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Jaime Melo não cresceu como um artista tradicional. Longe da música e isolado da cena local até os 18 anos, o paraense de Castanhal é uma das grandes surpresas que a música pop trouxe nos últimos anos. Jaloo, como é conhecido artisticamente, carrega fortes referências da música indie e eletrônica, mas a maior delas é também a mais brasileira: tecnobrega. O movimento surgido em Belém do Pará talvez não tivesse abraçado o produtor com tanta propriedade enquanto lá ele estava, mas encontrou nele um dos seus representantes mais autênticos. Ele vem a Fortaleza pela primeira vez, neste sábado, 11, atração do Pré-Carnaval do Órbita Bar.

No começo como produtor, há sete anos, remixou canções de Beyoncé, Amy Winehouse, Grace Jones, gravou versão de “Baby”, da Gal Costa, e até juntou gente nada parecida musicalmente como Grimes e MC Carol na mesma música. Em 2014, Jaloo se encontrou como artista. A prova chegou no mercado com o EP Insight, que trazia na capa os dizeres “paz e amor” e “vida louca”, só que em latim. Disposto entre as palavras, o próprio cantor usando uma coroa de isqueiros, no céu, representando uma entidade sacra. Daí ficou claro que Jaloo tinha uma mensagem a passar e sabia exatamente o que estava fazendo.

Inventivo, ele fala que a trajetória que liga o EP ao seu disco de estreia lançado em 2015, #1 (lê-se ‘primeiro’), marca a transição entre o produtor e o artista. “Eu predefini o caminho que ia ser seguido. Todas as questões como imagética, linguagem usada nos clipes, paleta de cores, tudo foi pensando antes”, explica.

Das 12 faixas do disco lançado pelo selo da Skol Music (Stereomono), quatro ganharam clipe: Insight, Chuva, Ah! Dor! e Last Dance – todos com direção do próprio Jaloo. Até o Carnaval, o cantor promete mais um clipe e, para os próximos meses, um vídeo ao vivo que está em processo de finalização. “Ah, mas as músicas eu não digo quais são, porque os fãs vão me cobrar muito se eu revelar”, ri do outro lado da linha. “A gente tá explorando tudo isso do disco até o final, já estamos meio que num período de despedida”.

Para o cantor, a turnê traçou um percurso de evolução artística. “Foi um caminho que eu segui junto com os fãs. Eles foram aumentando e uma coisa que eu percebi, um pouco pela minha timidez (no palco) e por ser algo novo pra mim, é que eles confiam muito no meu trabalho”, continua. “Minha timidez é inerente e eu uso muito a meu favor. Tem a ver com carisma também”.

É todo o domínio que tem sobre seu trabalho que leva o paraense ao palco de um dos maiores festivais do mundo. Ele é uma das atrações do Lollapalooza Brasil, que ocorre em março próximo, no Autódromo de Interlagos, em São Paulo. Além dele, o festival recebe The Weeknd, The XX, Duran Duran e nomes importantes no recente cenário nacional como Céu e o cearense Daniel Groove. “(A preparação para o Lolla) tá sendo uma correria doida, mas vale a pena porque é uma vitrine incrível. A gente quer fazer o melhor show possível e dar pista do novo caminho que a gente vai seguir”, revela. No festival, o cantor de 29 anos deve tocar pela primeira vez uma música do seu próximo trabalho.

Próximos passos

Apesar dos passos bem definidos na primeira jornada, o próximo trabalho deve ser mais livre. “Eu já venho de uma juventude de consome internet, que conhece o mundo por meio dela e a minha música é meio que um reflexo disso, um recorte, um livro de referências. E o público percebe que cada ponto do #1 tem a ver com de onde eu vim e com o mundo que conheci”, elabora. “Tanto é que nesse segundo disco eu estarei mais desprendido. Ele é focado nessa história de agora, de alguém que já viajou, conheceu o mundo e pessoas”.

Viciado no hit sertanejo “50 Reais” e com as músicas de AlunaGeorge, Mahmundi e Ludmilla tocando no mp3, Jaloo adianta que seu próximo registro vai ser “mais pesado”, relacionando com a experiência do cantor no palco. “Será um trabalho mais alegre e orgânico”. Mas até lá, ele pede que o público “beba muita água” antes dos seus shows. “Vai ser bem louco”.

About the Author

Rubens Rodrigues

Jornalista. Na equipe do O POVO desde 2015. Em 2018, criou o podcast Fora da Ordem e integrou as equipes que venceram o Prêmio Gandhi de Comunicação e o Prêmio CDL de Comunicação. Em 2019, assinou a organização da antologia "Relicário". Estudou Comunicação em Música na OnStage Lab (SP) e é pós-graduando em Jornalismo Digital pela Estácio de Sá.

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