Quatro milhões e meio dos 5 milhões de jovens brasileiros que vão tentar garantir uma vaga na universidade neste ano vivem as angústias típicas de um momento decisivo, e mais uma: eles compõem o primeiro grupo de estudantes que fará o novo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), prova recém-criada pelo Ministério da Educação (MEC) com o objetivo de substituir o velho vestibular.

A mudança estreia em 23 das 55 universidades federais do país e em mais 500 faculdades particulares. Outras 500 instituições também vão adotar o Enem, mas apenas como parte de seu processo seletivo. A expectativa do MEC é que, até 2012, todas as federais abandonem seu concurso.

Desde 1911, quando surgiu o primeiro vestibular no Brasil, não se via uma transformação tão radical, e ela é um avanço em pelo menos dois aspectos. O primeiro diz respeito ao conteúdo da prova. Enquanto o velho vestibular exige do aluno a memorização de uma quantidade colossal de fórmulas, datas e nomes, o novo exame procura aferir, basicamente, a capacidade de raciocínio em questões que combinam as várias áreas do conhecimento e traduzem a vida real. O outro se refere à implantação do sistema unificado de prova. O exame será o mesmo em todas as faculdades em que for adotado. Isso significa que, com uma única nota, o aluno terá agora em mãos um passaporte de entrada para centenas de universidades em todo o país.

Mais complexa e abrangente do que o extinto Enem, criado pelo MEC em 1998, a nova prova foi concebida sob a inspiração do Scholastic Assessment Test (SAT), o exame de admissão às universidades americanas, e do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), teste internacional que afere a qualidade do ensino.

As iniciativas são consideradas as mais evoluídas no mundo das avaliações atualmente. Para o coordenador do Pisa, Andreas Schleicher, com tanta informação disponível na internet, não faz mais sentido querer medir quanto conhecimento o jovem armazenou na escola, mas, sim, como ele é capaz de processar essas informações para chegar à solução de problemas concretos. S

Sob esse prisma, tirando algumas boas exceções, o vestibular se tornou uma prova anacrônica, que, com o tempo, foi deixando de espelhar as reais demandas da própria sociedade. O que se espera dos jovens hoje, afinal, é que se tornem profissionais com elevado grau de raciocínio e inventividade para lidar com um crescente número de situações inesperadas.

A maioria das escolas de nível médio, inteiramente voltadas para treinar os jovens para o vestibular, acaba valorizando o excesso de “decoreba” e de conteúdo em detrimento de um mergulho mais aprofundado nos assuntos. Espera-se que a prova do MEC influencie positivamente o ensino médio do país. Para a doutora em educação Maria Inês Fini, os alunos absorvem poucos dos conceitos essenciais na escola. “É preciso repensar com urgência esse sistema”, diz.

Repaginar um modelo de ensino não é exatamente um processo rápido, mas o Enem já começou a dar um empurrão nas escolas nessa direção. A prova do Enem ocorrerá nos dias 3 e 4 de outubro.

Fonte: Revista Veja

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Valeska Andrade

Formada em História pela Universidade Federal do Ceará e em Pedagogia pela Universidade Estadual do Ceará. Especialista em Cultura Brasileira e Arte Educação. Coordenou o Programa O POVO na Educação até agosto de 2010. Pesquisadora e orientadora do POVO na Educação de 2003 a 2010, desenvolveu, entre outras atividades, a leitura crítica e a educomunicação nas salas de aula, utilizando o jornal como principal ferramenta pedagógica. Atualmente, é professora de história da rede estadual de ensino. Pesquisadora do Maracatu Cearense e das práticas educacionais inovadoras. Sempre curiosa!!!

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