No último domingo estava assistindo ao desfecho do caso dos jovens assassinados em Luziânia, Goiás. Notícia mais triste essa. Triste pelas vidas ceifadas, pelas famílias destruídas e pela incompetência do poder público para solucionar a situação.

Tanta incompetência que levou o reu confesso a supostamente cometer o suicídio, fazendo com que seja mais um caso não esclarecido pelas autoridades brasileiras. Pior foi ver que a polícia local não levou a sério as denúncias de desaparecimento, registarndo as ocorrências e abrindo o inquérito somente um mês depois do primeiro desaparecimento. Nesse intervalo, duas outras vítimas já haviam desaparecido.

O Índice de Homicídios na Adolescência, desenvolvido pelo Programa de Redução da Violência Letal contra Adolescência e Jovens, coordenado pelo Observatório de Favelas, aponta um percentual muito alto no número de mortes nessa faixa etária, entre meninos e meninas de 12 a 18 anos.

De acordo com a pesquisa, os homicídios representam 46% de todas as causas de morte nessa faixa etária.

A pesquisa aponta, também, que os fatores determinantes para que os jovens se tornem vítimas da violência são raça, gênero, idade e território, e conclui que meninos entre 12 e 18 anos têm quase 12 vezes mais probabilidade de serem assassinados do que as meninas dessa mesma faixa.

violencia-infantilJá os adolescentes negros têm quase três vezes mais chances de morrerem assassinados do que os brancos. As desigualdades são tamanhas ainda no Brasil que um tipo de dado como esse parece ser do século passado.

Enquanto não investirmos em educação de qualidade e garantir empregos, continuaremos com esses dados e sem solução.

Não consigo esquecer o depoimento de uma das mães que teve seu filho brutalmente assassinado dizer que implorou, gritou, fez de tudo para que o delegado e os inspetores acreditasseem que seu filho não tinha ido para a casa de  um dos amigos, ou que tinha fugido por conta de uma briga familiar.

Ela disse que a única coisa que os policias diziam era: tem que esperar mais um pouco. Ele ainda pode aparecer. Não temos como abrir um inquérito agora. Precisamos de investigadores.

Somente depois do quarto desaparecimento na mesma região e com as mesmas características, é que começaram a investigar. E olha que os corpos foram encontrados cerca de dois quilômetros das casas onde os jovens moravam.

A mãe dizia que seu filho estava terminando o ensino médio e que, para ajudar no sustento da família, fazia pequenos trabalhos como entregar mercadorias do mercantil, retelhava casas, capinar terrenos, lavar carros ou outros serviços.

E foi justamente com uma oferta como essa que o pedófilo atraiu a maioria das vítimas: oferecendo emprego temporário, um “bico”. É um absurdo, mas acontece todos os dias.

Nem vou comentar o fato de ele ter sido preso dois anos antes por atentado ao pudor e tentativa de estupro. Foi posto em liberdade por bom comportamento…

Enquanto isso, a violência entre os jovens cresce a cada dia.  Quanto mais precisaremos perder?

Fonte: O Mossoroense (RN)

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Valeska Andrade

Formada em História pela Universidade Federal do Ceará e em Pedagogia pela Universidade Estadual do Ceará. Especialista em Cultura Brasileira e Arte Educação. Coordenou o Programa O POVO na Educação até agosto de 2010. Pesquisadora e orientadora do POVO na Educação de 2003 a 2010, desenvolveu, entre outras atividades, a leitura crítica e a educomunicação nas salas de aula, utilizando o jornal como principal ferramenta pedagógica. Atualmente, é professora de história da rede estadual de ensino. Pesquisadora do Maracatu Cearense e das práticas educacionais inovadoras. Sempre curiosa!!!

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