Foto: Divulgação

Meados dos anos 1980, época em Eduardo Dussek vivia o auge da popularidade e abusava de muitos dos vícios comuns à fama, sua projeção para os 65 anos de idade não era das melhores. “Achava que ia morrer antes”, afirma sem sombra de dúvidas. Mas também sem dramas, uma vez que, tendo atingido essa idade em 1º de janeiro deste ano, ele segue com muito bom humor. “Eu continuo a mesma coisa. Continuo irreverente, mas mais centrado”, ressalva o músico que se apresenta neste sábado, 7, no Centro Dragão do Mar, dividindo o palco do Anfiteatro com a cearense Nayra Costa.

Dussek traz um formato de show que já se consolidou em sua carreira e combina três elementos que fazem parte da sua trajetória de mais de 40 anos de música: piano, sucessos e piadas. “É o mesmo tipo de show, mas vai evoluindo o repertório. Tem uma parte mais romântica, além daquela parte de gozação. E tem uma coisa engraçada na minha carreira por que os filhos dos meus fãs foram ficando meus fãs também. Então as pessoas pedem coisas de épocas diferentes e isso foi mudando o show”, explica o carioca que combina as próprias composições – Folia no Matagal, Aventura, Seu Tipo, Barrados no baile… – com clássicos alheios da MPB, bossa nova, antes de terminar tudo em Carnaval.

É nesse formato que ele mantém uma agenda de quatro ou cinco shows por mês. Ele conta que até aparecem mais convites, mas nem tudo pode ser levado a sério. “Como o show é muito irreverente, as pessoas acham que eu sou daquela forma. As pessoas acham que por isso eu sou maluco, mas nem beber estou bebendo mais”, comenta o artista que chega a receber algumas propostas absurdas que são “elegantemente recusadas”.

Por irreverência, no caso do Eduardo Dussek, entenda como uma capacidade quase inesgotável de fazer piada com tudo. Da carreira iniciada no teatro, ainda quando tinha 15 anos, ele herdou o talento para passar mais de uma hora em cena, costurando músicas e bobagens. Dessa combinação, inclusive, nasceram alguns grandes sucessos de sua carreira, como Rock da Cachorra, Brega chique (Doméstica), A índia e o traficante, e o épico apocalíptico Nostradamus. “A ideia (do show) é passar que tudo é um improviso, mas quase nada é improviso. Eu gosto de um improviso muito bem ensaiado”, revela voltando a falar em “elegância”.

Sim, por que ele faz piada com tudo, mas entendendo que certos assuntos perderam a graça e devem ser retirados de cena. “Eu uso muito o non sense. Faço questão que tenha uma consistência, nunca uso o politicamente incorreto. Não cabe mais isso. Esses valores caíram muito e havia muito abuso. Nos anos 1970 e 80, se você colocasse uma pessoa com preconceitos variados no palco ela era ridicularizada. Mas com o tempo, esses personagens perderam a graça e as pessoas que têm esses preconceitos tornaram-se quase delinquentes. Houve uma jornada de conquista do respeito que até que enfim aconteceu”, comenta ele que aborda temas que vão de comportamento à política mundial. “É muito dogma pra gente dar conta, dogmas políticos, sociais. Não sou de esquerda, nem direita, nem tampouco em cima do muro. Eu quero uma piada que una a plateia, não que separe”.

E nesse ramo da piada, rende até a descoberta, há cerca de dez anos, de quem tem Mal de Parkinson. Quando o médico avisou que os sintomas eram tremor nas mãos e rigidez, ele se alegrou por que facilitaria a masturbação. Hoje ele não pode mais viajar como antes, tem uma preparação melhor para as apresentações e dançar no palco seria um risco. Além disso, mantém uma agenda de exercícios, Tai Chi Chuan e acupuntura. “Não é um fator de desgraça. É um fator de iluminação de coisas que estavam erradas e precisavam ser corrigidas. Fez eu me tornar uma pessoa muito melhor. Não tem depressão. Eu convivo deixando a doença no lugar dela”.

Se definindo como uma pessoa espiritualizada e hoje bem mais seletivo em escolhas profissionais e pessoais, ele diz que leva tudo a sério, apesar do bom humor. Até as roupas coloridas, como o paletó de lantejoulas que usou no Rock In Rio de 1985 ou a bermuda colorida do primeiro e único DVD (2011), são a “casca daquela fruta que tem o mesmo DNA”. Mas, abaixo dessa casca, tem muita seriedade. “Eu comecei a fazer humor pra fazer uma crítica severa. Você vê os políticos fazendo bobagens o tempo todo, aqui, na Coreia do Norte, EUA, Argentina. São situações muito trágicas que beiram a piada. Essa falsa liberdade da democracia é muito sonsa, por que a gente vive numa ditadura financeira muito grande. Principalmente aqui onde a gente paga muito de imposto pros caras fazerem merda. Eu sou um cara seriíssimo, não tenho culpa se o mundo é uma piada”.

Serviço:
Projeto Duetos – Eduardo Dussek e Nayra Costa
Quando: sábado, 7, às 21 horas
Onde: Anfiteatro do Dragão (rua Dragão do Mar, 81 – Praia de Iracema)
Quanto: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia)
Telefone: (85) 3246 3579

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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