Dr. Glauter Silveira revela que acompanhar os pacientes com dor de forma interdisciplinar tem se mostrado muito importante, para melhorar os quadros de fibromialgia

Muito tem se falado da fibromialgia e das limitações funcionais, laborais e até mesmo psicológicas apresentadas nas pessoas acometidas com o problema. O critério da reumatologia no diagnóstico envolve, após avaliações, um conjunto de sinais: dor generalizada, fadiga muscular, sono não reparador, distúrbios cognitivos (dificuldade de memória e concentração) e distúrbios somáticos (síndrome do cólon irritável, olhos secos, dentre outros).

Após estudos e pesquisas discriminatórios, o Colégio Americano de Reumatologia definiu a fibromialgia como uma síndrome, por reunir um arsenal de sintomas com um tempo de duração superior a três meses. Por esta razão, há necessidade de acompanhamento multi e interdisciplinar nos tratamentos.

Três vertentes

Preconizado para a obtenção de resultados satisfatórios, o tratamento busca a integração da tríade medicamentos, diretiva física (fisioterapia) e movimento (exercícios físicos), além do acompanhamento da dimensão emocional por um profissional de psicologia comportamental. Tais condutas são confirmadas nos trabalhos que o fisioterapeuta Glauter José Silveira Araújo – juntamente com outros profissionais – no Núcleo de Atenção Médica Integrada (Nami) da Universidade de Fortaleza. Trata-se de um programa composto por sete especialidades (Medicina, Fisioterapia, Farmácia, Educação Física, Psicologia, Terapia Ocupacional e Nutrição), que presta assistência, em média, a 30 pacientes por semestre. Os resultados dessas avaliações têm sido apresentados em vários congressos nacionais e internacionais.

Formado em Reestruturação Postural Sensoperceptiva (RPG/Reposturarse) e pós-graduado em Práticas Integrativas e Complementares, Glauter Araújo revela que a redução dos sintomas, o uso correto dos medicamentos e a mudança no estilo de vida figuram entre as principais respostas dos pacientes submetidos ao tratamento interdisciplinar.

“Nestes casos – diz o fisioterapeuta – os pacientes com fibromialgia acabam se conscientizando de suas limitações, aprendem a superá-las e desenvolvem capacidades de revertê-las, sendo observado em suas atitudes e, sobretudo, na alteração de sua autoestima”. Nos tratamentos físicos, a fisioterapia dispõe de técnicas que contribuem para a melhora e redução da dor, da fadiga muscular e da flexibilidade.

Exercícios artísticos

Em conjunto com outras práticas, a arteterapia – através de exercícios artísticos – tem se revelado bastante efetiva no tratamento dos portadores de fibromialgia. Silvana Parente, arteterapeuta que está prestes a concluir a pesquisa que resultará em sua dissertação de mestrado (“Análise e tratamento interdisciplinar da dor”), pelo Hospital das Clínicas (USP), decidiu empregar sua experiência para trazer benefícios a suas conterrâneas cearenses através da criação de oficinas que visam abrir um novo campo de possibilidades para o alívio da dor.

Ela tem buscado ampliar os limites impostos à comunicação corporal pelas restrições da doença. No trabalho, mostra às pacientes novas possibilidades de expressão e movimento espontâneo do corpo, com recursos das artes cênicas, da música e da mímica fim de resgatar a expressividade do corpo, mesmo parado imitando uma estátua.

A telefonista paulista aposentada, Marcia Loughi, 58, recebeu o diagnóstico de fibromialgia há cerca de 10 anos. De lá para cá, tem se submetido a vários tratamentos no Hospital das Clínicas de São Paulo. Ainda admite ter limitações decorrentes da síndrome, embora não perca a esperança de ficar definitivamente curada. Conta que, há um ano, fez cerca de cinco sessões de arteterapia com a Dra. Silvana Parente. “Gostei muito, pois senti que no aspecto psicológico melhorei bastante. Pena que foi por um período curto. Creio que se tivesse feito umas 50 sessões, certamente, teria sentido um resultado muito melhor”, atesta.

Acostumar-se com a dor

As pessoas acometidas com fibromialgia tendem a se acostumar a conviver com a dor, conforme resultados da pesquisa “Fibromialgia: além da dor”, realizada pelo Instituto Harris Interative e Pfizer com 904 participantes entre Brasil, México e Venezuela. Os pesquisadores descobriram com este estudo que os pacientes fibromiálgicos chegam a demorar mais de dois anos para buscarem ajuda profissional, pelo desconhecimento da síndrome.

Hoje, os reumatologistas entendem ser importante dar ouvido aos sinais da dor crônica e difusa, quando relatados pelos pacientes, principalmente, se essa queixa perdurar. Dormir e acordar com dor por dias, semanas e meses é bem possível estar sinalizando a fibromialgia.

A pesquisa revelou, dentre outras queixas dos pacientes relacionadas pelos médicos à fibromialgia: fadiga, dormência ou formigamento, problemas para dormir, ansiedade e depressão. Todos esses sintomas causam muito desconforto e amedrontam quando reincidem por um longo período. São debilitantes, além de limitarem muito a vida produtiva dos acometidos pela doença, podendo comprometer o equilíbrio emocional.

Silvana Parente despertou para as múltiplas possibilidades da arteterapia na ocasião que fazia preparação de atores, com expressão corporal, já que era atriz e também bailarina. As pessoas lhe diziam que, além da evolução profissional, sentiam mudança significativa em sua dimensão pessoal e íntima.

Empregar esses recursos na área da ciência da reabilitação foi o passo seguinte. Encaminhada para realizar pesquisa na área médica, escolheu a Comunicação e Postura Humana, onde passou a integrar o grupo interdisciplinar de estudos e tratamento da fibromialgia, do Hospital das Clínicas, em São Paulo. Silvana seguiu para a Espanha para dar sequência a sua pesquisa acadêmica. Com a doença, diz, perde-se a dimensão da imensa capacidade de comunicação e expressão que o corpo tem. A arte surge como uma das formas de se recuperar isso”.

Tratamentos

HIDROTERAPIA: Os benefícios da água, principalmente aquecida entre 32 e 34°C, estão relacionados ao relaxamento muscular, diminuição dos espasmos musculares, a facilidade na execução dos movimentos articulares, pois a diminuição da gravidade alivia o peso corporal reduzindo as forças de compressão sobre as articulações;

RPG: A Reeducação Postural Global promove alongamentos de grupos musculares de forma ativa onde o paciente participa e tem a consciência de cada movimento e posicionamento realizado. Isto faz com que ocorra melhora da flexibilidade, alívio das tensões principalmente da região do pescoço, redução da sobrecarga nas articulações da coluna e o alinhamento postural;

Técnicas Manuais Complementares Integrativas: Essa modalidade engloba todos os recursos manuais como a massoterapia, alongamentos, técnicas de inibição de pontos dolorosos, técnicas de percepção corporal. Nelas são realizados estímulos sensoriais e exercícios de concentração que promovem o relaxamento da musculatura, diminuição da dor e melhora da amplitude articular;

PILATES: São exercícios que unem elementos da ginástica, yoga e dança, realizados em equipamentos específicos ou com auxílio de bolas e faixas elásticas. Tem como objetivo integrar a mente e o corpo, trazendo a melhoria do condicionamento físico (flexibilidade, força e equilíbrio) e a consciência corporal.

Plano de tratamento é individualizado

A fibromialgia é uma síndrome dolorosa e crônica que engloba uma série de manifestações clínicas como dor, fadiga, indisposição e distúrbios do sono.

Atualmente, sabe-se que a fibromialgia é uma forma de reumatismo associada à sensibilidade aumentada do indivíduo frente a um estímulo doloroso. A doença não acarreta deformidade física ou outros tipos de sequelas.

No entanto, o problema não é realmente simples de ser diagnosticado, podendo vir a prejudicar muito a qualidade de vida e o desempenho profissional do paciente, em virtude de uma difusa dor muscular.

Como não existem alterações nos exames complementares ou um marcador que, por si só confirme o diagnóstico, a experiência clínica do profissional que avalia o paciente com fibromialgia é fundamental para o sucesso do tratamento. O reumatologista é o especialista indicado e capacitado para tratar essa doença.

A idade de aparecimento da fibromialgia costuma ser por volta dos 30, se estendendo até os 60 anos. De cada 10 pacientes acometidos com o problema, nove são mulheres. Contudo, não se sabe a razão porque isto acontece – não parece haver uma relação com hormônios, pois as dores difusas afetam as mulheres tanto antes quanto depois da menopausa.

O plano de tratamento da fibromialgia consiste, fundamentalmente, em se tratar da dor, do sono, da ansiedade e da depressão, tudo isso associado à prática de exercícios físicos. Esta estratégia tende a ser individualizada e multifacetada, incorporando medicação, terapia física, psicológica e comportamental. Já o tratamento medicamentoso baseia-se no uso de analgésicos, antidepressivos, relaxantes musculares e indutores do sono.

A prática regular de exercícios é o ponto mais importante do tratamento. A atividade física deve ser realizada todos os dias. Indica-se, normalmente, exercícios aeróbicos como caminhar, nadar. A estes se aliam os exercícios que promovem o alongamento muscular.

Atualmente, existem variadas técnicas alternativas para tratar a fibromialgia, como a terapia cognitivo-comportamental e a arteterapia. Estas são técnicas de manejo do estresse, as quais ajudam os pacientes a lidarem melhor com as limitações que a fibromialgia impõe à vida das pessoas através do reconhecimento corporal e da busca de um equilíbrio entre a mente e o corpo.

Carlos Ewerton Rodrigues
Doutor em Reumatologia pela USP e Professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Fortaleza

About the Author

Jorge Brandão

Fisioterapeuta, Osteopata, RPGista. Diretor da clinica Fisio Vida.

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