Em entrevista para o caderno Vida&Arte, realizada há pouco mais de um mês, a cantora e compositora Tulipa Ruiz apresentou seu novo disco, batizado de TU. Quarto trabalho de uma carreira de menos de 10 anos, esse traria uma novidade que ia além das canções inéditas. É que TU teria suas nove faixas lançadas apenas nas plataformas de streaming. Nada de disco físico.

A proposta parece óbvia quando tanto se ouve por aí que ninguém compra mais discos. De fato, o objeto disco, diferente da música em si, nunca foi visto como obra de arte. Em maioria, para o público consumidor, comprar ou não comprar um disco tinha como critério primeiro o custo benefício: melhor uma coletânea de sucessos com 20 faixas por R$ 9,90 ou um álbum de 10 ou 12 inéditas pelo triplo desse valor? Assim, bastou que a pirataria chegasse por R$5 ao grande público – e fosse, inclusive, incentivada por muitos artistas – para que os pobres disquinhos prateados fossem perdendo seu espaço nas lojas e as lojas fossem minguando ano a ano.

E assim, curiosamente, o CD tornou-se mais velho que o LP, que voltou a ser comercializado com alguma força do Brasil. Sim, alguma força, porque não é um mercado exatamente sustentável, uma vez que o brasileiro sempre prefere pagar o mínimo pelo que consome – mesmo que isso represente uma perda ou outra de qualidade no produto consumido. Assim, vale a pena comprar um LP pelo valor de cinco meses de Spotify? Ainda assim, alguns artistas com trabalhos direcionados para o público mais adulto, voltaram a sentir necessidade de lançar suas músicas em LP.

E esse projeto estava na mira de Tulipa, que já imaginava, num futuro próximo, lançar TU em LP, somente. Mas, eis que ela se viu surpreendida pelo público que pedia uma edição do disco também em CD. Ela não pensou duas vezes e atendeu ao pedido. O CD já está para pré-venda em algumas lojas. Essa mudança de rumo da artista paulistana se justifica por ela falar para um público mais atento ao que cerca a música, principalmente os nomes que estão ao lado de quem assina um álbum. Aqui me refiro a produtor, músicos, engenheiros de som e tudo mais. Além disso, trata-se de um público que gosta da sensação de levar o artista para casa, senti-lo entre os dedos, olhar as imagens, ler as letras, ter uma experiência sinestésica com a música.

É comum tratar os consumidores de LP e CD por nostálgicos, tradicionais ou outros adjetivos que remetam a um apego ao passado. Não vejo problema na nostalgia, mas existem preconceitos e um discurso mercadológico por traz disso. As plataformas de streaming são ótimas em preço, praticidade e velocidade para lançar e consumir novos singles (um formato muito velho, a propósito). Mas pecam em valorizar todos os envolvidos no processo, que nem são creditados nem pagos devidamente. Para quem se liga nesses “detalhes”, onde se inclui o trabalho de vários artistas, as mídias físicas vão continuar tendo espaço.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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