O processo de concepção de Sebastiana foi longo e saboroso. Ricardo Bacelar “teve que ouvir” as obras inteiras de Chico Buarque, Tom Jobim e outros. Selecionou algumas, cortou outras, viu o que poderia acrescentar, até chegar ao resultado que queria. A seguir, o pianista conta detalhes do novo disco:

1. A volta da Asa Branca (Luiz Gonzaga/ Zé Dantas) – O baião dá lugar a uma levada pop misturada com o sangueo (ritmo venezuelano). Teclados analógicos e piano dividem espaço com o acordeom do colombiano Channo Tierra. “Essas fusões são como uma brincadeira que você vai vendo se dá certo. Tem que ir testando”.

2. Suco Verde (Ricardo Bacelar/ Cesar Lemos) – O título veio de um suco que Cesar toma todos os dias de manhã. “Ele só falava nisso. De manhã tem uma receita que ele faz lá e só toma isso. Bota num sei que, raspa não sei que”, lembra Ricardo. Os timbres de teclados e o moog fazem lembrar vinhetas e propagandas de TV nos anos 1980.

3. Nothing will be as it was (Milton Nascimento/ Ronaldo Bastos/ Renee Vincent) – A versão em inglês para Nada Será como Antes é a faixa mais radiofônica do disco. Os vocais de Maye Osorio (EUA) dão um ar soul jazz. “A gente queria uma coisa mais moderninha. Você vê que tem algo pop, um steel guitar (por Steve Hinson (EUA)”.

4. River of Emotions (Ricardo Bacelar) – A cada três faixas, Ricardo quis colocar um “respiro”, uma vinheta de piano solo. Esta primeira sugere uma valsa, tem clima cinematográfico e remete a uma nostalgia. É dedicada à esposa Manoela Queiroz.

5. Menina baiana (Gilberto Gil) – O ritmo original da canção é preservado, mas, no lugar do afoxé, entrou um clima cubano garantido pelo percussionista Yoel del Sol. A bateria bem livre para improvisar é do venezuelano Anderson Quintero. “Não queria um disco que ficasse folclórico. A coisa latina vem pra ornamentar muito sutilmente”.

6. Somewhere in the hills (Tom Jobim/ Vinicius de Moraes/ Ray Gilbert) – Originalmente um samba batizado como O Morro Não tem Vez, a versão em inglês puxa para o lounge e conta com os vocais de Andrea Mangiamarchi (Venezuela). “Tirei o samba e botei rumba, pra fazer essa brincadeira. Tem um lado pop mesmo”.

7. Partido Alto (Flora Purim/ Alex Malheiros/ José Roberto Bertrami) – Lançada pelo grupo brasileiro de jazz Azymuth, a faixa conta com um dueto de piano com o trompete Jose Sibaja (Colômbia). “Ele não foi gravar. Fizemos uns Skype, mandei as partituras, os áudios. Ele gravou primeiro e deixou uns espaços pra eu entrar com o piano”.

8. Parts Of me (Ricardo Bacelar) – A segunda vinheta de Sebastiana lembra uma canção de ninar e é dedicada às filhas do compositor, Sara e Maria. “Tem um VSTI, que é um sampler de orquestra”.

9. Sambadouro (Ivan Lins/ Vitor Martins) – Lançada por Sérgio Mendes no álbum Brasileiro (1992), vencedor do Grammy de Melhor Álbum de World Music. “Está um pouco parecido com o Sérgio Mendes por conta dos vocais (de Rose Max, Brasil). Na minha, procurei fazer mais orgânica com percussão de mão (do cubano Yoel del Sol).

10. Oh Mana Deixa Eu Ir (Heitor Villa-Lobos/ Milton Nascimento/ Teca Calazans) – “Nessa, eu me arrisquei a cantar. Queria fazer essa música, que eu gosto muito. E eu tive a ideia do arranjo cantando. Comecei a cantar e fui pensando nos acordes, mudei a harmonia pra transformar num jazz. Ela é muito pesada, meio sinfônica”.

11. Sebastiana (Rosil Cavalcanti) – “Coloquei um sampler do Jackson (do Pandeiro) na abertura e transformei numa coisa fusion. É outra leitura da música nordestina. A melodia eu quis fazer exatamente igual, porque se não você perde o referencial. Aí entra uma guitarra, meio fusion. O baterista solto, improvisando. O clima ficou bom”.

12. Depois dos Temporais (Ivan Lins/ Vitor Martins) – O arranjo em crescendo faz o clima da música. O destaque fica para o bandoneón de Gabriel Fernandez (Argentina). “É uma mistura de Ivan Lins com tango”.

13. Vento de Maio (Lô Borges/ Márcio Borges) – Versão que mais se aproxima do original, com o piano reproduzindo a melodia. Cesar Lemos canta o refrão num dueto com o flugelhorn de Jose Sibaja. As percussões e o charango são de Jesus “el viejo” Rodriguez (Peru).

14. Sernambetiba, 1992 (Ricardo Bacelar/ Cesar Lemos) – O fox elegante foi batizado com o nome da rua em que os autores moraram em 1992. “É a rua da praia, num condomínio de apart hotel”. Cesar guia a melodia com um vocal bonito.

15. The Best Years (Ricardo Bacelar) – Última vinheta, mais longa e mais nostálgica. “É uma trilha de filme. Tem uns espaços. Tinha uma fala pelo meio, mas não soou bem. Aí eu coloquei o Jackson (do Pandeiro, num sampler) pra fechar o disco”.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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