Após alguns dias ausente do blog, voltamos  com o  desejo de tornar esse espaço ainda mais dinâmico. Entre os motivos dessa ausência foi  o  carnaval de Salvador, pela segunda vez, a primeira foi em 2008 quando escrevi  a seguinte reflexão daquela imensa e intensa  festa:

Assisti ao espetáculo grandioso pela sua estrutura e organização, vivendo de perto e também atrás do trio elétrico, muita gente bonita dividida entre o corredor da folia e os magníficos camarotes, uma gente incansável, sempre cantando ao som da Bahia, músicos dispostos a estar sempre levantando a multidão, mas nesse espaço posso comentar alguns momentos  críticos e esses me  chamaram a atenção de forma especial, senti falta da Bahia dos antigos baianos, me surpreendi com as lágrimas e demonstrações de emoções ditadas pelos artistas sempre diante das  câmaras  de televisão indicando  estarem  ao vivo para o mundo, sofri ao ver uma quantidade de pessoas transparecendo suas misérias sejam por abandono social ou por necessidade de expor uma liberdade quase insana capaz de  ser confundida com felicidade aos olhos dos menos sensíveis, ao mesmo tempo é carnaval, nossas fraquezas e fortalezas entram na magia da festa pela porta da frente sem nem mesmo avisar, abrem  portas sem a menor cerimônia, os rituais vão da euforia ao obsceno, mesmo quando uma cantora no alto do seu trio elétrico manifesta o desejo de rezar o “Pai Nosso” a mesma fica frustrada, por não alcançar o “venha nós ao vosso reino”, as vaias não deixavam,  somadas as mais variadas manifestações contra aquela atitude, pareciam concordar em não querer ninguém para reinar, perdoar ou situações semelhantes o que todos queriam mesmo era extravasar e a cantora atendeu aos donos da festa, fiquei entusiasmado, é esse o país no qual  quero morar, de uma gente decidida a fazer valer suas vontades  e não o país no qual vivo, onde se passa o ano inteiro pagando e sendo subserviente dos nossos governantes, admirado fiquei com essa  gente linda, essas com as  quais fiquei  cercado nessa intensa alegria, não as conheço, tenho apenas a sensação de  vivermos em países distantes.  São as mesmas pessoas? Não consigo acreditar, elas   assistem  o espetáculo da pressão dos gastos absurdos com dinheiro público e calam-se, mas na avenida do carnaval ditam o que querem, reprimem seus sentimentos na vida e liberam entre as cordas da alegria do carnaval baiano. Cordas intensamente puxadas aos empurrões pelos cordeiros e esses demonstram  em suas fáceis a cara do meu país, não deste país no qual tomei  abrigo por algumas horas, nesse espaço privado e  geopoliticamente  pertencente  a minorias privilegiadas mas também  assustadas  ao aproximarem da corda, mostrando temor entre esses dois mundos,  o mesmo não acontece quando desfilam  mascarados e ao ritmo de suas adversidades.  O  importante  nessa  festa  é continuar noite a dentro, encantando a todos, basta acordar na quarta feira de cinzas ou porque não ficar aceso até as cinzas, seguindo o arrastão dos que seguravam a corda, dos que dividiam mundos e nesse  momento correm felizes atrás do trio elétrico por duas horas pensando que a festa era  pra elas.

Mantenho a mesma impressão em 2010, espero um dia voltar a essa festa e tomara tenhamos mais igualdade social, assim quem sabe assistiremos o espetáculo de um Brasil com mais saúde social e humana.

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Jorge Brandão

Fisioterapeuta, Osteopata, RPGista. Diretor da clinica Fisio Vida.

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