Foto: Julia Moraes

Por Teresa Monteiro

Revoada. No sentido simples da palavra: o ator de voar, o coletivo de pássaros, voejada. Para Soledad, no entanto, a expressão ganhou amplitude a partir do momento em que ela mesma decidiu alçar voo para outras terras. “São Paulo engrossa o coro. A vida não é fácil por aqui por diversos fatores, do custo de vida ao preconceito com nordestinos. Mas, ao mesmo tempo, ela é cheia de beleza. A multidão na rua, as cores, todos os filmes, exposições, o ritmo que as coisas acontecem aqui, as manifestações políticas e culturais, isso tudo me atravessa e fortalece. Vivo aqui há quatro anos e vou ficando até sentir o desejo de arribar. Às vezes sinto que ela é uma cidade pra gente passar; isso pode durar um mês ou dez anos”.

Após Soledad, de 2017, a cantora cearense chega às plataformas digitais com Revoada, segundo disco desta vez com produção assinada por Fernando Catatau. “Desejo trabalhar com Fernando desde a minha adolescência, quando ia para os shows do Cidadão Instigado escondida e nem sabia que seria cantora. Antes do processo começar, o chamei para fazer a produção. Sabia que ele conseguiria me compreender e sintetizar a sonoridade e estética que queria expressar. Então se fez presente desde a escolha das canções à escolha do nome e, como a produção foi muito rápida, a coisa foi ganhando forma no decorrer de tudo”, explicou.

O novo disco, lançado no dia 26 de abril por meio do selo Índigo Azul (SP), traz uma cantora com alma mais experimental. “Esse disco fala sobre as muitas idas e vindas que vivi nestes quatro anos de São Paulo e sobre as relações e percepções que construí ao longo de minha vida. O desejo pela compreensão da nossa existência íntima e coletiva, a ressignificação disso. Sobre se libertar das máscaras superficiais e cheias de uma moral machista e retrógrada que a sociedade instituiu às mulheres”, dispara. Revoada reúne oito faixas em que Soledad interpreta nomes de diferentes gerações, de Alzira E a Xico Sá e os pernambucanos Otto, Bactéria e Alessandra Leão.

Do cearense Vítor Colares, a cantora apresenta O Silêncio é o Espaço Vazio Entre as Bocas e, do próprio Catatau, surge Por Amor, faixa que rendeu um videoclipe. “Reuni algumas canções e entrei numa crise porque achei tudo muito paulista. Larguei e recomecei. Então a Hayge Mercúrio teve a ideia de me apresentar à Alzira E para ouvir umas coisas e comer um baião nordestino. Esse encontro foi um disparo que me fez chegar aos autores e às canções que gravei. Fechei 15 músicas, datilografei cada uma delas, cortei verso por verso, embaralhei e remontei para que eu tivesse uma noção de como se comunicariam entre si, se fariam sentindo, se contariam uma história, se caberiam… Daí cheguei às que mandei para Fernando e iniciamos a produção”.

Para a cantora, o novo disco traduz muito ainda a parceria e confiança entre Soledad e Catatau; no trabalho de estreia, o músico participou apenas tocando algumas faixas. “Tem a ver com nós dois e foi um dos motivos de eu convidá-lo para a produção. Fernando me saca bem e é de uma sensibilidade impressionante. Trocamos algumas referências e, no ato de gravar, algumas coisas foram surgindo, desde o uso de equipamentos que não são muito comuns em gravação ao estouro de uma guitarra. Não sei se tem exatamente um tema, mas Revoada conta uma história com prólogo e epílogo”, define.

Por estas bandas, Soledad adianta que estará ainda neste semestre de volta para apresentar, enfim, as faixas de Revoada. “Chego por aí no começo de junho para show de lançamento no Cineteatro São Luiz, depois volto para fazer alguns shows que temos marcado aqui”.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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