Artigo publicado no O POVO de 11 de fevereiro de 1019

Recentemente me deparei com a lista dos 100 melhores discos de 2018, segundo o blog Embrulhador. Para minha surpresa, conheço menos da metade dos apontados naquela seleção assinada pelo jornalista paraibano Ed Félix. E, entre os nomes que conheço, nem todos cheguei a ouvir – uns por não saber que tinham lançado novos trabalhos e outros por falta de interesse.

A lista do embrulhador é vasta e plural como a música brasileira de qualquer época. Passa pelo elogiado de Baco Exu do Blues e pelo sofisticado Duo Gisbranco. Tem ainda os veteraníssimos Erasmo Carlos, Renato Teixeira e Almir Sater, e jovens como Raphael Costa e Gui Hargreaves. Nesse meio, nomes da cena cearense como Dalwton Moura e Rogério Franco (do álbum Futuro e Memória) e Clau Aniz (com sua estreia Filha de Mil Mulheres).

Listas de melhores do ano são sempre polêmicas e, mesmo se feitas com todo o cuidado, são sujeitas a discordâncias e reavaliações. Mas fico feliz de não conhecer boa parte dos citados no ranking. Isso é uma prova de que ainda há muito o que conhecer do que se produz na música popular brasileira. Com a queda do modelo das grandes gravadoras, a produção foi ficando mais plural e, aparentemente, mais democrática.

A produção independente no meio musical não é novidade. O pianista Antônio Adolfo fez isso em 1977 e o grupo vocal Boca Livre vendeu mais de 100 mil cópias da estreia custeada do próprio bolso. A dificuldade, antes e agora, está em fazer o público conhecer e ouvir esses trabalhos. Cada disco jogado numa plataforma de streaming é uma gota em meio a um oceano de informações nem sempre organizadas. A ausência de um projeto gráfico, um formato inovador, uma imagem bonita também tiram do virtual um atrativo do físico.

Ainda assim é bom saber que, enquanto muito dizem que não tem mais nada que preste na música nacional, tem alguém preocupado em tirar uma melodia do violão para colocar (ou não) uma letra. Se essa combinação envolver sensibilidade e outros elementos próprios das obras artísticas, é bem provável que essas canções tenham vida além do Carnaval.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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