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Dessa vez a turma do funil não veio. Não chegou. Nunca teve. É, nunca teve. Depois de levantar da sua cama às 07:00hrs em ponto, Carlito pensou: Carnaval,estou sozinho, sem turma, sem funil, sem barril, sem todas as palavras com il. Sem nada.
Queria fazer alguma coisa, mas estava sozinho. Mal ele sabia que estava com a melhor de todas as poucas companhias que ele teve: ele mesmo. Só que ainda não tinha reparado para si, para dentro.  Estava alucinado pelo mundo exterior, pelas coisas que seus olhos viam, pelos dissabores da realidade. Tinha até se acostumado com as peripécias que o mundo lhe pregava, parece que colecionava desastres,choros. Pegava tudo isso e armazenava dentro de uma bolsa, mais conhecido como coração. Não aturava diálogos com ninguém, vivia envolto de uma cápsula que ninguém, ninguém, nunca ousou abrir. Será que ele esperava por isso? Por ser descoberto? Por liberdade?
Teve uma ideia. Uma boa. Já que ultimamente não pensara em nada. Era como se o seu cérebro tivesse tirado férias indeterminadas, onde ele só estava vivo dos pés aos ombros. O pensamento não existia e quando existia lá vinham lembranças, tormentos, medos. Lembrou que tinha uma bicicleta guardada no quintal de sua casa. Uma bicicleta verde. Verde da cor da grama, da cor dos bancos da praça que ele costumava  ir, raramente, mas ia. Verde da cor da esperança. No fundo, no fundo, bem lá no fundo, no seu âmago, ele tinha uma pitada de esperança. Esperança de sair daquele casulo íntimo, daquela vida anônima, daqueles sentimentos guardados. Teve pois a boníssima ideia, digo a brilhante ideia, de pedalar um pouco na praça dos bancos verdes, da cor de sua bicicleta.
Pegou a bicicleta e reparou que ela ainda estava com as fitinhas coloridas que ele tinha colocado. Quanto tempo faz que ele não anda de bicicleta? Será se ainda sabe? Vai se arriscar? Logo hoje, carnaval? Mas foi. Foi livre.Quase tocou a marchinha de carnaval: Ô abre alas que eu quero passar, Ô abre alas que eu quero passar… Sem nenhuma dúvida, subiu na bicicleta. As alas se abriram para a sua passagem. Pensou nos seus tempos de criança e um sentimento pueril o invadiu rapidamente. E pedalou.Ousou até andar sem as duas mãos, uma das coisas que ele mais gostava de fazer. Correu atrás do ar, atrás do alvo, em busca da esperança.
Texto: Eduardo Sousa || Imagem: Internet

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