Foto: Alexandre Moreira

Há 15 anos, a cantora Rita Ribeiro estreou Tecnomacumba, um espetáculo de percussões orgânicas e eletrônicas, que buscava as influências religiosas de matriz africana na música popular brasileira. Com Jorge Benjor, Caetano Veloso, Nei Lopes e outros compositores na mão, ela se mostrou uma artista de forte veia pop capaz de atrair um público fiel para um show quente, dançante e profundo nas intensões. Tecnomacumba criou vida própria e, ainda hoje, segue vivo na agenda da maranhense.

Mas nem só do pop é feita a obra de Rita, que há alguns anos passou a assinar como Rita Benneditto. Sem percussões ou guitarras, ela traz a Fortaleza neste fim de semana o show Suburbano Coração, uma ode aos mais comuns sentimentos humanos. Essa viagem íntima e acústica é acompanhada pelos violões do maestro Jaime Alem, e passa por canções de Sivuca, Antônio Vieira, Chico Buarque, Vinicius de Moraes e outros.

Rita e Jaime se conheceram por volta de 2008, quando montaram o show Três Meninas do Brasil – que contava ainda com Teresa Cristina e Jussara Silveira. “Eu convidei para ele fazer a direção musical. Na época, ele era exclusivo da (Maria) Bethânia, mas eu pedi e ainda lançamos o disco (do projeto) pelo selo dela, o Quitanda. Não teve problema”, conta Rita que já planeja um show intimista desde a época do Tecnomacumba. Ela chegou a montar um trabalho com o violonista João Gaspar, mas reformulou tudo com a chegada de Jaime Alem.

A estrutura e a mensagem de Suburbano Coração até ficaram, mas o repertório foi mudando. “O mote do show é uma metáfora às cordas vocais e do violão. Sentamos, pesquisamos repertório e chegamos a um lugar legal no roteiro. Ele trabalhou muito com a Bethânia e entende muito esse universo das cantoras”, explica Rita exemplificando com algumas canções. É o caso de Hoje, de Taiguara: “que parece mais atual, parece que ela voltou no tempo”. E de Nos tempos dos quintais: “Ela fala bem desse cotidiano que a gente anda meio desconectado”. Ou ainda de Rosa de Hiroshima: “Nós estamos na iminência de uma bomba. De tantas bombas, não só a de Hiroshima”.

Para Alem, o repertório é um terreno fértil para trabalhar sua “orquestra de cordas”. “Como tem algumas coisas da terra, do Maranhão, tem Chico César, tem um campo muito grande de exploração. Por isso eu uso cinco violões, por que o campo musical dela é muito grande. São dois de 12 cordas com afinações diferentes, dois de náilon e uma viola caipira. A gente se diverte muito”, explica o músico paulistano que também tem seu momento solo em Suburbano Coração, com as composições Sonata Agreste e Feliz Com Meu Bem.

“Na primeira vez que fizemos trabalho juntos, percebi que a Rita é uma artista especial. Tecnicamente perfeita, atrevida, com muitas qualidades musicais. Há tempos havia ideia de um trabalho em que ela priorizasse a qualidade lírica da voz. A tessitura da voz dela num estilo que é o oposto do que ela fazia. Era uma sonho que a gente tinha e que se realiza nesse trabalho”, celebra Jaime sobre a parceira de palco. Para Rita, lírica ou pop, tudo vale se for a música em que ela acredita. “Me vejo bem nas duas situações. Eu tenho que primar é pela verdade do meu canto. Tenho uma tendência a ser mais pop. Posso virar numa Pomba Gira, uma Caboca Jurema em Tecnomacumba, ou uma cantora mais cool, mais romântica. Desde que tenha verdade. Acho legal ter essas duas possibilidades”.

Serviço:
Suburbano Coração – Rita Benneditto e Jaime Alem
Quando: de hoje, 29, a sábado, 31, às 20h; e domingo, 1°, 19 horas
Onde: Caixa Cultural (Av. Pessoa Anta, 287 – Praia de Iracema)
Quanto: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)
Telefone: 3453 2770

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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