No dia em que Fortaleza parou, o saber de um dos nossos maiores pensadores, um desses seres humanos que admiramos no primeiro contato por sua sensatez e ética, pesquisador  e professor da universidade Federal do Ceará, Leonardo Sa. Assim, podemos identificar ou compreender essa loucura coletiva instalada no segundo dia de 2012 em Fortaleza.

 Por: Leonardo Sa

Sei que estamos já todos(as) cansados(as). O dia de hoje foi uma loucura coletiva, desrazão social, déraison social, como dizem os franceses. Fatos se misturaram com delírios e alucinações e vice-versa, o que nos ensina a ser mais humildes em tratar essas fronteiras como se fosse tão amarradas e dadas. Não as são! Tudo o… que é sólido se desmancha no ar, não é isso? Mas o que eu gostaria de compartilhar com vocês é o seguinte: para a maioria de nós que somos das camadas médias, médias altas ou altas, a sensação de medo, hoje gerada pelo descalabro que o governo deixou ocorrer no campo da segurança, é uma constante na vida das populações das camadas populares das mais de 600 comunidades dessa cidade onde vive um terço da população (em situação de favelamento). Nós experimentamos em um dia aquilo que para o povão é um ano inteiro de angústias, sofrimentos e perdas. E digo isso pois estou lá com meus amigos e minhas amigas do Pirambu, do Cristo Redentor, do Trilho, do Castelo, do Serviluz, do Pau Finhinho e muitas outras comunidades para quem envio um salve, uma saudação, e uma afirmação de que se houve pânico hoje na vida da cidade, isso foi para nos lembrar que vocês vivem em situação de pânico permanente. Nesse momento, há tiroteios ocorrendo em várias comunidades. As pessoas estão com medo, e irão sofrer com as perdas e com as consequências de um sistema de dominação baseado na “mania de poder”. Conclamo, portanto, amigos e amigas, a refletirem sobre isso. Vamos fazer nossa cidade, nosso estado, nosso Ceará, superar as barreiras de desigualdades que nos fazem tão distantes uns dos outros e que são a principal fonte de discórdia, ódio e violência entre nós. Democracia, paz, igualdade, justiça e luta para colocarmos antes dos nossos privilégios, a conquista coletiva de direitos para os segmentos que mais sofrem com a violência nossa de cada dia. Saudações libertárias! Valeu Carlos Irlando Oliveira Oliveira, obrigado por iluminar minhas reflexões nesse dia tão confuso e cansativo. Titanzinho, Serviluz. Cristo Redentor, Pirambu. Um salve em nome de vocês que estão segurando a barra mais complicada nesse momento, enquanto grande parte de nós está tranquila, calma, confortável, em suas casas e ruas, como eu estou aqui no Meireles, que parece ser outro planeta (mundo social), bem protegido, bem apartado de todo o “resto”. Não aceitemos o apartheid em nenhuma de suas formas.  Nunca!

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Jorge Brandão

Fisioterapeuta, Osteopata, RPGista. Diretor da clinica Fisio Vida.

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