um-brinde-ao-desencontroDizem que o combinado não sai caro, mas há dias em que tudo foge ao nosso controle, a esse pré-combinado que garante a organização da rotina. São aquelas horas nos lembrando que não temos o domínio que achamos ter sobre os acontecimentos e sobre as pessoas. É quando tudo parece desencontrado e irritante. Soa familiar para você?

Nessas ocasiões, é comum procurarmos aquele bendito ser em quem por a culpa. Às vezes, nós mesmos estamos na mira. De tudo um pouco, todos e ninguém somos responsáveis pelo desenrolar dos fatos. Foi como tinha que ser, a nossa revelia. Assim é a vida, selvagem.

Digo isso porque é habitual que os desencontros nos gerem pensamentos do tipo “O que deu errado?”, “Em que parte eu tive culpa?”, “O que poderia ter sido feito diferente?”. Já passou pela sua cabeça algo assim?

Afora as melhorias que podemos tirar de cada conto, o que incomoda nesses casos são as réstias de culpa que nos atazanam o juízo. Ficam lá, martelando, depondo contra nossa competência e maturidade em lidar com as situações. Mas a questão a entender, e principalmente a aceitar, é que não damos conta de tudo, apesar da nossa sensação de onipresença. Não. Não podemos consertar o mundo, as pessoas, o passado, nem colocar um laço e ajeitar os “erros” na mesma hora.

E como lidar com aquele mal estar interno quando algo não vai como o nosso planejado? Podemos nos perguntar: “Fizemos o nosso melhor?”, “Realizamos tudo que estava ao nosso alcance?”. Só que isso não ajuda muito quando a sensação de erro segue no encalço.

Em geral, essa perseguição culposa pode nos remeter à velha e repetida crença de que “não somos bons o suficiente”. E já se avista no horizonte a conhecida senhora chamada autoestima. Muitos percalços esbarram nela, mesmo quando a ligação parece improvável, ou muito ou pouco, retornam ao dilema do sou ou não sou.

Fico invejosa de quem liga o cobiçado botão do “deixa para lá” (para não dizer o “foda-se”) e segue sua rotina leve, dorme bem e acorda no dia seguinte com a pele de pêssego. Sábios ou antiempáticos, essas criaturas vivem mais. Não guardam remorsos, criam rugas de idade e não de preocupação, e bebem café sem culpa.

Ah culpa! Ideia bobinha e persistente que inferniza nossos dias desencontrados e nos faz acreditar que nascemos com defeito de fábrica.

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Rubens Rodrigues

Jornalista. Na equipe do O POVO desde 2015. Em 2018, criou o podcast Fora da Ordem e integrou as equipes que venceram o Prêmio Gandhi de Comunicação e o Prêmio CDL de Comunicação. Em 2019, assinou a organização da antologia "Relicário". Estudou Comunicação em Música na OnStage Lab (SP) e é pós-graduando em Jornalismo Digital pela Estácio de Sá.

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