Já é consenso que tanto a genética dos progenitores quanto a escolha dos alimentos que compõem o cardápio do lar são dois fatores que influenciam o peso da criança ao longo da vida. No entanto, outro agente também pode estar relacionado a isso. É o que sustenta uma nova pesquisa da Universidade de Liverpool (Reino Unido) e da Universidade Estadual da Flórida (EUA). O estudo, realizado com 2.823 famílias australianas, descobriu que, quando os pais acreditam que o filho está acima do peso, a criança tende a engordar no futuro.

A análise científica ocorreu ao longo de dez anos. Em um primeiro momento, foram anotados o peso e altura das crianças aos 4 ou 5 anos de idade e a percepção dos pais diante o peso de seus respectivos filhos (se eles os consideravam abaixo do peso, com peso normal, acima do peso ou sobrepeso). Nos anos seguintes, durante a pré-adolescência, as crianças foram acompanhadas pelos cientistas e participaram de entrevistas. Ao fim da pesquisa, as crianças cujos pais consideravam acima do peso aos 4 ou 5 anos foram também as que mais ganharam quilos extras aos 14 e 15 anos de idade.

Contraponto

No entanto, outro estudo, realizado na Universidade de Houston (EUA), no ano passado, contesta essa tese. A pesquisa norte-americana foi feita através de questionário com 70 mães e percebeu que 54% das progenitoras de crianças obesas ou com sobrepeso achavam que seus filhos tinham peso normal.

É muito provável que os adultos que não enxerguem o sobrepeso dos próprios filhos também sofram com a obesidade. Isso ocorre porque em famílias de obesos existe uma identidade que altera a percepção dos pais, de forma que os sinais de sobrepeso na criança dificilmente são notados.

O que diz a pediatria

É importante ressaltar que, conforme a pesquisa realizada com as famílias australianas analisou, a obesidade aos 4 e 5 anos de idade está associada à persistência dela na vida adulta. “Quando se avalia o comportamento de adultos obesos na época em que eram crianças, no primeiro ano de idade, eles, em sua grande parte, apresentavam o padrão do ‘bebê gordinho’. Em nossa cultura, isso ainda é visto como saudável, mas não é verdade”, explica a pediatra Mônica de Araújo Moretzsohn, do departamento de nutrologia pediátrica da Sociedade Brasileira de Pediatria.

Depois do primeiro ano de vida, a criança tem uma diminuição do apetite e um gasto energético maior, que perdura até os 4 ou 5 anos de idade. Posteriormente, o apetite retorna. Se nesse período ela apresentar sobrepeso e ou hábitos alimentares ruins, a chance de ser obesa no futuro é grande.

O que diz a psicologia

Mas será que a visão que os pais sustentam sobre o corpo da criança pode, de fato, ter alguma relação com a obesidade? A resposta é sim. “O olhar materno tem uma força muito importante na percepção do próprio corpo e essa configuração tem interferência na própria imagem que a criança cria de si”, explica a psicóloga Silvia Maria Gonçalves, do Hospital São Luiz Jabaquara (SP).

O que acontece é que quando o bebê chora de fome, a mãe o coloca para mamar e ele associa o calor e o acolhimento materno à necessidade de se alimentar. É assim que se forma o vínculo entre a alimentação e a mãe. “Essa relação pode aparecer com o pai, avó ou qualquer pessoa que alimente a criança, mas o seio materno costuma ser mais visceral e direto”, elucida a especialista. Com o passar do tempo, a criança aprende a criar uma separação entre a mãe e a necessidade de se alimentar e, a ssim, começa a criar sua própria imagem sobre si mesma. Mas vale ressaltar que o processo é lento e dura anos. Em casos mais raros, mesmo depois de adulto, o filho não consegue fazer essa separação completa.

A obesidade, assim como qualquer outro distúrbio alimentar, não é o problema, mas sim um sintoma dele. Portanto, o ideal é fazer acompanhamento junto a um psicólogo, já que podem haver outras questões relacionadas. Além disso, o excesso de peso pode gerar uma imagem corporal negativa, ansiedade e depressão.

O que vai à mesa 

Os pais são os maiores exemplos dos filhos no que diz respeito à alimentação, afinal, são eles os responsáveis pelas efeições do lar. Críticas, punições ou depreciações não vão fazer com que a criança coma o que os adultos querem. Por outro lado, uma abordagem positiva, afetiva e que tenha reflexo também no prato dos próprios pais ajuda muito. “A criança não tem acesso ao mercado. Ela acaba comendo aquilo que tem em casa, o que os pais compram. Às vezes, os pais não gostam de verduras, então ela não tem acesso e esse tipo de alimento e não desenvolve gosto por ele. O hábito alimentar se forma desde pequeno”, explica a nutricionista Danielle Fernanda Filipe, do Hospital e Maternidade São Luiz Anália Franco (SP).

No entanto, vale lembrar que dietas extremamente restritivas também não são recomendadas. “A ideia mais bem dosada é a reeducação alimentar, que ensina a criança a comer, e não precisa ser rigorosa. Podemos fazer manobras na nutrição, com opções coloridas e lúdicas, mas também saudáveis”, explica a nutricionista.

Uma sugestão é levar a criança ao supermercado e apresentá-la às verduras, aos legumes e às frutas, contando que eles são opções naturais e saudáveis para se alimentar. Convidar a criança para participar da preparação dos itens que vão na lancheira também ajuda. Outra dica é montar uma pequena horta com a criança, e deixá-la colaborar com os cuidados.

Conselho médico

– É necessário desmistificar o conceito de que bebê gordinho é bebê saudável.

– A rotina atarefada dos pais diminui a frequência das refeições em família, mas elas são muito importantes. É nesse momento que os adultos dão o exemplo de alimentos saudáveis em seus pratos, e isso influencia as crianças.

– Evite o uso de aparelhos eletrônicos durante as refeições. Eles distraem a criança e fazem com que ela coma mais do que precisa.

– Mantenha o acompanhamento regular com o pediatra para que ele possa identificar se o seu filho está acima do peso. Você também pode checar isso com ajuda dos gráficos de referência de crescimento infantil da Organização Mundial de Saúde (OMS). 

– A reeducação alimentar deve ser feita não apenas com a criança, mas com todos que vivem no lar. Caso contrário, seu filho se sentirá diferente do restante da família.

Fonte: Revista Crescer

About the Author

Valeska Andrade

Formada em História pela Universidade Federal do Ceará e em Pedagogia pela Universidade Estadual do Ceará. Especialista em Cultura Brasileira e Arte Educação. Coordenou o Programa O POVO na Educação até agosto de 2010. Pesquisadora e orientadora do POVO na Educação de 2003 a 2010, desenvolveu, entre outras atividades, a leitura crítica e a educomunicação nas salas de aula, utilizando o jornal como principal ferramenta pedagógica. Atualmente, é professora de história da rede estadual de ensino. Pesquisadora do Maracatu Cearense e das práticas educacionais inovadoras. Sempre curiosa!!!

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