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É até meio engraçado da própria pessoa não saber quem ela realmente é, do que ela realmente gosta, do que ela odeia, suas preferências, suas dores, nada, nada disso está sob a sua tutela, nem mesmo o nome, sua origem, nadie, nadie, nothing, não sabe de nada e não é inocente! Eu sou assim, essa variante de um monte de coisas que eu não sei o que é, a gente é o que a gente quer ser, mas acredito que o que nós somos é um resultado de várias outras coisas, chatas e boas, ruins e legais, amargas e doces, quentes e frias, junta tudo isso passa no coração e puf! este sou eu. Mas isso está certo? Nós estamos aí, nós estamos no mundo, por mais babaca e chato e incompreensível e não sei mais lá o quê, estamos no mundo, uns querem ir embora, uns querem ficar, uns ainda estão por vir e uns fica na dúvida, assim como eu.

Quando me dá uma dessas crises de existência, essas coisinhas chatas que algumas pessoas como eu tem que se importar, eu me apego àquela frase que diz: a gente não nasce começa  a morrer, e isso é puramente a verdade mon amour, é realidade, é fato. A morte só ocorre quando há vida, se nunca houve vida, nunca haverá morte. Tom Jobim acertou na frase, acertou na música, mas agora não é hora de falar disso, até porque eu nem sei se gosto disso mesmo sacou?

Eu acredito que somos um punhado das nossas lembranças, das nossas quedas na infância, do nascimento dos irmãos, das irmãs, dos puxões de orelhas dos pais, da primeira vez que foi à escola, quando mudou de endereço, quando ganhou aquele videogame, quando deu o seu primeiro beijo, tudo, todas essas lembranças fazem parte do que você é, ou foi ou será, mas esta regra não se aplica a mim, não sei porque, não há respostas, nem lembranças, muito menos saudades, é como se no lugar de tudo isso, eu tivesse tido uma amnésia de toda a minha vida passada, e o que restou? Nada. É como ser um novato em um mundo com não sei quantos bilhões de pessoas. Estrangeiro no próprio mundo, radicado dentro de si próprio.

E aí chegaste a uma conclusão de quem eu sou, de como eu sou, de como eu era e como vou ficar? Não né, até porque nem eu mesmo sei, não sei ao certo  quando foi o dia que tu foste embora, quando foi o dia que jogamos uma partida de videogame, do dia em qua fiz panqueca em forma de coração pra você, mas o que eu realmente sei, é que eu sou um apanhado de tudo isso, essa grande lorota, eu, meu bem, assim como você foi um dia, sou essa longa história.

 

 

 

Texto: Eduardo Sousa|| Imagem: Internet