Você leva seus filhos, sobrinhos ou netos ao supermercado? Qual a reação deles e a sua, caso os pequenos olhinhos deles se deslumbrem por algum produto da prateleira? Vi uma cena curiosa hoje: uma mãe aflita empurrando seu carrinho de compras e duas crianças aos berros no supermercado porque não ganharam uma bebida colorida e “mágica”. O grito das crianças se ouvia de longe… e os da mãe também! Na hora quis logo saber os motivos! (até pra ver se os gritos diminuíam). Minha primeira ação foi ir verificar o que de tão especial tinha aquela bebida para merecer tantas lágrimas e sofrimentos das crianças e da mãe.

Era uma garrafa lindaaaa, de um achocolatado. O herói era forte e robusto e, ainda dizia que os poderes mágicos estavam todos dentro da garrafinha. Nossa! Foi difícil eu mesma resistir. E olha que sou uma jovem de vinte e poucos anos, teoricamente informada e com um bom senso crítico. Mas em solidariedade aquelas crianças, resisti!Também não comprei! Embora adore chocolate e tenha adorado a embalagem!

Cheguei aqui no jornal e fiquei pensando que o comportamento daquelas crianças é repetido por milhões de outras crianças no Brasil todos os dias. Isso faz com que, somadas as vendas de brinquedos e alimentos, o mercado infantil brasileiro movimente US$ 50 bilhões por ano, cerca de 5% do Produto Interno Bruto (PIB) do País, de acordo com estudo desenvolvido pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP) em 2002.

Desde o ano passado, 11 companhias de alimentos e bebidas, que representam dois terços da publicidade dos segmentos na União Europeia firmaram acordo para mudar a forma de se dirigir às crianças com menos de 12 anos. Fazem parte desse compromisso Burger King, Coca-Cola, Danone, Ferrero, General Mills, Kellogg’s, Kraft, Mars, Nestlé, Pepsico e Unilever.

Desde janeiro deste ano, a diretriz da comunicação é voltada aos pais e deve incentivar estilo de vida e alimentação saudáveis.

Será que isso está sendo realmente cumprido? O que aquelas crianças pensaram quando viram aquele super herói lindo, forte e colorido e ainda com tantos poderes mágicos? Tudo guardadinho naquela garrafa?

Se fosse você, o que faria? O que diria para suas crianças? Por que o apelo desses produtos é tão grande? Como educar para o consumo? É possível? Qual o papel da escola nesse contexto?

Muitas perguntas! Quantas respostas?

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About the Author

Valeska Andrade

Formada em História pela Universidade Federal do Ceará e em Pedagogia pela Universidade Estadual do Ceará. Especialista em Cultura Brasileira e Arte Educação. Coordenou o Programa O POVO na Educação até agosto de 2010. Pesquisadora e orientadora do POVO na Educação de 2003 a 2010, desenvolveu, entre outras atividades, a leitura crítica e a educomunicação nas salas de aula, utilizando o jornal como principal ferramenta pedagógica. Atualmente, é professora de história da rede estadual de ensino. Pesquisadora do Maracatu Cearense e das práticas educacionais inovadoras. Sempre curiosa!!!

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