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“Se era impossível, eu fiz milagre”. O verso seguido de “lacre” não poderia ser mais categórico. Logo na primeira faixa do álbum Orgunga, Rico Dalasam manda o recado: “inteligência, caráter, cara de pau e feeling”. É com esse espírito da geração que brada empoderamento que o rapper paulistano se apresenta em Fortaleza pela segunda vez neste sábado, 4, desta vez no Órbita Bar.

Cheio de significado, o disco foi lançado em junho do ano passado depois do destaque que Rico Dalasam ganhou com o EP Modo Diverso (2015). Orgunga, assim como o sobrenome artístico, foi uma palavra criada pelo próprio cantor e significa orgulho que vem depois da vergonha. “É mais uma coisa de resistência do que algo pop”, conta em entrevista por telefone.

“Sempre fui ouvinte do rap. Comecei a participar das batalhas de MC por volta dos 18 anos, que foi quando eu me descobri MC. Entendi que sabia rimar”, lembra. “Eu já tinha minha identidade, mas tinha a coisa de não ter lugar de fala. Não tinha voz e nem tinha o que falar. Agora, quando você não tem voz, parte para a imagem”.

O cantor conta que se entendeu visualmente desde cedo. Colorido, por vezes andrógino. De cabelo curto ou longo, mas sempre de maneira que se destacasse. “A construção da imagem é difícil. Não adianta o artista ter forte relação com as marcas se ele não tiver uma identidade que percorre um caminho que mostra sua originalidade”, avalia. “A imagem precisa ser de resistência, bonita, forte e delicada”.

“Tenho um carinho muito grande pelo Modo Diverso porque sabia que ia acontecer. Escrevi coisas que não tinha vivido ainda. Dividi dores de muito tempo que estavam guardadas, e dividir imaginário e bagagem foi algo muito novo pra mim”.

Cantar o orgulho negro e gay é algo presente em sua música, mas nem sempre foi assim. Houve um tempo em que mesmo enfrentando preconceito, ainda não conhecia os “termos de luta”. “Eu sabia que eu era uma consciência de resistência, sabia o que era empoderamento, mas não conhecia os termos”, revela. “Sabia que de alguma forma as pessoas se viam em mim, assim como eu me via nas pessoas. Já exercia essas ideias”. Cabeleireiro dos 13 aos 24 anos, quando estourou na música, Rico afirma ainda que “discutir os temas sociais é uma questão de oportunidade”.

Para Dalasam, a possibilidade de criar códigos é essencial quando se trabalha com narrativas. “Eu penso muito nisso antes de dividir meu trabalho com o público. Se você ouvir Procure, ela é cheia de códigos, de trava língua”, diz. Mas isso não parece preocupar o artista de 26 anos. “O tempo vai ajudando as pessoas a decifrarem”.

Lançada apenas seis meses depois do disco, Procure já anuncia o próximo registro. O cantor e compositor, contudo, ainda não quer entregar muito do que vem pela frente. “Ainda não sei se vai ser um EP ou um disco, mas Procure é o caminho, a direção com linguagem mais pop e ainda assim muito trava língua”, indica. “O Orgunga foi algo de amadurecimento. É um disco mais para marcar o momento”.

Rico chega a Fortaleza em meio a construção de um novo show. Além das músicas do Modo Diverso e do Orgunga, ele canta Todo Dia, música que escreveu para Pabllo Vittar, com quem divide os vocais, e Mandume, que gravou com Emicida. “Vai ser assim. Tudo pulsando muito”.

https://www.youtube.com/watch?v=HT1LTv5FHTY

About the Author

Rubens Rodrigues

Jornalista. Na equipe do O POVO desde 2015. Em 2018, criou o podcast Fora da Ordem e integrou as equipes que venceram o Prêmio Gandhi de Comunicação e o Prêmio CDL de Comunicação. Em 2019, assinou a organização da antologia "Relicário". Estudou Comunicação em Música na OnStage Lab (SP) e é pós-graduando em Jornalismo Digital pela Estácio de Sá.

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