Foto: Rodrigo Carvalho/ Divulgação

Ciribah Soares já perdeu as contas dos anos que tem de carreira. Mais de 30, certamente. Quanto mais? Melhor deixar pra lá. Essa trajetória passa por São Paulo, onde morou cerca de 20 anos, festivais de música, referências boemias de Fortaleza e “Noronha”, apelido de um oásis escondido no meio da Barra do Ceará onde um grupo de músicos se reúne em dias de pouco movimento. Sempre como artista independente, o fortalezense batalhou e conseguiu um espaço para expor suas composições e de alguns gigantes nacionais. Além de ter lançado cinco discos, o mais recente chega este ano na mão do seu público.

O Samba do Grande Amor Vol. 2 chega cinco anos depois do primeiro volume. Antes ainda vieram Acordando o luar (1994), Canto e cantarei (2007) e Ciribah Soares e Tarcísio Sardinha Ao Vivo (2003), trabalho de estreia que ele não inclui na discografia oficial por conter apenas canções alheias. No novo álbum, a veia compositora se faz presente em oito das 14 faixas. Todas com o acompanhamento luxuoso de Hoto Jr. (percussão), Tito Freitas (piano), Adriano Azevedo (bateria) e outros. O lançamento acontece nesse domingo, 15, às 19 horas, no Cantinho do Frango.

A ideia inicial é que o disco se chamaria “O Filho” e não seria outro de samba, embora esta já tenha se tornado uma referência em seu trabalho. Mas o sucesso de vendas do primeiro volume o incentivou a dar continuidade. “Por incrível que pareça, esse disco teve cinco tiragens de mil cópias. Canto e Cantarei foi três mil. Parece pouco, mas para um disco independente, aqui em Fortaleza, não é. Isso me deu possibilidade de fazer mais”, confirma o músico que levou cerca de dois anos até concluir o trabalho.

Entre dificuldades de financiamento, o resultado de O Samba Do Grande Amor Vol. 2 é um disco pautado em muitas histórias pessoais, homenagens e reencontros. Um deles com Zeca Baleiro, que Ciribah conheceu na época em que morava em São Paulo, ambos ainda batalhando um espaço na música. “Eu dividia apartamento com um percussionista maranhense e ele (Zeca) era amigo desse percussionista, o Manuel Pacífico. A gente chegou a tocar no mesmo bar. Eu tocava na sexta-feira e o Zeca tocava no sábado. A gente era cabeludo, magro, com uma bolsa a tiracolo, um violão embaixo do braço e com os sonhos”, relembra o cearense que divide Sapato Sem Meia com o velho amigo.

Outro convidado do álbum é Marcos Lessa, que comparece em Cá Pra Nós, parceria com o mineiro Paulinho Pedra Azul. “Eu tinha feito algumas músicas instrumentais e o Paulinho, quando veio aqui, meu irmão mostrou algumas delas. Ele levou pra Minas e, dois dias depois, ligou pra mim: ‘cara, fiz duas letras pra ti’. E eu chamei o grande Tito Freitas pra fazer um arranjo maravilhoso”, relembra Ciribah que junta os próprios sambas com alguns clássicos do gênero. Depois de tentar no primeiro volume, ele conseguiu a autorização e gravou Samba do Grande Amor, clássico de Chico Buarque. Por falar em clássico, tem o samba-enredo Aquarela Brasileira, de Silas de Oliveira, e O que é Que eu Faço, do repertório doído de Dolores Duran. Tem ainda versões de Zeca Pagodinho (Lama das Ruas) e Benito di Paula (Osso Duro de Roer).

Mas, se as releituras ajudam na aproximação com o público e a traçar um percurso de influências, é mesmo na porção autoral que se encontra a parte mais preciosa de O Samba do Grande Amor Vol.2. É nesse departamento que Ciribah inclui homenagem aos irmãos (Coração atento), parceria com “o melhor Chico Buarque do Ceará”, como ele chama Dedé Nunes (Desde Menino), e uma composição que ficou um bom tempo esperando para ganhar letra. Coube a Marcus Dias arrematar O Samba da Hora.

Mesmo com todo o esmero, O Samba do Grande Amor Vol.2 sofreu com todos os problemas comuns dos trabalhos independentes – na questão financiamento, este volume foi mais sofrido que o anterior. Mas Ciribah seguiu gravando às próprias custas enquanto se revezava entre os muitos bares de Fortaleza onde canta com agenda fixa ou esporadicamente. “Infelizmente, estão diminuindo os bares para o tipo de música que eu faço. Mas eu sempre toquei mais do que compus. Tanto que eu tenho 30 anos de carreira e só quatro discos. Não é por uma questão de composição. Já tenho outro disco praticamente pronto, mas não é de samba. Eu quero dar uma parada (no samba) por que também ficou esse negócio de ser sambista. Não me incomoda, é que eu tenho outros trabalhos e os amigos me cobram. São canções, boleros, bossas… Eu sou muito bossa”.

Lançamento de O samba do Grande Amor
Quando: domingo, 15, às 19 horas
Onde: Cantinho do Frango (Rua Torres Câmara, 71 – Aldeota)
Quanto: R$ 25 (couvert, com direito a um disco de Ciribah)
Outras informações: 3224 6112

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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