4 de março ficou marcado pelos fãs como o World Evanescence Day

How can you see into my eyes like open doors?

Como você consegue enxergar em meus olhos como portas abertas?

A pergunta vem do primeiro verso que Amy Lee cantou para o mundo, há 14 anos, quando lançou o single de estreia do Evanescence: Bring Me To Life. A canção, que ao lado de My Immortal é tema do controverso filme Demolidor, de Mark Steven Johnson, anunciava uma banda que trabalhou por quase uma década antes de ser lançada ao mundo, com uma musicalidade que soava fresca e autêntica.

Uma garota à frente de uma banda de rock em um ano comandado pelos homens? Wow!

Fallen (Wind-Up Records), chegou às lojas no dia 4 de março de 2003. Inicialmente vendido como “rock cristão”, alcunha que perdeu rapidamente, tem 11 faixas e quatro singles. Vencedor de dois Grammy Awards (Best New Artist e Best Hard Rock Performance) e com 17 milhões de cópias vendidas, passou mais de 40 semanas no Top 10 da Billboard, algo até então inédito para uma banda de rock com vocal feminino.

É do Fallen o hit Going Under, um grito de combate ao relacionamento abusivo numa época em que o empoderamento não era uma ideia tão bem difundida, e Everybody’s Fool, uma crítica à indústria da música pop norte-americana. Mesmo com letras pessoais, o Evanescence abordou desde cedo temas pesados, como o suicídio em Tourniquet, regravação da banda Soul Embraced, e Whisper. Além disso, My Last Breath foi composta depois da tragédia do 11 de setembro, e Hello é sobre a morte da irmã de Lee, que partiu quando a artista ainda era criança. A morte sempre foi um tema presente nas músicas da banda.

Mesmo que este não seja um álbum exatamente conceitual, existe um conceito trabalhado por trás das letras e do título do Fallen (caído, em tradução literal). A possibilidade de se levantar após uma queda. O Evanescence se apropriou do trágico como forma de superação.

Criada na cidade de Little Rock, no Arkansas, a banda era formada basicamente por duas pessoas, Lee e Ben Moody, até a chegada de David Hodges, um terceiro e essencial membro para a produção do disco de estreia. Com produção de Dave Fortman (que trabalhou com bandas de nu metal como Mudvayne, Otep Slipknot), todo o processo de gravação foi com os três músicos – e alguns convidados, durante o ano de 2002, nos estúdios da NRG Recording e Conway Recording, em Los Angeles. A parceria com Fortman é a origem de aspectos característicos do nu metal na música do Evanescence. Sonoramente, a banda vai além.

Fallen ganhou versão em vinil roxo em 2013, em comemoração aos 10 anos de lançamento

O disco marca a saída de Moody, co-fundador do grupo, com quem Amy tinha uma relação conturbada. Pessoas próximas à banda, na época, chegaram a contar que os dois tinham um relacionamento abusivo, tanto física quanto psicologicamente. O que explica a letra de Going Under e várias canções que seriam compostas nos anos posteriores pela artista. Ben saiu da banda no meio da turnê mundial, sem explicações. Um dos empresários chegou a mandar que Amy impedisse a saída do ex-companheiro – o que ela claramente não fez.

Ben foi substituído por Terry Balsamo, que ficou no posto de guitarrista por mais de 10 anos. John LeCompt (guitarra), Will Boyd (baixo) e Rocky Gray (bateria) completavam a formação.

O mérito do Fallen – além de lançar luz sobre as bandas de rock com vocal feminino, que mesmo reconhecidas dentro de cada nicho, como Garbage e Nightwish, não ganhavam tanto destaque nas mídias de massa – é mesclar características tão distintas musicalmente. Riffs de nu metal, orquestra, corais, piano clássico, elementos eletrônicos e a sensibilidade vocal de Amy Lee. Está tudo aqui, em perfeita harmonia. O dia 4 de março acabou sendo eleito pelos fãs do grupo o Dia Mundial do Evanescence.

About the Author

Rubens Rodrigues

Jornalista. Na equipe do O POVO desde 2015. Em 2018, criou o podcast Fora da Ordem e integrou as equipes que venceram o Prêmio Gandhi de Comunicação e o Prêmio CDL de Comunicação. Em 2019, assinou a organização da antologia "Relicário". Estudou Comunicação em Música na OnStage Lab (SP) e é pós-graduando em Jornalismo Digital pela Estácio de Sá.

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