Histórias Compartilhadas - Emily Gama

Histórias Compartilhadas / Imagem: Emilly Gama

Neste mês de abril, o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, localizado na Praia de Iracema, em Fortaleza, apresentará duas mostras de performance. As mostras Videografias Performativas e Entre-Performances serão realizadas em parceria com o Festival Ponto.CE e a Associação dos Produtores Independentes do Ceará (Aproince). A performance se caracteriza como uma linguagem artística que pode ganhar vida em qualquer lugar, a depender da proposta e criatividade do artista.

De acordo com a assessoria do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, dos dias 7 a 22 deste mês, a Multigaleria receberá a Mostra de Videografias Performativas, com os trabalhos Fortaleza é um ovo, de Marcelo Ikeda; Vo(L)to, de Ogiva – ação.imagem; Pachamama, de Natalia Coehl; Dia Internacional do Cafuné, de Juliana Capibaribe; Mensurar, de Waléria Américo; e Atalho Para o Nada, de Júnior Pimenta.

Do dia 15 até o dia 17, a Mostra Entre-Performances se apresenta com a premiada Os Cegos, do Desvio Coletivo; seguindo com O Lixo também ergue muros: CORPOENTORNO, de Artur Dória; Heólia, de Vanessa Santos; Bichxs – Alimente os Animais, do coletivo No Barraco da Constância Tem!; Lutus, de Eric Barbosa e Diego Salvador; Pedras Portuguesas – Pedras que se deslocam, Ana Carla de Souza, de William Pereira Monte e Honório Felix; Histórias Compartilhadas ou dos Corpos que Não se Bastam, do Outro Grupo de Teatro e Quatro Homens e uma Jangada, de Eric Barbosa.

Mostra de Videografias Performativas

Fortaleza é um ovo (Marcelo Ikeda)

É uma performance apresentada por Sara Síntique, realizada no Passeio Público, em Fortaleza, como parte da programação do Mês da Fotografia. Nele, Sara quebra 90 ovos em diversas áreas de seu próprio corpo, enquanto executa um conjunto de ações. O cinegrafista Marcelo Ikeda tomou como base a performance de Síntique para realizar uma obra audiovisual, promovendo o diálogo entre as manifestações artísticas, algo que se aproxime do vídeo, da performance e da dança.

Vo(L)to (Ogiva – ação.imagem)

Foi criado a partir do cotidiano pessoal transformado em arte/ativismo e das inquietações que ocorrem no período eleitoral. Os onze candidatos à presidência do Brasil carregam discursos e argumentos e a sociedade civil carrega a decisão. Decisão por qual lógica? Que peso é esse que carregamos que volta a cada eleição? Idealizada e realizada pelo performer Aquele Mario, a performance foi impulsionada pelas discussões sobre o sistema político vigente, ao representar, através de pedras, os candidatos à presidência e o título de eleitor, que o performer carregou durante três horas de deslocamento até o local de votação.

Com a captação de imagens de Marie Auip e o olhar artístico de Ágata Melquíades, a performance se transformou em vídeo. Desde 2014, Vo(l)to já foi apresentado no Festival Ipêrformático, em Campo Grande (MS); Festival IP, com Circulação Nacional; e na Mostra Convergência, em Palmas (TO), do Sesc Tocantins.

Pachamama (Natalia Coehl)

É uma ação performativa de impacto, que questiona a produção e o descarte do lixo, trazendo em evidência aquilo que não se tem interesse em ver. A intervenção se inicia duas semanas antes, a partir do acúmulo de lixo produzido neste período. Todos estes resíduos são amarrados em uma rede de pesca, criando assim a indumentária da performance. O intuito é trazer para o corpo a sensação de estar sufocada e presa, dificultando assim a movimentação.

Dia Internacional do Cafuné (Juliana Capibaribe)

Ação performática, de vida, de rezo, disseminação do Dia Internacional do Cafuné e da Reza de Embalar da personagem fictícia “A Rezadeira Vândala”. Intervenção Artística na Avenida Paulista, no dia 12 de janeiro de 2016, durante a manifestação contra a tarifa de R$ 3,80. (…) Divulgação de uma notícia de comemoração inventada: Dia Internacional do Cafuné; disseminação de um rezo vândalo: reza de Embalar Seu Menino e Dona Menina; fazer existir de uma personagem: A Rezadeira Vândala, que surgiu junto às notícias de manifestações políticas em 2013 e 2014, em Fortaleza.

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Mensurar / Imagem: Bruno Vilela

Mensurar
Waléria Américo

Andar deitada, cobrir uma extensão com o corpo e demarcar o tamanho do lugar por cada pausa. A coleção de medidas particulares soma a imprecisão. Miragem em ato para a cidade ou imagem ponte da qual liga distâncias sentidas. Assista aqui.

Atalho Para o Nada (Júnior Pimenta)

A opção de Júnior Pimenta pelo passo como unidade mínima aposta na economia dos gestos e das significações como abertura de sentidos, mas também de absurdos – o sem fundamento, sem raiz – como condição de existência. É assim que, em “Atalho para o nada”, ele se desloca entre dois pontos quaisquer que não vemos porque escapa do campo de visão recortado pelo vídeo. Ele se desloca entre três paisagens distintas, produzindo sulcos nas terras. O corpo extenua-se, os passos demarcam um território inútil, o movimento repete o ir e o vir para nenhum lugar ou para lugares que nos são invisíveis. Se atalho é, por princípio, um desvio das rotas demarcadas, o do artista produz linhas paralelas àquelas do horizonte: como latitudes visíveis e, todavia, indestinadas e absurdas.

Mostra Entre-Performances

Os Cegos (Desvio Coletivo)

Performance urbana realizada em parceria com o Laboratório de Práticas Performativas da Universidade de São Paulo. Seu caráter de obra aberta remete a diferentes leituras: a redução da nossa existência à função produtiva e ao consumo, o excesso de trabalho, o aprisionamento e a petrificação da vida, a automatização do cotidiano, a degeneração ética que se alastra no atual estágio da sociedade. A proposta visual de Cegos faz uma crítica à condição massacrante característica de todo tipo de trabalho corporativo iconizado no terno e gravata usados pelos homens e no terninho ou tailleur adotado por mulheres nas grandes metrópoles.

O Lixo também ergue muros: CORPOENTORNO (Artur Dória)

Um processo que o artista denomina de “mistura caminhante”. Retalhos de imagens experimentais que entortam e embaçam a vista; sentido mais valia. O quê|quem será esse que caminha entre passantes, tão afoitos por se divertir? Ele se avoluma em resquícios, partes indecifráveis de um entorno desaparecido, que só oferece as margens a uma cidade escancaradamente desovada. Zona morta? É na experiência íntima deste choque que um híbrido é gerado. Um corpo-muro que se desloca em direções indistintas, não anunciadas.

Heólia (Vanessa Santos)

Heólia tem como tema a relação do ar com o corpo e suas poéticas. Um devir-coisa fecundado pelo deslocamento dessas fronteiras que delimitam o sujeito e o objeto gerando outras subjetividades a partir de um elemento-corpo em comum, o ar. Ele na obra preenche, atravessa e transforma os corpos em um só. Ar esse que é corpo que afeta e compõe. O processo iniciou no final de 2013 em um laboratório de criação no curso de Bacharelado em Dança da Universidade Federal do Ceará.

Lutus (Eric Barbosa e Diego Salvador)

O processo criativo performático apresentado pelos artistas Eric Barbosa e Diego Salvador retratam o luto como representação e seus desdobramentos por fases sensoriais e como cada ser lida com seus processos de luto. O trabalho desenvolvido evolui de acordo com as lembranças apresentadas de cada artista e, da forma como são abordadas e expostas, representando o luto pessoal de cada. Seus estigmas, traumas, dores, figuras, objetos, a simplicitude, o resguardo, o silêncio, pseudo-superações, sons e escutas íntimas em um brado de resignações, expostas como disparador do ato performático dos artistas aqui envolvidos.

Histórias Compartilhadas ou dos Corpos que Não se Bastam (Outro Grupo de Teatro)

Corpo, Mídia, Gênero, Pênis, Mulher, Vagina, Homem, “Disforia”. Fragmentos do Cotidiano e vozes misturadas. O eu como uma construção. O Gênero não como meritocracia das genitálias. Corpos que, na tentativa de coexistir, rompem os limites da resistência e fazem da presença um símbolo de luta. Para não se afogar em silêncio todos os dias e cada dia mais um pouco, a gente tem que gritar: Todos os corpos são certos. Veja o teaser.

Serviço

Mostra de Videografias Performativas
Quando: 7 a 22 de abril
Visitação: de terça a sexta, das 10h às 22h (com acesso até das 21h30); sábados, domingos e feriados, das 14h às 21h (com acesso até as 20h30).
Onde: Multigaleria
Acesso gratuito

Mostra Entre-Performances
Quando: dias 15, 16 e 17 de abril
Onde: percursos pelo Dragão do Mar
Acesso gratuito

Por Glauber Sobral
antonioglaub@gmail.com

About the Author

Rubens Rodrigues

Jornalista. Na equipe do O POVO desde 2015. Em 2018, criou o podcast Fora da Ordem e integrou as equipes que venceram o Prêmio Gandhi de Comunicação e o Prêmio CDL de Comunicação. Em 2019, assinou a organização da antologia "Relicário". Estudou Comunicação em Música na OnStage Lab (SP) e é pós-graduando em Jornalismo Digital pela Estácio de Sá.

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