De cada dez adolescentes que entrarão no Ensino Médio, a partir do próximo ano, seis estarão ocupando, em uma década, postos de trabalho de uma profissão hoje inexistente. Em um mundo de transformações e oportunidades globais, o desenvolvimento profissional e a absorção pelo mercado de trabalho dependem de uma escola alinhada às demandas do século 21 e de um jovem com poder competitivo frente àqueles formados em outros países. Entretanto, quando o assunto é educação no Ensino Médio, o Brasil engatinha diante dos exemplos de excelência mundiais. O novo Ensino Médio proposto pelo Ministério da Educação, que virou lei este ano, quer encurtar essa distância.

Os resultados do último Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), exame educacional de referência aplicado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), exemplificam a lacuna. O Brasil tem apenas 2% dos alunos com nível de excelência em ciências, matemática e leitura. E 44% dos estudantes com baixo rendimento nas três competências avaliadas. Entre 72 países, ocupa sempre as posições mais baixas. Lugares como Finlândia e Canadá mantêm-se entre os líderes de bons resultados.

Em comum, essas nações adotam a flexibilização curricular. Uma das principais mudanças previstas no novo Ensino Médio brasileiro é referenciada em modelos internacionais. “A trajetória única não faz sentido algum. Embora haja variação no modo, a grande maioria dos países desenvolvidos segue a flexibilização do Ensino Médio. É fundamental adequar-se aos interesses dos jovens”, afirma o diretor de Políticas Públicas do Todos pela Educação, Olavo Nogueira.

Nos Estados Unidos, as únicas disciplinas obrigatórias são inglês, matemática e história norte-americana. A estudante Mariana Cyreno, 16 anos, experimenta ao mesmo tempo o sistema estadunidense e o brasileiro, por meio de um programa local de high school do Colégio Damas. “As aulas costumam ser mais interativas, promovem debates, enquanto no método brasileiro tem muita matéria teórica que não irá ajudar na hora em que sairmos do colégio”, diz.

Quando esteve no Canadá, pelo programa Ganhe o Mundo, a aluna da Escola Técnica Estadual Cícero Dias/Núcleo Avançado em Educação (Nave) Palloma Ramos, 17, ficou impressionada com a liberdade dada pela escola. “Você podia sair e voltar do colégio quando quisesse. Só que ninguém ia, por considerar estar na sala importante. Outra questão é que existiam mais experiências fora de sala.”

A pesquisa Projeto de Vida, da Fundação Lemann, com apoio do Todos Pela Educação, evidenciou que os jovens brasileiros, ao fim do Ensino Básico, sentem-se mal orientados e pouco preparados para lidar com os desafios cotidianos, tanto no Ensino Superior quanto no trabalho. Entre as dificuldades elencadas no levantamento estão interpretação de leitura, expressão de ideias, argumentação oral e manejo financeiro.

O adolescente, segundo a pesquisa, estuda muitos conteúdos em sala de aula, mas sente falta de aprofundamento no que será essencial para o futuro. Apesar de extensos, os conteúdos excluem habilidades essenciais para a vida adulta. Em consequência, muitos saem da escola sem saber como colocar em prática o conhecimento.

Com a flexibilização, o novo Ensino Médio pretende bater de frente com essa realidade. Para isso, estará em consonância com as referências globais também em carga horária. “Hoje, o tempo médio na escola no Brasil é de quatro horas. Mas há pesquisas que indicam o tempo efetivo de aprendizagem de pouco mais de duas horas. Não há milagre possível com esse tempo de exposição. A maioria dos países em desenvolvimento tem um tempo dentro da escola entre seis e sete horas”, acrescenta Olavo Nogueira.

Fonte: Diário de Pernambuco

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Valeska Andrade

Formada em História pela Universidade Federal do Ceará e em Pedagogia pela Universidade Estadual do Ceará. Especialista em Cultura Brasileira e Arte Educação. Coordenou o Programa O POVO na Educação até agosto de 2010. Pesquisadora e orientadora do POVO na Educação de 2003 a 2010, desenvolveu, entre outras atividades, a leitura crítica e a educomunicação nas salas de aula, utilizando o jornal como principal ferramenta pedagógica. Atualmente, é professora de história da rede estadual de ensino. Pesquisadora do Maracatu Cearense e das práticas educacionais inovadoras. Sempre curiosa!!!

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