ficaram detidos por cinco dias.

Ao fim desse prazo, o álbum mais recente da banda – Os cães ladram e a caravana não para – atingiu o número de 300 mil cópias vendidas. Uma marca histórica ao considerar os modelos de reprodução técnica e artística da época. “O tiro saiu pela culatra”, diz Marcelo D2 em narração do documentário, que tem direção e roteiro assinados por Matias Maxx. O curta-metragem traça um linha do tempo com recortes de shows, reportagens da televisão e gravações de eventos diversos, mostrando que  caminho da descriminalização é longo.

A prisão chegou aos bancos do Supremo Tribunal Federal. Em decisão que deixou o país boquiaberto, a instituição decidiu que não apenas as letras do Planet Hemp são constitucionais, mas a marcha da maconha – evento que ganhou força no Brasil a partir dos anos 2000 – também é totalmente constitucional. “Qual era o nome? Planet, Planet Hemp. (risos) Exatamente. E eles foram expostos a medidas repressivas e interferência brutal no processo de produção intelectual e artístico”, declarou o ministro Celso de Mello, presidente do Supremo de 1997 até 1999, em pronunciamento exibido no documentário.

Em apenas cinco minutos, o documentário percorre duas décadas de discurso da banda Planet Hemp sobre as possíveis utilizações da maconha, focando no potencial medicinal. O curta-metragem é bem construído, estabelecendo ligações entre falas dispersas em bastidores de shows e decisões judiciais anunciadas na televisão. Ao fim, o Planet Hemp faz questão de frisar:  “Nossa vitória não será por acidente”.

Confira o documentário

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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