Foto: Cícero Oliveira/ Divulgação

Nome que fez uma elogiada passagem pela mais recente temporada do The Voice Brasil, Júlia Dantas aproveitou a boa popularidade conquistada no programa pra realizar o show Recomeçar no último domingo, 30, no Teatro Via Sul. A julgar pela intimidade dos comentários (nem sempre discretos) que vinham da plateia, a cearense que já foi vocalista da Marajazz estava entre muitos amigos e parentes naquela reestreia cearense. Certamente, outros ali também estavam curiosos pra ver “a menina do The Voice”, como não é de se estranhar em se tratando de um dos programas mais populares de música no Brasil.

A banda reuniu alguns dos nomes mais experientes da música local: Netinho de Sá (baixo), Tito Freitas (piano), Adriano Azevedo (bateria), Thiago Rocha (sopros) e Edu Santos (guitarra e violão) deram o suporte ideal para esse reencontro com o Ceará. Com eles, Júlia fez o que pode para não decepcionar o público, sejam conhecidos ou os desconhecidos. E, pra isso, ela repetiu a fórmula de um autêntico show “the voice”.

Com técnica segura e voz bem colocada, Júlia selecionou canções famosas da MPB, uma ou outra autoral e poucas “surpresas”. Tudo parecia perfeito, mas pouco arriscado, o que deixou as quase duas horas de espetáculo com um clima previsível. Todas as canções foram interpretadas como manda o figurino: afinação legal, emoção bem ensaiada e nada que chamasse atenção em especial.

A abertura foi com Palco, de Gilberto Gil, um hino batido em homenagem ao espaço sagrado dos artistas. Em seguida veio Novos baianos (A menina dança) e Marisa Monte (Não vá embora), entre outras. Colega de The Voice, Mariá Pinkusfeld participou em dois momentos: Preciso do teu Sorriso e Espumas ao vento (outra que já ficou batida). Em seguida veio Marcos Lessa, também revelado nacionalmente no The Voice, que dividiu Vitoriosa (Ivan Lins/ Vitor Martins) com Júlia, numa brincadeira implícita sobre quem deveria ter levado o prêmio máximo do programa.

Por falar em programa, o The Voice voltou a ser lembrado em duas canções de Gonzaguinha – Explode Coração e Começaria Tudo Outra vez – e uma de Djavan – Serrado. E ainda teve uma homenagem à técnica de Júlia na TV, Ivete Sangalo, com um “voz e piano” de Se Eu Não te Amasse Tanto Assim. Tudo tal qual você conhece. Diante de tanto lugar comum, os melhores momentos do show Recomeçar foram as canções inéditas, autorais. Pétala Perfeita, cantada duas vezes, é pop na medida certa pra tocar em rádio. O mesmo acontece com Tambor, mais azeitada na percussão que a anterior.

Júlia Dantas em dueto com Maria Pinkusfeld

E a grande surpresa foi Eu Queria Ter Alguém. Ela contou que a música foi feita há muito tempo por ela, em uma das primeiras investidas, ainda adolescente, como compositora. Talvez por esse descompromisso e ingenuidade, a baladinha romântica e adocicada tenha sido suficientemente terna e desarmada. Nada com o esforço que uma competição de cantores exige.

Tecnicamente, o show Recomeçar sofreu com algumas falhas. A luz pecou, deixando a cantora no escuro em muitos momentos. O som deu seus pitis e, um mal comum em muitas apresentações, faltou uma direção que marcasse o intervalo entre as músicas. Enquanto a música estava tocando, as coisas funcionavam. Entre elas, ficava aquele clima de “e agora, é pra fazer o quê?”. Apesar de estar longe de ser uma iniciante, Júlia Dantas está no caminho certo de referências, intensões e emoções. À medida que ela mergulhar nesses elementos e, com mais disposição ao risco, extrair o que deles for mais tocante, muitos outros recomeços hão de vir. E bem melhores.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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