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Bebidas. Noite e dia. Dia e noite. Era assim a vida e o cotidiano de Suzane, a prostituta da Rua do Ouvidor, como todos a conheciam. Era loura, magra, tinha mais ou menos 0.62 cm de cintura e gostava de Led Zeppeling e Rolling Stones. Se dizia agnóstica, mas quando passava lá os seus perrengues com os clientes que não queriam pagar, ela olhava para o céu e implorava o amor de um certo Deus, só ela sabia quem era esse.

De dia passava o maior tempo fumando cigarro e bebendo cachaça, vinho, gim, conhaque, tudo, todas as bebidas que você possa imaginar. Era Suzane, sendo Suzane. Com o temperamento forte de gaúcha, ela tinha os homens que queria e por conta disso cobrava, cobrava alto, muito alto,verdadeiros milhões de cruzeiros, sim na época ainda eram os cruzeiros que fazia sucesso na tribo do Brasil. Não tinha nenhuma ocupação, era apenas mulher da vida, tinha o maior prazer de contar que ganhava a vida saindo com os casados-e-não-casados-e-gays-e-héteros-e-bissexuais-e-mulheres, enfim, bastava chamar sua atenção, que sua líbido alertava pelo sexo e claro, pelo money.
Suzane, drogada, meretriz era simpatizante das boas coisas da vida. Sim, ela soube praticar bem a vida, por mais que não tivesse tanta experiência assim , ela soube aproveitar como poucos a vida que alguém lhe dera. Acredito que Suzane nasceu espontânea, pois não gostava de ser dependente de ninguém, nem mesmo de um ventre que lhe carregara durante nove meses, mas desta parte eu não falo, pois só conheci Suzane quando ela tinha dezoito anos, na flor da idade, como dizem por aí. Tudo em cima, os peitos fartos, o quadril redondo, a cor de neve, os cabelos naturais, sem nenhuma tinta, foi assim que me apaixonei pelo jeito riponga dela. Era enigmática, mas nem ela mesma sabia disso, era inocente, apesar dos pesares, era inocente de toda a vida.

Eu só conheci Suzane de vista, uma visão linda imagética que eu tinha dela. Passava tarde da noite na Rua Olávio Bilac, onde ela costumava “trabalhar” e a via sentada, esperando por uma resposta da vida, por um cliente, tudo para comprar e bancar o seu vício. Nunca a vi sem estar segurando uma garrafa de conhaque. Gostava de conhaques, caros, luxuosos, por isso, quando queria comprar um, fazia mais de quinze programas por dia. Quando acabava o expediente, comprava o seu conhaque e ia ser feliz em seu quitinete de dois cômodos. Uma sala-quarto-cozinha e um banheiro três por quarto.
Por ser cobrador de ônibus, sempre cheguei em casa tarde e sempre via Suzane rodando a bolsinha lindamente, sim, lindamente. Ela sabia ser sexy, sabia ser vulgar, sabia ser mulher e sabia ser prostituta, era multifacetada. Vou revelar para vocês que nesse dia parei para conversar com Suzane. Um diálogo meia boca, rápido, mas que de imediato me revelou-a. Depressão, alcoolismo, cocaína, maconha, cigarro e saudade. Tudo isso fez parte da sua vida até o último momento em que foi achada morta por uma vizinha. O quartinho foi achado todo sujo de bebida, cinzas de cigarro, tomate, arroz, copos e taças, bitucas de maconha, tudo no chão. Na pequena mesa foi possível ver Suzane, a prostituta mais linda que eu já vi em minha vida com a cara num prato fundo de sopa. Morreu afogada em sua própria comida, por estar completamente bêbada, não raciocinou o momento e cabum! morreu. Fiquei triste e agora só me resta lembranças e sonhos com a mosca da minha sopa, Suzane, que por questões matrimoniais e casuais nunca fora minha.

Texto: Eduardo Sousa || Imagem: Internet

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