Por Amanda Araújo

Banda CPM 22

Banda promete música nova para a próxima sexta-feira, dia 17 de março (Foto: Divulgação)

Prestes a completar 22 anos, a banda de hardcore melódico CPM 22 chega a Fortaleza no próximo dia 29 de abril para o festival Ponto CE. O show do grupo paulistano, que se apresentará na barraca Biruta com as bandas Rocca, Backdropfalls e Lemori, integra nova turnê. Novas músicas farão parte do setlist, mas os hits preferidos do público também estão garantidos, segundo o guitarrista Luciano Garcia, 38. Até o fim do ano passado, eles apresentavam a turnê do ao vivo gravado no Rock In Rio.

“Vamos soltar quatro músicas do disco novo nessa mini-turnê do Nordeste”, indica Luciano. “O plano é sair no dia 17 de março”. Ele promete um show com fôlego para apresentar algumas prévias do 10º álbum do CPM 22, ainda sem data oficial de lançamento. Serão 16 faixas, prontas há mais de um ano, mas que tiveram que ser postergadas para a continuação da última turnê comemorativa dos 20 anos.

“A gente ama hardcore melódico, o disco novo tem muito disso. Tem punk rock meio Ramones. O hardcore é um braço punk rock, só que um pouco mais rápido”, diz o guitarrista. O grupo paulistano se apresentará na barraca Biruta com as bandas Rocca, Backdropfalls e Lemori.

Desde o retorno de Fernando Sanches (baixo), em julho de 2016, a banda está com cinco integrantes. Além de Luciano (guitarra), compõem a banda Badauí (vocal), Japinha (bateria) e Phil (guitarra).

Carreira

Pai do pequeno Martin, 4, Luciano começou a tocar violão aos 11 anos. Não parou mais, e a música continua sendo sua única profissão. “Era o que eu sempre quis e tenho certeza que os outros caras também. Todo mundo já passou por um monte de bandas underground”.

Hoje, com a carreira consolidada e público fiel, Luciano explica que a banda consegue conciliar a vida pessoal com uma bateria de shows menos intensa no que nos anos 2000. “Aqui em São Paulo dá para balancear legal. A gente não quer abraçar o mundo, queremos fazer o que gostamos de uma maneira saudável. O CPM é um som que a gente gosta, virou trabalho depois. Fazemos com muito amor e muita vontade”, afirma.

Leia entrevista completa com Luciano Garcia:

Quais os desafios de manter uma banda profissional por mais de 20 anos e, além disso, manter a amizade entre os integrantes? Ou essa parte foi mais fácil?

A gente briga igual irmão, se ama igual irmão. Hoje em dia é muito mais fácil, pensamos: ‘Puta, como a gente perdeu tempo para decidir algumas coisas’. A gente viaja em 11 homens e a Dani produtora, que é uma guerreira por aguentar todo mundo. A experiência ajuda muito. Questão de banda mesmo, toda banda tem altos e baixos. No Brasil, o gênero rock vai e vem, é gangorra, se tá rolando muito na TV aberta ajuda. Teve um momento bem difícil em 2009, 2010, de não ir tanta gente. [A gente] nunca fraquejou, sempre acreditou. Ouvimos muito ‘tem mudar um pouco’. Nem a pau vamos mudar o nosso som! Daqui a quatro, cinco anos vamos saber se a gente tava certo de manter a nossa raiz e o nosso som. Tem gente que acha que punk rock e hard é coisa de ‘moleque’, mas dá uma olhadinha nisso. Bandas como Bad Religion, Face to Face, Live ainda arrepiando e a gente vai continuar assim.

O CPM 22 marcou os anos 2000 em um período de efervescência do rock brasileiro, junto com bandas como Charlie Brown Jr e Detonautas. De lá pra cá, em que aspectos o rock brasileiro se fortaleceu e se enfraqueceu?

Acho que enfraqueceu por causa de algumas tretas no rock, não vem ao caso discutir relações pessoais entre as bandas ou gosto musical. Quanto mais banda de rock fazendo som original, mais fortalece o gênero. Mas teve a morte do Chorão e depois do Champignon, aquela parada que deu no Raimundos. Hoje o Raimundos faz show cheio, e eles tiveram momentos difíceis. A Pitty teve que parar por causa da gravidez. Junto com a menor exposição [do rock] na grande mídia. Mas é como eu disse, o rock não é o primeiro, nem segundo, nem o terceiro [a passar por isso]. Deu uma enfraquecida, pelo menos, banda nova ‘tá’ muito difícil, original. Lá fora também, a gente conversa direto sobre isso. A gente gosta dos discos das bandas velhas, ‘ah não, vamos ouvir só o que é antigo’. Quando aparece uma nova e a gente curte dá graças a Deus, um respiro. Tem que ser original. Lembro que nos anos 90 cada uma tinha o seu, tava todo mundo fazendo, nos anos 90 não parecia com o Ultraje, que não parecia com o Ira. Hoje em dia vejo muito “bom, vamos fazer o som que deu certo”, o que vai dar mais views no YouTube. Você tem que acreditar, se a gente pode deixar algum exemplo: faça o seu som, faça o que você gosta e acredita de verdade. A gente toca hoje em formatura, e a molecada de 23 e 24 cantando todas as nossas músicas. Se isso não é um exemplo de superação… Toca o DJ, funk, e tem a hora e meia de CPM que é pro rock.

Apesar de ser uma banda punk rock na essência, o CPM 22 foi por muitos anos ídolo teen daquela geração de 2000. Como vocês acham que isso contribuiu para desmistificar o rock? Vocês se arrependem de alguma forma dessa fase mais ‘comercial’?

A gente não se arrepende de nada, a gente quer manter nossa essência, quem quiser gostar do CPM22 seja bem vindo, de todo os níveis da população e classe. Senão a gente ficava só na cena underground… ou você mergulha de cabeça, o corpo inteiro.

Desde 1999 ouço isso dos caras e abracei isso. A gente quer tocar isso, essa ‘molecada teen’ ‘tá’ se formando, na hora lá da votação de que banda você quer, tem COM 22 . No fim do ano vou ser padrinho de casamento de um fã, virou amigo dos meus amigos. A gente acompanha o crescimento deles; eles acompanham o nosso, e a gente o deles. Arrependimento? Muito pouco, mais aprendizado.

O investimento no sertanejo, como vocês falaram em outra entrevista, chacoalhou o mercado punk rock. Como driblar esse ciclo? Investir em turnês comemorativas, com os clássicos, é uma forma de chamar atenção para o que há de novo?

Eles têm dinheiro, não tem como driblar, ganharam com mérito! Se tem que botar dinheiro para botar execução a mais, eles têm. A gente, não. E também não queremos competir. O que só acho ruim é só ter espaço para isso e ficar essa coisa ‘massificante’ porque tem um monte de gente que gosta de coisas diferente. Mas competir e driblar? O que a gente pode fazer é acreditar no que a gente faz e acreditar no nosso som. E a gente tem muito amigo [do sertanejo]. Tenho amizade com Chitão, sou amigo do filho dele. A gente respeita muito, mas também podia ter um pouquinho de mais espaço para o rock.

Eu tenho certeza que a turnê no Nordeste vai encher, lógico que tem publico. São meio que capítulos, lançamos uma coletânea de 20 anos, em julho de 2015, justamente para marcar. Só faltava o disco acústico, a gente compôs todas acústicas sem violão. O mesmo agora, um novo ciclo. Chega de ao vivo, de releituras, agora temos que lançar três CDS seguidos de inéditas.

Vocês ficaram um tempo como uma banda independente. Por que tomaram a decisão de retomar contrato com a Universal ?

A gente ficou com uma gravadora independente, rescindimos contrato [com a Universal] em 2009 e acabamos voltando. Fizeram o acústico, ai agora estamos como artista da casa mesmo. Gravadora ajuda muita na divulgação de TV, distribuição do disco, por exemplo. Voltamos por causa do Paul Raplphes, a gente trabalhou com ele no estúdio Coca-Cola, na época era com o Babado Novo. Quando a gente foi fazer o acústico, ele era da Universal. Obviamente tem outras pessoas que a gente gosta, mas a gente confia muito nele como produtor, como amigo. Ele é um cara que é do meio musical que ainda tem uma veia da ‘musica verdadeira’, de valorizar. Ele consegue fazer o meio de campo muito bem entre o cara de gravadora e o que produz. Isso da uma segurança a mais.

Vocês começaram quando a principal forma de divulgar canções era emplacando músicas nas rádios. Agora, o contato com o público é muito mais pela Internet. Como está hoje essa apropriação das mídias para divulgação do trabalho? Vocês acompanham os comentários dos fãs?

Acompanhamos muito, a gente posta, é o termômetro.Mas, também não dá se você se deixar abalar por meia dúzia de idiotas, melhor nem olhar. É importante ter um feed back em real time . A gente soltar as músicas, cinco minutos depois já vai ter uma galera comentando o que achou. Lógico que ajuda, mas ás vezes também o que chega muito rápido vai embora muito rápido. As coisas jogadas fora muito rápido, sei lá, acho meio estranho, mas em proximidade com fã ajuda muito.

O que o público pode esperar desse show em Fortaleza? 

Quem já foi sabe qual é a nossa escola do punk rock, que não é só tocar. Gostamos de interagir, a gente não para no palco um minuto, parece que temos 20 anos. O corpo continua com toda energia. (Vai rolar) algum cover, músicas antigas e novas… A gente não renega nossos sucessos, muito pelo contrário. A gente tem orgulho dos nossos sucessos.

Serviço

Ponto CE
Com as bandas CPM 22, Rocca Vegas, Lemori e Backdrop Falls

Dia 29 de abril
Barraca Biruta (av. Zezé Diogo, 4111)
R$ 42 (pista meia / 1º lote)

Vendas:
Brother Point Shopping Parangaba (1º andar). Tel.: 3484-2813.
Brother Point RioMar Kennedy (2º andar). Tel.: 3032-0810.
High Score Boardshop Shopping Center Um (1º andar). Tel.: 3268-1248.

About the Author

Rubens Rodrigues

Jornalista. Na equipe do O POVO desde 2015. Em 2018, criou o podcast Fora da Ordem e integrou as equipes que venceram o Prêmio Gandhi de Comunicação e o Prêmio CDL de Comunicação. Em 2019, assinou a organização da antologia "Relicário". Estudou Comunicação em Música na OnStage Lab (SP) e é pós-graduando em Jornalismo Digital pela Estácio de Sá.

View All Articles