Na elaboração de projeto pedagógico do qual todos os alunos pudessem participar ativamente, surgiu a ideia de montar um grande tabuleiro de xadrez no pátio da escola (foto: arquivo da EE Mário Gomes de Barros)

Apaixonado pelo jogo de xadrez, o professor Adriano José da Silva Nascimento idealizou um projeto para estimular a prática da atividade na Escola Estadual Mário Gomes de Barros, no município alagoano de Joaquim Gomes, a 60 quilômetros de Maceió. Seu interesse pelo jogo começou quando ainda era aluno do ensino médio na mesma escola. “Participei de torneio interno e me encantei com o xadrez, que além de jogo é arte e ciência”, revela.

Praticado na escola desde 2005, limitado, então, às aulas de educação física, o xadrez passou a ser adotado nas diversas disciplinas do ensino médio a partir de 2015. Naquele ano, Adriano criou o projeto O Xadrez e as Diversas Disciplinas, com a coordenadora pedagógica Fátima Maria Rodrigues Pereira, hoje diretora da instituição. Seu propósito foi estimular a criatividade, participação e melhoria do desempenho dos estudantes nas diversas disciplinas do ensino médio.

Assim, nas aulas de história, por exemplo, os estudantes adquirem conhecimentos sobre a origem e a evolução do jogo. Nas aulas de química, disciplina lecionada por Adriano, a abordagem passa pelos materiais e processos envolvidos na confecção das peças e tabuleiros. “O interesse e a participação dos alunos ficaram acima do esperado, o que nos deixou muito animados e encorajados”, destaca o professor. Ele diz que procurou fazer um projeto que chamasse a atenção e “rompesse com a mesmice”, do qual todos os alunos pudessem participar ativamente. “Daí surgiu a ideia de montar um xadrez gigante no pátio do colégio, acessível aos alunos nas horas vagas e intervalos”, diz. Segundo o professor, o aluno conhecedor do jogo o ensina aos demais.

As peças do jogo foram confeccionadas pelos estudantes, em papel-machê, com materiais recicláveis e cola biodegradável, a partir de moldes feitos pelo professor. “Criei o desenho com o modelo das peças, juntei latas de leite e garrafas plásticas e fiz o esqueleto das peças”, afirma. “Esqueleto pronto, fiz o preenchimento com papeis velhos, amassados, moldando e fixando com fita adesiva.”

O passo seguinte foi a colagem de tiras de papel em torno da peça, até a obtenção de uma camada rígida, em formato compatível com o projeto. Depois de secas, as peças foram envelopadas. Um detalhe foi a cola usada por Adriano, que ele chama de biocola, feita com maisena (amido de milho), vinagre e água.

A última etapa do processo foi a cópia das peças-molde, feita pelos alunos com o método da papietagem (técnica artesanal, que usa papel, cola e um molde). Para isso, os estudantes também usaram a biocola.

Segundo Adriano, o projeto resultou na melhoria da disciplina, do empenho dos alunos nas aulas e da relação professor-aluno, além da socialização entre as classes. Outra melhoria, segundo ele, ocorreu no relacionamento entre os alunos oriundos de fazendas e sítios e os da cidade. “Com o xadrez, o aluno deixa de ser tímido, retraído, e passa a se relacionar de maneira produtiva, com o mesmo nível de competitividade e interação”, avalia.

De acordo com Adriano, a participação e o interesse dos estudantes foram tão satisfatórios que resolveram criar um clube de xadrez na escola. Dessa forma, podem dar continuidade ao ensino e à prática do jogo, com possibilidade de participação em torneios internos e externos.

Adriano acredita que todo estudante deveria ter a oportunidade de entrar em contato com o xadrez. “Justifico isso baseado em experiência pessoal, nos resultados que obtivemos com o projeto e nas diversas pesquisas e estudos já realizados acerca do uso do xadrez como atividade pedagógico-esportiva extraclasse”, enfatiza.

Na visão do professor, o xadrez permite o desenvolvimento da atenção, concentração, planejamento, responsabilidade, respeito e criatividade, entre outros pontos, o que contribui para aumentar a confiança e a autoestima dos alunos. “A forma como se pensa nas melhores jogadas ou consequências destas implica melhores tomadas de decisões na vida, respeitando valores, regras e, principalmente, o respeito mútuo”, destaca. “O jogo começa com um aperto de mãos e termina da mesma forma, evidenciando que não há maior ou menor, e enfatizando que vitória ou derrota nada mais é que aprendizado.”

De acordo com a diretora da unidade de ensino, o maior benefício do xadrez é a concentração do aluno. “Mas valorizo muito a questão de que, apesar de ser um jogo, e todo jogo ser competitivo, não há nenhuma briga ou exaltação durante as partidas.”

Fonte e texto: Fátima Schenini/ publicado no portal do MEC

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About the Author

Valeska Andrade

Formada em História pela Universidade Federal do Ceará e em Pedagogia pela Universidade Estadual do Ceará. Especialista em Cultura Brasileira e Arte Educação. Coordenou o Programa O POVO na Educação até agosto de 2010. Pesquisadora e orientadora do POVO na Educação de 2003 a 2010, desenvolveu, entre outras atividades, a leitura crítica e a educomunicação nas salas de aula, utilizando o jornal como principal ferramenta pedagógica. Atualmente, é professora de história da rede estadual de ensino. Pesquisadora do Maracatu Cearense e das práticas educacionais inovadoras. Sempre curiosa!!!

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