Leo Aversa/ Divulgação

Sempre que um grupo de artistas decide se juntar num projeto coletivo tem uma turma que torce o nariz. “É caça níquel”, “vão requentar sucessos”, “a carreira estava parada” são alguns dos argumentos mais comuns dessa turma do contrário. Muitas vezes essa crítica é bem aplicada. Mas não cabe aos Tribalistas. Começa que a banda temporã reúne três nomes que aprenderam a se manter relevantes em diversas áreas da cultura brasileira, e isso já vem há algumas boas décadas.

Arnaldo Antunes, Marisa Monte e Carlinhos Brown se uniram há cerca de 25 anos, criando um núcleo criativo que mistura raças, ritmos, arquétipos e pensamentos. O resultado é uma das parcerias mais duradouras e bem sucedidas da MPB moderna, que agora vira show oficialmente. A primeira turnê dos Tribalistas teve início em 28 de julho (em Salvador) e chega neste sábado, 11, para única apresentação no Centro de Formação Olímpica. Um alerta: a turnê nacional é de apenas 10 shows e três já foram. Depois mais 10 na Europa e pronto. Também não há certeza de virar DVD.

Foto: Daniel Mattar

“Tem uma expectativa muito grande do público e nossa, por que é raro abrir espaço nas nossas agendas. E esse desejo de estar junto no palco sempre existiu. A gente adora trabalhar junto e a grande prova está aí nos discos”, celebra Marisa Monte. “É quase uma realização de sonho. É um desejo muito grande”, completa Arnaldo. Por telefone, eles contam que a parceria foi surgindo de forma despretensiosa e que, apesar do sucesso estrondoso do primeiro disco (2002), a fórmula do “sentir prazer no processo” se manteve no segundo álbum (2017). “O sucesso foi imprevisível (há 15 anos). Vimos que aquelas músicas tinham uma coesão, eram muito representativas e a gente viu que era um trabalho. Esse segundo disco é a mesma espontaneidade”, segue Arnaldo.

A história dos Tribalistas não tem um início muito bem definido. Logo no disco de estreia, Marisa Monte mostrou afinidade com o ex-titã ao gravar Comida. Pouco depois, foi a vez dela participar da estreia solo de Arnaldo. Depois, em 1996, ele apresentou três parcerias com Carlinhos Brown no disco O Silêncio. Nesse mesmo ano, Arnaldo e Brown se fizeram presentes no disco Barulhinho Bom, de Marisa, que rendeu ainda um vídeo em que eles improvisam uma parceria (Tem Batom no Dente). Em 2001, os três aparecem juntos na faixa que dá nome ao disco Paradeiro, de Arnaldo.

Essa brincadeira de estar junto acabou se espalhando e rendendo mais de 50 canções gravadas por eles e outros artistas. “Nós partimos do primeiro álbum, seguimos para o segundo e fomos atrás de outras composições que não estavam nos dois álbuns. E estamos muito felizes. Não esperávamos essa reação do público, que canta o show inteiro”, comemora Carlinhos Brown explicando – sem deixar dúvidas – a razão de tanta afinidade. “É confiança, que é o ponto principal da exposição pessoal. Quando eu convidei a Marisa pra me produzir, por exemplo, é como uma autoprodução. A gente sabe lidar com o outro e atingir o ponto do que o outro quer. Esse encontro fortalece muito e agora é o Arnaldo é que está me devendo uma produção. E eu estou doido que ele produza um livro de coisas que eu tenho escritas”.

E na certeza dessa confiança, eles foram apertando laços que renderam num trio cujo nome eles nem sabem de onde veio. “A gente não sabe direito, são muitas versões”, comenta Arnaldo. “Achamos que essa palavra representava a coletividade, uma sociedade criativa, uma associação através da arte, do amor. Tribalistas pra mim é uma benção. Eu não consigo imaginar minha vida sem encontrar esses meninos”, completa Marisa, que não mede elogios pra provar que essa parceria é também um ato político. “A gente está vivendo um período revolucionário, um momento desafiador e muito difícil de entender. As mudanças são muito nítidas. E a gente não é uma banda do Rio, São Paulo ou Bahia. Somos uma banda brasileira e estamos fazendo nosso oficio com amor. São riqueza diferentes, que se somam, se multiplicam. Dividir um palco é uma contradição matemática lindíssima porque é uma divisão que soma. E uma coisa que eu aprendi com a música: num show, todo mundo canta do seu jeito, uns mais afinados, outros não. Mas quando cantam juntas, todos cantam afinados. Todas as vezes que eu vejo as pessoas cantando juntas, eu tenho fé na humanidade. Acho que isso tem algo de revolucionário, você celebrar o amor, a união, a alegria, a liberdade. Isso precisa ser gritado”. Sem mais.

Os Tribalistas
Quando: sábado, 11, às 21 horas
Onde: CFO (av. Alberto Craveiro – Castelão)
Quanto: R$ 150 (cadeira) e R$ 200 (pista premium). Preços de inteira
Telefone: 3033 1040

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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