Em 10 de setembro de 1965, os jornais The Hollywood Reporter e Variety traziam o seguinte anúncio: “Maluquice!!! Seleção para músicos e cantores de folk ou rock atuarem no papel de quatro malucos, entre 17 e 21 anos, numa nova série de TV. Procura-se alguém esperto. Tenha coragem. Venha ligado para a entrevista”. Supõe-se que cerca de 400 pessoas compareceram à sede da Raybert Productions, na Sunset Boulevard, Hollywood, para integrar um projeto que já tinha proposta, público alvo, possíveis apoiadores e até um nome definido: The Monkees.

Os selecionados foram David Jones, Micky Dolenz, Peter Tork e Mike Nesmith. Diante daquele estrondoso sucesso do filme A Hard Day’s Night, que apresentou a beatlemania para o mundo e a tornou maior ainda, os produtores Bert Schneider e Bob Rafelson pensaram em um produto que rendesse sucesso em rádios, shows, TVs e discos. O resultado foi melhor que o planejado e os Monkees tornaram-se uma febre naquela década que acabou vendendo mais discos que Beatles e Rolling Stones juntos e rendendo uma série de produtos relacionados à marca que acabou transformando quatro jovens desconhecidos em estrelas milionárias de uma hora para a outra.

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Se o sucesso foi imediato, os conflitos internos também não demoraram a chegar. É isso que conta a biografia Love is Understanding, A Vida e a Obra de Peter Tork e Os Monkees, do jornalista carioca Sergio Farias. Com lançamento amanhã na Livraria Cultura, às 19 horas, o livro narra a história da banda que, ao mesmo tempo em que tornou-se um marco do rock sessentista, foi também alvo de críticas severas que acompanham o quarteto ainda hoje. Apontado pelo autor como “a maior injustiça da história do rock”, essas críticas costumam dizer que os Monkees foram uma banda pré-fabricada e que não teria competência para tocar seus instrumentos.

“Eles não se conformaram com isso. Mas, em vez de tentarem negociar, o Mike vai numa revista muito popular dos EUA e diz ‘nós fomos fake, ninguém toca nos discos’. Ele fala isso pra tentar reverter, mas não foi o que aconteceu. Isso rodou o mundo como um escândalo”, comenta Sergio que não chegou a ouvir os membros da banda na feitura do livro, apesar de muitas tentativas. Ele chegou a assistir o grupo ao vivo, em 2012, e ouviu parentes, produtores e pessoas ligadas à banda. Mas Peter, que é o foco da biografia, nunca respondeu aos seus pedidos. “Acho que ele é uma pessoa refratária a esse tipo de trabalho. Os outros, de certa forma, tiveram problemas, mas tiveram uma certa estabilidade. Com ele não, foi uma montanha russa constante”, comenta citando os problemas com álcool, ostracismo e respeito no meio musical que caíram sobre um músico de formação erudita, que tocava sete instrumentos, mas que ficou famoso pelo papel de bobo que seu personagem pedia na série de TV.

A série The Monkees seguiu de 1966 a 1968, e ainda rendeu um longa metragem (Head, que, no Brasil, ganhou o nome de Os Monkees estão soltos). Para Sergio, apenas no primeiro ano de formação eles viveram em harmonia. Depois disso, foram inúmeros conflitos sobre os rumos que a banda deveria tomar. Ainda assim, com muitos trancos e barrancos, eles mantiveram um culto em torno de si e, com diferentes formações, seguem fazendo shows ainda hoje.

Lançamento de Love is Understanding
Quando: amanhã, 8, às 19 horas
Onde: Livraria Cultura (av. Dom Luís, 1.010 – Aldeota)
Telefone: 4008 0800

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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