Fotos: Leo Henriques/Especial O POVO

As relações de Milton Nascimento com a fé divina sempre foram íntimas. Talvez seja pela tradição católica tão intensa das Minas Gerais que o adotaram, ou talvez seja por ele acreditar que o canto é mais que uma carreira profissional e mais um ato de libertação e comunhão coletiva. Independente da razão, a força do canto desse artista brasileiro é capaz e elevar o público e torná-lo mais próximo dos céus.

Essa energia foi sentida no show Semente da Terra, um dos mais aguardados do Festival Vida&Arte. O público esperou entusiasmado a entrada desse carioca de 75 anos. A voz firme (que um dia Elis Regina falou que poderia ser a voz de Deus) ocupou todos os espaços do Palco Rachel de Queiroz com um repertório que falava da nossa miscigenação. Todas as raças estavam representadas no palco, inclusive com Milton louvando a nação Guarani Kaiowá, cujo encontro com ele resultou no show em questão. Foi em 2010, após um show em Campo Grande que os líderes espirituais dessa nação batizaram o compositor de Ana Nheyeyru Ivi Yvy Renhoi, que significa “a semente ancestral que germina na terra” ou “semente da terra”.

E quando se fala em miscigenação no Brasil fala-se também em respeito, tolerância e política. E esse foi o tom da noite, que emendou canções como Maria Maria, Coração Civil, Canção do Sal, Coração de Estudante e Sentinela. Essa última teve o privilégio de apresentar a vocalista Barbara Barcellos, cujos agudos perfeitos arrebataram quem estava presente.

A presença de Milton Nascimento no Festival Vida&Arte se alinhou a um discurso constante e presente nos corredores do Centro de Eventos do Ceará. A de que é preciso respeitar credos, cores e amores. Aqui de forma resumida, essa foi a bandeira levantada por Iza, Elza Soares, Liniker, Arnaldo Antunes e demais presentes no evento – estejam eles no palco ou não. O encerramento de Semente da Terra foi com Nada Será Como Antes e Caxangá. Em seguida, todos podiam se sentir mais próximos e abençoados.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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