As mudanças na vida e na relação com a comunidade de pessoas que se tornaram deficientes físicas após serem vítimas de acidentes são descritas no trabalho de três pesquisadoras da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP.  O estudo aponta que a participação em projetos de esporte adaptado e o convívio com outros portadores de deficiência auxiliaram na reintegração à sociedade.  A pesquisa acaba de ganhar o prêmio do Centro para Reconstrução de Comunidades Sustentáveis Após Desastres (CRSCAD) da Universidade de Massachusetts (UMASS), em Boston (Estados Unidos).

 Esporte adaptado ajudou portadores de deficiência a se reintegrarem. De acordo com a professora Michele Schultz Ramos de Andrade, da EACH, que orientou a pesquisa, a ideia inicial era a de tentar identificar se algumas políticas de acessibilidade chegavam efetivamente aos portadores de deficiência física. “Durante a elaboração do ensaio, no entanto, considerou-se a perspectiva do desastre e procurou-se discutir aspectos da relação da pessoa com deficiência com a comunidade”, observa.

As pesquisadoras realizaram entrevistas semi estruturadas com portadores de deficiências físicas que tinham como ponto de partida duas perguntas: “Como foi o momento que você se tornou portador de deficiência? Se você pudesse mudar alguma coisa na comunidade, o que seria?”.  A professora aponta que “a transição é um processo demorado repleto de rompimentos individuais e sociais.  A dependência e a compaixão do outro foram pontos comuns nas entrevistas”.

 No estudo, os entrevistados relataram que inicialmente tinham total dependência para a realização das atividades cotidianas, tais como a  higiene pessoal. “Após o período de reabilitação o processo de independência começou a ser adquirido”, conta Michelle. Outro aspecto comum entre os entrevistados foi que todos estão inseridos em projetos de esporte adaptado. “Nos relatos ficou claro a relação da participação nos projetos e aquisição de independência.”

 Apoio
Os relatos dos entrevistados mostram que houve apoio dos familiares, embora alguns trechos indiquem negação e revolta. “Ficou evidente que o maior apoio encontrado foi quando eles tiveram oportunidade de convívio com pessoas que também possuíam alguma deficiência”, afirma a professora da EACH.

 Michele explica que a pesquisa traz a possibilidade de cada pessoa refletir sobre a sua contribuição no meio em que vive. “A compreensão do processo iniciado a partir do desastre é essencial para essa tarefa”, ressalta. Outra conclusão destacada pela professora é que o papel do Estado na reconstrução de uma comunidade sustentável é de suma importância. “Ao mesmo tempo, viu-se também que o desastre passa pela própria pessoa que o sofre, pela família, pela comunidade ao redor, chega ao Estado e atinge proporções ainda maiores”, e nesse contexto, o cenário atual de inclusão ainda pode ser questionado.”

O estudo aponta que reconstruir uma comunidade sustentável não é tarefa simples que cabe a determinadas pessoas, órgãos estatais, nacionais ou supra-nacionais. “É tarefa conjunta de todos aqueles que a constituem e desfrutam de seu espaço que possibilita uma interação próxima com a pessoa que tem uma deficiência”, destaca a professora Michele.

O CRSCAD concedeu menção honrosa ao trabalho durante a Conferência Internacional sobre Reconstrução de Comunidades Sustentáveis para Pessoas Idosas e Pessoas Com Deficiência após Desastres (Rebuilding Sustainable Communities with the Elderly and Disabled People after Disasters), na Universidade de Massachusetts (UMASS), em Boston (Estados Unidos), entre 12 e 15 de julho.

 As autoras foram homenageadas e apresentaram o estudo em uma das sessões do evento. Além da professora Michele Schultz Ramos de Andrade, participaram da pesquisa as alunas de iniciação científica Alessandra Marques Sohn, do curso de graduação em Ciências da Atividade Física da EACH, e Giovanna Pereira Ottoni, ex-aluna de Ciências da Atividade Física e atual estudante da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP.

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Jorge Brandão

Fisioterapeuta, Osteopata, RPGista. Diretor da clinica Fisio Vida.

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