Doutor Arivan Gomes, Luiz Arapiraca e doutor Fernando Neto

Vista por muitos profissionais como um segmento da profissão restrito às elites, a Fisioterapia Esportiva ganha cada vez mais espaço e visibilidade no mercado. Com a chegada de grandes eventos esportivos no país (Copa das Confederações, Copa 2014 e Rio 2016), é crescente o número de praticantes de esportes e, consequentemente, o número de lesionados.
Com isso, os fisioterapeutas especialistas em desporto são mais requisitados a cada dia. Seja na orientação, prevenção ou reabilitação, a atividade cresce na medida em que as diferentes modalidades também aumentam o número de praticantes.
Segundo o fisioterapeuta Arivan Gomes, especialista e professor da disciplina Fisioterapia Esportiva, é preciso um entendimento maior da população sobre o papel do profissional nesse ramo. “É importante que a população que pratica esportes entenda que é necessário ter um bom desempenho na atividade com segurança. Nosso papel, antes de tratar as lesões, é fazer um trabalho preventivo com o atleta; seja ele regular ou de final de semana”, esclarece.
Doutor Arivan, que também trabalha com atletas de alta performance, rechaça o conflito de atividades que tem gerado polêmica, principalmente com relação aos educadores físicos. “Não há conflito. Nenhum. São olhares diferentes e todos os bons profissionais sabem os limites de cada um na sua atividade. Eu mesmo trabalho com educadores físicos e não temos problemas. É uma questão de postura e de entendimento de limites. O fisioterapeuta trabalha com um objetivo específico, que é o de prevenir as lesões, dar equilíbrio e reabilitar o atleta”, explica.
O educador físico Ricardo Mendes, que também trabalha com atletas de alta performance, ratifica o posicionamento de doutor Arivan. “Na verdade, uma atividade depende da outra para que o trabaho seja bem feito. Nunca tive nenhum problema com fisioterapeutas”, disse.

Mercado

Para todo profissional, o mercado é o grande avaliador de carreiras. No caso da Fisioterapia Esportiva, que geralmente está atrelada a uma faixa de clientes com bom poder aquisitivo, a boa qualificação é determinante para o sucesso na profissão. Como o mercado ainda é restrito na cidade, os mais qualificados acabam sendo os mais solicitados.

O fisioterapeuta Fernando Neto é um exemplo de investimento continuado em carreiras. “Desde que me formei, em 2007, invisto em congressos e cursos específicos que me dão respaldo para ter uma condição melhor no mercado. É uma questão de posicionamento, de postura. Tenho meu trabalho, minha qualificação, e cobro de acordo com o que investi”, conta.
Para doutor Cleber Sady, vice-presidente do Crefito-7, a medida do profissional é o comprometimento com a sua formação desde a graduação, passando por cursos específicos e as pós-graduações, mestrado e doutorado. “A educação continuada, hoje, num mercado competitivo como está, é o fiel da balança para os profissionais se estabelecerem ou não.  É uma situação comum a todas as profissões, sem distinção”, relata.
Para o consultor do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Fabrício Barreto, ao passo que o profissional é bem qualificado, tende a firmar uma rede de contatos que podem ser determinantes no mercado de trabalho, independente da profissão que escolha. “É determinante. Temos bons profissionais em todos os lugares, mas os mais preparados, qualificados, estarão num patamar acima dos outros. E isso faz com que ele se destaque e o serviço que ofereça também seja diferenciado na qualidade e no valor”, pontuou, durante palestra na última edição do projeto Profissional Empreendedor.

Reconhecimento

Com a valorização da prática esportiva, os atletas acabam sendo grandes vitrines para profissionais de saúde que atuam na área. São fisioterapeutas, educadores físicos, médicos, nutricionistas e enfermeiros que, em equipe, possibilitam melhoria da performance para quem faz do corpo e do esporte o instrumento e meio de sobrevivência.
Reconhecido atualmente como um dos atletas mais bem preparados do mundo, Júnior dos Santos, conhecido como Júnior Cigano, fez famoso o fisioterapeuta que o ajudou a se recuperar de uma séria lesão que quase o impediu de subir no ringue e faturar o cinturão de campeão dos pesos pesados do Ultimate Fighting Championship (UFC), o maior evento de Mixed Martial Arts (MMA) do planeta.

Num num treino em Salvador, duas semanas antes da luta nos Estados Unidos, o campeão sofreu uma entorce que comprometeu o mesnisco do joelho esquerdo. “Na hora foi feio. Pensei que não daria para ele lutar. Ele caiu de dor e eu fiz o procedimento para conter a adrenalina daquela hora, que era dele e minha também”, relembra doutor Arivan Gomes, especialista em Fisioterapia Esportiva.
“Eu acho que a Fisioterapia, o Arivan, me deram condições para lutar. No dia da lesão eu cheguei em casa sem poder botar o pé no chão de tanta dor. Depois da primeira sessão, eu já pus o pé no chão, já andei com um pouco de dor, mas foi uma melhora grande. Agradeço demais o trabalho dele”, fala Cigano, entre uma brincadeira e outra na piscina onde continua o tratamento após a cirurgia.

Júnior Cigano e a reabilitação na piscina terapêutica após a cirurgia

O lutador ressalta as melhorias do trabalho de prevenção que a Fisioterapia proporcionou. Para ele, que antes não contava com esse trabalho, os avanços são sensíveis. “Melhorou muito o equilíbrio, o aquecimento. Às vezes é chato porque é muito repetitivo. Mas sei que preciso fazer para melhorar o meu desempenho”, confessa.
Lesões

Atletas campeões de natação também estão na turma que adotou a Fisioterapia como parte do treinamento para evitar lesões. Allan do Carmo, primeiro do ranking brasileiro em maratonas aquáticas, e Luis Arapiraca, recordista sulamericano dos 1.500m livres, fazem, juntos, treinamento de prevenção numa academia no bairro da Pituba.
Para Arapiraca, que sofreu uma série de lesões no ombro, o trabalho de reabilitação foi fundamental para que uma cirurgia fosse descartada. “Iria atrapalhar bastante minha carreira. A Fisioterapia possibilitou que eu conseguisse voltar aos treinos sem dor e com mais confiança”, lembra.
Como é um esporte que praticamente não gera impacto, engana-se quem pensa que os atletas estão livres de lesões. “Não. Não existe esporte que não deixe a possibilidade de lesão no atleta, seja ele amador ou profissional. Existem duas modalidades grandes de lesão: as traumáticas, causadas por fatores externos; e as atraumáticas. Esse é o caso da natação”, afirma doutor Maurício Dourado, fisioterapeuta e mestre em biomecânica.

Segundo doutor Maurício, que também é professor da matéria, a Fisioterapia Esportiva tornou-se indispensável em clubes esportivos de alto rendimento, mas deve ser entendida pelos gestores e pelos profissionais como uma especialidade que também pode ser implementada na atenção básica. “É uma questão de percepção. Será que no Programa Terceiro Tempo, do governo, não caberia uma equipe multidisciplinar, com fisioterapeutas realizando um trabalho junto aos atletas jovens? Cabe. As demandas por Fisioterapia como um todo são crescentes e os profissionais precisam estar mobilizados num discurso fundamentado para ocupar esses espaços”, declara.

Sonafe

Hoje os profissionais de todo o país que se dedicam a especialidade, contam com a Sociedade Nacional de Fisioterapia Esportiva (Sonafe) como a organizadora de eventos dedicado a área. A entidade promove, periodicamante, cursos, seminários e palestras sobre temas diversos ligados ao desporto. No último evento, profissionais de todo o país estiveram juntos em Maceió para o V Congresso Brasileiro e III Congresso Internacional da Sociedade Nacional de Fisioterapia Esportiva.

About the Author

Jorge Brandão

Fisioterapeuta, Osteopata, RPGista. Diretor da clinica Fisio Vida.

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