Comemora-se hoje o Dia Internacional do Consumidor. Em meio a direitos essenciais ainda tão desrespeitados, como o direito à segurança, à informação, à escolha e mesmo de ser ouvido, uma das grandes preocupações atuais está na educação das crianças para o consumo.

Segundo dados do Instituto Alana, pelo projeto Criança e Consumo, o impacto das mídias de massa sobre as crianças, estimulando o consumismo desenfreado, gera uma série de problemas como obesidade infantil, erotização precoce, consumo precoce de tabaco e álcool, estresse familiar, banalização da agressividade e da violência. Pesquisa do InterScience, de 2003, constatou que as crianças brasileiras influenciam 80% das decisões de compra de uma família, o que aumenta a responsabilidade de educar as crianças para o consumo mais consciente; uma responsabilidade não apenas dos pais, mas do Estado e de toda a sociedade, incluindo empresas, organizações e educadores.

Img: Instituto Alana

Alinhado á campanha global da Consumers International para o Dia do Consumidor, cujo tema é ‘Building a Digital World Consumers can Trust’ (‘Construindo um mundo digital em que os consumidores confiam’), o Criança e Consumo elaborou cinco dicas bem interessantes para ajudar mães, pais e responsáveis a lidar com esses perigos online (ver abaixo).

Youtubers mirins
A coordenadora do projeto Criança e Consumo, do Instituto Alana, Ekaterine Karageorgiadias, conversou com o Blog Educação sobre a campanha deste ano, para o dia do Consumidor. Segundo Ekaterine, a preocupação principal está voltada para os Youtubers Mirins. “Nossa atenção é para a superexposição dessas crianças. Cada vez mais cedo, as crianças se transformam em garotas propagandas, elas recebem produtos de empresas e os exibem nos vídeos, influenciando outras crianças. Recebemos muitas denúncias de crianças sendo usadas como estratégias de marketing”, destaca.

A coordenadora enfatiza que o grande questionamento não é a proibição absoluta de se fzer vídeos para postar na rede, mas é preciso que haja maior vigilância e acompanhamento dos pais para riscos que são ainda ignorados. “Há crianças que enviam nos comentários dos vídeos endereços, informações familiares confidenciais, como dados da conta dos pais para comprar o que a criança do vídeo, que ela vê como amiga, está anunciando”, alerta Ekaterine. A pesquisadora acrescenta que este é apenas um dos riscos, sem falar na violação de direitos da própria infância, absorvido pela pressão das empresas anunciantes. “A criança Youtuber, de repente, pode se ver tendo que cumprir rotinas de trabalhos, com obrigações de postagens, relegando a infância a um caráter mais comercial”, alerta Ekaterine.

Em comparação aos cuidados que temos com nossos meninos e meninas fora da rede, Ekaterine aconselha. “A internet é um ambiente importante e não podemos negá-lo às crianças, mas da mesma forma que não as deixamos andar sozinhas nas ruas da cidade, não podemos deixá-las andando sozinhas na internet”.

Abaixo, seguem as dicas do Projeto Criança e Consumo para reflexão neste Dia Internacional do Consumidor:

1. Mediação do uso da internet
Estar presente e orientar a navegação na web ajuda a garantir que a criança navegue em sites seguros. Sugerir um limite de tempo para o uso da internet, deixar os computadores em espaços de uso coletivo e evitar o uso de dispositivos móveis sem acompanhamento, são algumas dicas. Vale lembrar que a Academia Americana de Pediatria sugere que crianças com menos de dezoito meses não sejam expostas a qualquer tipo de estímulo tecnológico.

2. Saiba como as crianças usam a internet
Procure conhecer os jogos e aplicativos que as crianças usam, saber que informações elas fornecem para acessar ou jogar determinado conteúdo, e que tipos de prêmios estão ganhando. Se o jogo não for adequado, sugira outro. Instalar um bloqueador de publicidade ou utilizar o modo de navegação anônima em sites como o YouTube ou em jogos, também previne que empresas monitorem as atividades das crianças e evita que coletem informações sobre elas ou anunciem produtos nos sites visitados.

3. Explique a importância de não fornecer dados
Converse com as crianças sobre a importância de sua privacidade. É possível ir além do ‘não fale com estranhos’ e explicar que não é seguro falar ou compartilhar informações com outras pessoas, pois, ao fornecer informações para jogar, participar de uma promoção, baixar um aplicativo ou responder a um teste online, elas podem entregar dados pessoais valiosos para essas empresas, e revelar informações importantes sobre elas e suas famílias.

4. Canais de youtubers mirins e redes sociais
Os canais dos youtubers mirins são muito populares entre as crianças. Aproveitando-se da audiência, empresas enviam ‘presentes’ aos administradores dos canais para que sejam apresentados em seus vídeos. As marcas também estão nas redes sociais e, muitas vezes, seus perfis estão repletos de vídeos, imagens, passatempos e posts direcionados ao público infantil. O responsável deve ficar atento a esses conteúdos e, no caso de uma publicidade, pode questionar as intenções da empresa e, dependendo da idade da criança, conversar com ela a respeito, contribuindo para a construção de uma visão crítica.

5. Legislação
Durante o tempo que passam na internet, as crianças estão expostas a possíveis violações, como a publicidade dirigida ao público infantil. Diante desse cenário e da importância de atualizar a legislação vigente, que considera a publicidade infantil ilegal, é importante que mães, pais e responsáveis saibam que tramita na Câmara dos Deputados, desde maio de 2015, o Projeto de Lei 1746/2015, que acrescenta um capítulo ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) sobre a garantia do direito de proteção dos dados das crianças e dos adolescentes na internet. O PL reconhece a abusividade da publicidade voltada para o público infantil e da coleta de informações não autorizadas para fins mercadológicos.

About the Author

Sara Rebeca

Jornalista e professora. Coordenadora pedagógica do Programa O POVO Educação.

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