Natação para sobrevivência, futebol para os meninos e balé para as meninas. Na busca por estimular a prática de uma atividade física já na infância, muitas famílias se atêm a questões práticas que mesclam a combinação entre utilidade e exercício ou optam pelo que tradicionalmente é atribuído como preferência de cada gênero. No entanto, para mudar o cenário em que 45,9% das pessoas entre 14 e 75 anos são sedentárias no Brasil, é preciso muito mais do que exemplo e matricular uma criança em uma academia.

A motivação é fundamental. Para isso, vale tentar modalidades não tão convencionais e observar o interesse de cada criança. Para um número cada vez mais crescente delas, as aulas de circo têm se mostrado uma alternativa certeira. Que o diga a servidora pública Elza Fátima Rezende Herrerias. Ela conta que a filha Rafaela, de 10 anos, não dava continuidade a nenhuma atividade física. A garotinha tentou natação, dança e vôlei e, segundo a mãe, “sempre desanimava logo no início e inventava uma série de motivos para não ir”. Foi durante uma conversa de Elza com a própria terapeuta que ela recebeu a indicação da especialista para tentar com a filha a aula de circo. Matriculada desde julho deste ano, Rafaela aparenta motivação, afinidade com o trapézio e interesse pelo universo da aula. Diante de qualquer dificuldade, pede auxílio ao professor e se esforça para executar a atividade corretamente.

Para Elza, a filha se sente estimulada pelos desafios de cada exercício. Professor de iniciação de técnicas circenses para crianças e adolescentes, Rodrigo Ferrari é quem dá aula para Rafaela e sua turma no Studio A. Segundo ele, o circo para crianças age em várias instâncias da vida de meninos e meninas: desde os benefícios físicos e mentais, além do desenvolvimento da coordenação motora e equilíbrio, até sentimentos como confiança em si mesmas. “Quando a criança vê uma apresentação circense, ela não se vê capaz de conseguir fazer igual. Com as aulas, elas vão compreendendo as inúmeras possibilidades físicas do corpo. Conseguir ficar de ponta à cabeça – mesmo que seja simples para alguns – é uma superação para quem não se imagina capaz daquilo”, explica. As aulas de circo para crianças geralmente adotam o sistema de circuito para que cada aluno ou aluna possa ter contato com o universo do circo e experimentar as possibilidades do próprio corpo para conquistar a consciência corporal. As acrobacias, por exemplo, trabalham alongamento, flexibilidade e força. “A criança descobre também o que é capaz de fazer com o corpo do outro e o que o corpo pode fazer sozinho”, diz Rodrigo Ferrari.

Para o professor, como o universo do circo está muito relacionado ao lúdico, à brincadeira e à diversão, é mais fácil para as crianças se envolverem nas atividades propostas. “No entanto, tem-se um treinamento físico difícil por trás de todo esse imaginário. É possível se divertir treinando, mas temos também o lado sério da educação corporal. O corpo da criança precisa estar preparado para fazer tudo aquilo que ela acha bonito de ver num espetáculo circense”, salienta. Há seis anos dando aulas de circo para crianças Rodrigo Ferrari coleciona alguns relatos de famílias que demonstram como o circo interfere positivamente em outros âmbitos da vida de quem o pratica. “Um exemplo bom são as aulas de educação física da escola. A criança que faz circo se sente mais segura para a prática de um esporte coletivo ou outra atividade física proposta e também se torna mais apta a interagir nas brincadeiras e com o outro”, explica.

A história de Laura, de 7, é um exemplo que ilustra bem a fala do professor. A pedagoga Kelly Cristina Mamine dos Bernardon é mãe da garotinha e também de Juliano, de 12. Ela conta que uma fisioterapeuta indicou a aula de circo para a caçula, que tropeçava e caía muito. “A fisioterapeuta indicou o circo porque conhecia a aula e falou que era dinâmica e lúdica. A Laura fazia balé, mas reclamava.” Além disso, aos olhos da mãe, Laura parecia muito tímida e tinha certa dificuldade para se entrosar. “Quando levei minha filha para fazer uma aula experimental, ela se apaixonou. A Laura tem loucura com o circo.” A pedagoga diz que, além do salto no desenvolvimento motor, as aulas de circo ajudaram a menina a se soltar, a se comunicar melhor e a interagir não importa o ambiente. “Quando tinha aula de educação física na escola, minha filha costumava voltar ralada. Ia brincar, caía. E também tropeçava demais e torcia o pé com certa frequência. Depois que ela entrou no circo, tudo isso acabou”, reforça.

Para Kelly, os ganhos para outros aspectos da vida da Laura também são muito nítidos. “Ela é uma menina confiante e segura. Antes, quando a gente ia a alguma festinha ela reclamava que não conhecia ninguém e ficava sentadinha, emburrada num canto. Hoje, ela se comunica com a maior facilidade e não preciso intermediar nada. A autoestima melhorou muito”, salienta.

Fonte: www.correioweb.com.br

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Valeska Andrade

Formada em História pela Universidade Federal do Ceará e em Pedagogia pela Universidade Estadual do Ceará. Especialista em Cultura Brasileira e Arte Educação. Coordenou o Programa O POVO na Educação até agosto de 2010. Pesquisadora e orientadora do POVO na Educação de 2003 a 2010, desenvolveu, entre outras atividades, a leitura crítica e a educomunicação nas salas de aula, utilizando o jornal como principal ferramenta pedagógica. Atualmente, é professora de história da rede estadual de ensino. Pesquisadora do Maracatu Cearense e das práticas educacionais inovadoras. Sempre curiosa!!!

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