O convite não poderia ter sido mais inusitado. Tom Jobim estava no Bar Veloso, em Ipanema, tomando chope na companhia de velhos amigos. Na época com menos de 40 anos, o compositor já gozava de prestígio internacional, mas conservava esse hábito simples e carioquíssimo. E foi no meio da conversa que o garçom interrompeu para dizer que um gringo estava ao telefone querendo falar com o autor da Garota de Ipanema. “Quero fazer um disco com você e quero saber se você acha isso interessante”, disse, do outro lado da linha, ninguém menos que Frank Sinatra.

Embora fosse contido nas comemorações, Tom achou a ideia interessantíssima e, no início de 1967, estava voando para encontrar o maior cantor do século XX, nos Estados Unidos, e dar início aos trabalhos. O resultado desse encontro foi Francis Albert Sinatra & Antônio Carlos Jobim, álbum que modernizou o som do norte-americano e chancelou o valor internacional do brasileiro. Tendo completado 50 anos no ano passado, a parceria foi regravada por John Pizzarelli, que chega amanhã a Fortaleza para única apresentação do seu tributo no Espaço Jangada, no Shopping Iguatemi.

Embora gravar bossa nova, e ainda mais Tom Jobim, não seja novidade para o cantor e guitarrista de New Jersey, essa homenagem tem um sabor especial. Além de fã confesso da música brasileira, Pizzarelli também tem Sinatra entre seus ídolos. E Sinatra & Jobim @ 50 contou com uma participação muito especial, tanto que ela vem creditada na capa do álbum: Daniel Jobim. O pianista, neto de Tom, canta algumas faixas do álbum e também participa do show.

Assim como Sinatra abriu mão de ter só Tom Jobim no disco de 1967 e incluiu três faixas do cancioneiro popular norte-americano, em Sinatra & Jobim @ 50, Pizzarelli fugiu da ordem das faixas, e tirou umas para dar lugar a outras. A sempre bela Garota de Ipanema, por exemplo, saiu e entrou Two Kites, com arranjo que homenageia o original. A faixa de abertura do tributo é Baubles, Bangles and Beads, que foi a escolhida por Sinatra para dar início às gravações no estúdio da Werner Western Sound, às 20 horas daquela chuvosa segunda-feira, 30 de janeiro – mas acabou lá no final do disco.

Dindi, primeira de Tom registrada naquelas sessões de 1967, vem no tributo de Pizzarelli em versão bilíngue. Enquanto ele canta a letra americana de Ray Gilbert, Daniel faz a original de Aloísio de Oliveira. E o encontro é da maior elegância, com o mesmo canto sussurrado que Sinatra teve que aprender a fazer há 50 anos. “Não canto assim desde que tive laringite”, brincou aquele que ficou conhecido como “A Voz”. Também foi ao final de Dindi que “A voz” falou o primeiro palavrão daquela noite. “Damn, that’s a pretty song”, soltou, num desabafo elogioso a uma das belas composições de Tom Jobim.

AO LADO DE JOBIM
A admiração de Pizzarelli pela música brasileira já foi registrada em mais de um trabalho. Sendo Tom Jobim presença garantida na sua discografia, dividir um trabalho com o neto do compositor foi algo especial. Pizzarelli e Daniel Jobim se conheceram por volta de 2004, quando o guitarrista gravava o álbum Bossa Nova. E a vontade de gravar outro disco de música brasileira já vinha de um tempo. Com a ideia para Sinatra & Jobim @ 50, o reencontro  foi necessário. “Eu não posso imaginar um mundo sem Tom Jobim. Seria como imaginar o mundo sem George Gershwin”, comenta Pizzarelli.

SERVIÇO
John Pizzarelli – Sinatra & Jobim @ 50
Quando: amanhã, 2, às 21 horas
Onde: Espaço Jangada (shopping Iguatemi)
Quanto: de R$180 a R$ 300 (preços de inteira)
Telefone: 3261 2061 ou 3111 2812

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

View All Articles