Não é de hoje que se conhece o trabalho de Artur Menezes na música cearense. Guitarrista de dedilhado virtuoso, ele tornou-se um dos principais representantes da cena blues local, desde quando ela era bem tímida até conquistar adeptos fieis. Radicado na Califórnia há uns bons anos, ele vem conquistando reconhecimento na terra do estilo que o fez virar músico.

Um exemplo desse reconhecimento aconteceu no sábado, 20 de janeiro, quando ele ganhou dois prêmios no International Blues Challenge, competição que envolve cerca de 250 formações – bandas, duos ou solos. A final aconteceu no Orpheum Theatre, em Memphis, um tradicional palco de 92 anos. Artur levou pra casa os prêmios de Albert King Award, de melhor guitarrista, e o terceiro lugar no prêmio de melhor banda, ao lado de Bianca Richardson (da Califórnia, bateria), Gui Bodi (Brasil, baixo), Matthew Mitchell (Nova York, sax e guitarra) e Renny Goh (Singapura, teclados).

Por email, Artur Menezes comentou o resultado do International Blues Challenge e do trabalho que vem desenvolvendo nos EUA. Incluindo um novo disco, produzido por Josh Smith. Confira.

DISCOGRAFIA – O que esses dois prêmios ganhou representam pra tua carreira?
Artur Menezes – Reconhecimento internacional e realização pessoal. Fiquei muito feliz com tudo o que vem acontecendo com a minha carreira desde que me mudei para Los Angeles. Além do mérito e reconhecimento desse prêmio, ganhei uma guitarra edição especial da competição e também um amplificador também edição especial.

DISCOGRAFIA – Queria que você me explicasse como funciona essa premiação do International Blues Challenge.
Artur – A The Blues Foundation promove o International Blues Challenge (IBC). Essa edição que ganhei foi a 34ª e o “IBC” acontece todos os anos em Memphis. São aproximadamente 250 “acts” (bandas, duos e solos acústico) que venceram os challenges locais promovidos pelas “blues societies” afiliadas à Blues Foundation no mundo inteiro. Ou seja, os vencedores das blues societies da Holanda, Espanha, Inglaterra, Japão, EUA e vários outros países. Acredite ou não, o Brasil não tem uma blues society afiliada. Até a Colômbia, bem menor que o Brasil e com uma cena blues muito menor, tem uma blues society. Alguns países tem mais de uma blues society, por exemplo aqui nos EUA só no estado Califórnia tem acho que umas seis. Eu ganhei o challenge promovido pela “Santa Clarita Valley Blues Society”. Com isso ganhei o direito de competir no IBC representando essa blues society. Uma vez em Memphis, são dois shows nas quartas de final, um show na semi-final e um show na final. Pra semi-final acho que passam 32 bandas e pra final passam oito bandas. Então passei por todo esse processo. Ganhei o prêmio de melhor guitarrista do IBC, o “Albert King Award” for Best Guitarist. E ganhei na categoria banda o 3º lugar. Todos os shows tem uma bancada com três jurados, sempre artistas, produtores e/ou profissionais ligados ao blues nos EUA.

DISCOGRAFIA – Em Fortaleza, você mantinha um trabalho de misturar o blues norte-americano com sons nordestinos. Essa mistura ainda está presente no que você faz nos EUA?
Artur – Não. Desde que me mudei pra São Paulo que foquei mais no blues rock, funk blues etc. Eles gostam muito do jeito que eu me expresso no blues. Falam que eu tenho minha linguagem, que soo original. Também gostam muito da minha voz. Com a convivência e com o meu disco novo produzido pelo Josh Smith, mudei bastante o meu jeito de cantar.

DISCOGRAFIA – A que tipo de trabalhos você tem se dedicado nos EUA?
Artur – Carreira solo. Fazendo shows, gravando meu disco novo, etc. Também participo de uma banda de rock aqui de LA chamada Sugar Fly. E o Musicians Institute me convidou pra fazer um OC (“Open Counseling”) sobre minha técnica de guitarra no blues. OC nada mais é que um workshop. Isso foi algo muito bacana também porque o Musicians Institute é uma das maiores e mais respeitadas escolas de música nos EUA.

DISCOGRAFIA – Você falou de um novo disco, produzido por Josh Smith. Como vai ser esse trabalho? Em que ele se aproxima da discografia que você iniciou no Brasil?
Artur – Esse disco é bem diferente de todos os outros. Primeiro por ter um produtor de renome envolvido. O Josh Smith é um dos guitarristas de blues moderno mais respeitados no mundo. Segundo pela sonoridade e músicos que gravaram comigo. Usei um amplificador que o Joe Bonamassa emprestou pro Josh, tive o Gary Novak gravando a bateria. O Gary tocou com o George Benson, Chick Corea dentre outros. Quem está mixando o álbum é o Travis Carlton, filho do guitarrista Larry Carlton. Terceiro por conta da maturidade. A minha técnica na guitarra e no canto estão mais apuradas. Enfim, estou muito feliz com o resultado! Lançarei o disco em breve. Estamos em fase final de mixagem e masterização.

DISCOGRAFIA – Você construiu um nome no Ceará, como guitarrista e shoowman. De alguma forma, isso se reflete no trabalho que você levou para os EUA?
Artur – Sim, com certeza. Faz parte da minha personalidade o que eles chamam aqui de “showmanship”, que aí no Brasil a gente chama de presença de palco. Até hoje faço aquela caminhada com wireless no meio da plateia, que é marca registrada nos meus shows.

DISCOGRAFIA – Do que mais sente falta quando pensa no Ceará?
Artur – Da família e dos amigos. Correr atrás dos sonhos tem um preço muito alto. Não estou falando de dinheiro, mas de deixar pra trás família, amigos e conforto pra começar tudo do zero. Então não é nada fácil. Vamos ver se com o disco novo consigo fechar uma turnê por aí e aproveito pra visitar todo mundo! Não sei se ainda esse ano, porque deve rolar uma turnê na Europa e na Coréia, mas vamos ver!

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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