Iniciei tarde a realizar meus  sonhos, apenas aos dezoitos anos de idade, enfrentei verdadeiramente minha primeira batalha, falar para meus pais, o que gostaria de fazer da vida. Primeiro, sair do meu Crato, enfrentar a vida e buscar um lugar ao sol, como tantos outros brasileiros, mas as condições financeiras não permitiam correr em busca dessa realização, De que forma? Sem grana e nenhuma oportunidade, mesmo assim, nutri dentro de mim ,esse sonho, essa busca de uma nova vida.

Um dia meu  padrinho Wilami Batista chamou a mim e a sua filha, Júlia Angélica, para estudarmos fora de nossa cidade, na capital e essa por nome tem Fortaleza. Lembro hoje meu entusiasmo e minha incredibilidade naquele fato,  foi em Campina Grande na Paraíba,  os primeiros passos  dados, não lembro o nome do amigo da época e nem  como posso encontrá-lo, para agradecer por ter me apresentado o que seria mais tarde, meu dom e destino, ser Fisioterapeuta.

Voltei a Fortaleza e foi em  uma universidade particular projetada por um idealista chamado Edson Queiroz, aonde eu  investir o dinheiro que não tinha, as possibilidades limitadas e os sonhos, meus sonhos, no meu âmago, tinha de fazer dos sonhos daquele tratorista e daquela costureira, meus pais, suas realizações. Podemos   enfatizar o peso da cobrança de quem supunha ter de pagar, até compreender de fato, não era nada pagável, era amor incondicional, não tinha preço, não tinha pressa e só em todos os dias vividos,  tem amor.

No início dessa nova vida, eu tinha tudo para errar, parecia ter acertado, fazer Fisioterapia. O primeiro comentário ouvido, “você, gastando o dinheiro sacrificado dos seus pais, em uma profissão que ninguém sabe, nem o que é”. Tantos e tantas as críticas, comentários absurdos, até esse momento.

Chegado meu primeiro contato com o mercado de trabalho, fui convidado a fazer estágio, os meus olhos brilhavam, feliz da vida, liguei para meus  pais no interior, consegui meu primeiro estágio, ainda no segundo semestre, vou conquistar meus sonhos. Não imaginava, ali construía meu pesadelo,  atendiam muitas pessoas ao mesmo tempo, carregavam  gelo de um lado para outro, campainhas tocando, o fisioterapeuta por trás de uma mesinhae  eu considerava ordinária  diante da mesa do médico dono da clínica. Eles nos exigiam muito, eram gelo, infravermelhos e aparelhos  desproporcionalmente em quantidades e eficiências.  Lembro, ligar para minha mãe no meio da tarde, chorava no orelhão, sei que muitos desconhecem esse objeto, era um meio publico de falar,  instalados em vias publicas, um telefone publico, isso ai, não havia celular. Eu dizia a ela: não quero isso pra mim, é muito ruim,  me sinto mal de vocês pagarem por tão alto custo e eu ser um carregador de gelo, ligar e desligar aparelhos.

Eu tive o privilégio de ter grandes professores, mestres inesquecíveis, um dia serei capaz de citar um a um, mas nesse momento vou citar os que fizeram acreditar no que faço:

Denise Moura: muitos plantões no Alberto Sabin, hospital infantil de Fortaleza, minha primeira oportunidade de conhecer colegas brilhantes e aprender o que era a saúde publica desse país, fragilizada e rica de capacidades e riquezas humanas.

Regina Celi: Mais que uma coordenadora, alguém capaz de reconhecer em um aluno suas capacidades, prova maior de humildade.

Isidrio Marques:  Esse o grande desafio, a primeira nota absolutamente vazia, colocando em risco a continuidade de uma bolsa e de um  sonho. Esse mestre chegou próximo a mim e disse: “você consegue”,  sua motivação me fez superar e alcancei uma nota privilegiada. Nessa só superei por conta do seu incentivo.

Veio-me depois a Dra. Vilalba Dourado,  se eu um tivesse que escreve minha história, teria capítulos e capítulos, ela faz parte de minha vida, me fez apaixonar pelo que sou e pelo que faço.

Tereza Morano:  Meu presente maior, depois de quatro anos e meio em uma faculdade, meu último puxam  de orelha, incrivelmente  humana, sensívelmente capaz de fazer ser reconhecida e melhor ainda , os seus alunos reconhecidos .

Mas chegou a hora de acordar, a realidade batia a porta, dificuldades a mil,  tinha de contar, além de Vilalba, com  ABCR,  sofro pelo seu fim, fiz parte de uma clínica iniciava na cidade de Fortaleza, um projeto ambicioso e nos dias de hoje vive fortemente em sua ideologia, chama: MEDFISO, de minhas queridas,  Carla Meireles, Deyse, Magda e Milzinha, não consigo chamar de outro jeito.

Conquistei um sonho chamado Fisio Vida junto a um grande amigo e parceiro da vida, Meudo Filho, hoje  administrada por quem exerce um papel maior,  minha única irmã de sangue e de alma, minha confidente e conselheira, Glaucia Brandão. Mesmo diante de tantos  desafios, foram  oitenta e oito participações  em eventos nacionais e internacionais como convidado, em dezesseis estados brasileiros, sou fundador com muita honra do curso de fisioterapia da FANOR e lá vive, talvez o maior projeto de minha vida profissional, autorizada e reconhecida pelo Ministério da Educação.

Iniciei uma carreira acadêmica, sendo pioneiro e instalando em Fortaleza a Fisioterapia Buco Máxilo facial, na FIC, Pela confiança e credibilidade de Grace Adeodato a quem sou eternamente grato.

Se me perguntarem hoje, é difícil ser um Fisioterapeuta  no Brasil? Direi sem medo, não mesmo. É um orgulho,  uma satisfação e aproveito a desejar a todos que possam construir suas histórias.  Eu sou muito feliz com minha própria história, ultrapasso esse  sentimento, sou honrado de ser Fisioterapeuta, sou orgulhoso de ser Cearense, sou como a maioria do meu país, sou Brasileiro, sou um apenas um pouquinho do meu rico Brasil.

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Jorge Brandão

Fisioterapeuta, Osteopata, RPGista. Diretor da clinica Fisio Vida.

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