A primeira geração de bebês infectados pelo HIV por transmissão vertical (de mãe para filho) nos anos 80 chegou à juventude. Quase todos passaram a infância enfrentando doenças oportunistas e tiveram de se acostumar com termos técnicos como carga viral, linfócitos CD4 ou genotipagem. Mas, apesar dos problemas como enfrentar o preconceito e conviver com internações constantes, eles dizem que se fortaleceram com as dificuldades e hoje encaram a Aids como uma doença crônica, que exige cuidados, mas que não os impede de aproveitar a vida e fazer planos.

A assistente social Luciana Basile notou essa característica ao ouvir alguns desses jovens para seu mestrado, defendido em março, na Pontifícia Universidade do Rio Grande do Sul (PUC-RS). “Eles não pensam muito na morte nem têm a autoestima abalada. A expectativa de vida é grande”, destaca.

filhosSegundo o sanitarista do Departamento de DST e Aids do Ministério da Saúde, Marcelo de Freitas, a infecção do HIV em crianças é mais agressiva. Porém, com o advento de novas drogas, elas tiveram a vida prolongada.

A partir de 1996, foi implantada no País a política de profilaxia da transmissão vertical, que inclui oferecer antirretrovirais (remédios que impedem a multiplicação do vírus) para a gestante e o bebê. A chance de contaminação, que era de 25%, hoje é de 1% ou menos. Para Freitas, a Aids tem padrão de doença crônica, mas só quando há boa adesão ao tratamento.

Sidnei Pimentel, infectologista do Centro Estadual de Referência e Treinamento em DST/Aids de São Paulo, diz que alguns deles ficam desmotivados para seguirem adiante com o tratamento, por tomarem medicamento desde novos e não apresentarem sintomas. À medida que essas crianças crescem, surgem novas questões a serem enfrentadas, como a transição entre o setor pediátrico e o de adultos no hospital.

No centro, foi criado há um ano um ambulatório de transição, que prepara o jovem para a mudança de setor. “Na pediatria, eles são mais protegidos. O setor de adultos tem mais pacientes, pode ser chocante mudar”, afirma Pimentel. Conforme dados do Ministério da Saúde, casos de transmissão vertical de Aids foram registrados no Brasil de 1980 a junho de 2008.

Fonte: Folha de S. Paulo (SP), Flávia Mantovani

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Valeska Andrade

Formada em História pela Universidade Federal do Ceará e em Pedagogia pela Universidade Estadual do Ceará. Especialista em Cultura Brasileira e Arte Educação. Coordenou o Programa O POVO na Educação até agosto de 2010. Pesquisadora e orientadora do POVO na Educação de 2003 a 2010, desenvolveu, entre outras atividades, a leitura crítica e a educomunicação nas salas de aula, utilizando o jornal como principal ferramenta pedagógica. Atualmente, é professora de história da rede estadual de ensino. Pesquisadora do Maracatu Cearense e das práticas educacionais inovadoras. Sempre curiosa!!!

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