Fazendo metal em Fortaleza desde 2010, a banda In No Sense lançou, no ano passado, seu primeiro álbum de estúdio: “Despertar“. Produzido pelo guitarrista Lucas Arruda e o baterista Vicente Ferreira, ambos do grupo, o disco foi mixado e masterizado por Adair Daufembach, que traz no currículo bandas como Hangar, Project46 e Aquiles Priester, em Los Angeles.

A oportunidade para realizar o registro veio após a banda ser contemplada com o Edital da Juventude, na Capital cearense. Gravado entre agosto e dezembro de 2015, “Despertar” foi lançado em fevereiro de 2016 com show no Theatro José de Alencar. A In No Sense lançou ainda o documentário que leva o nome do disco e mostra, em 40 min, o processo de gravação.

Este ano, a banda tocou no Garage Sounds, em Fortaleza, e no DoSol, no Rio Grande do Norte. Nesta sexta-feira, 10, eles se apresentam no Festival Ponto.CE, na Barraca Biruta, na mesma noite da banda alemã Accept e do Korzus (SP).

Ao Blog, o vocalista Jeferson Veríssimo comenta, faixa a faixa, momentos e conceitos que o disco abarca. “O álbum inteiro tem mensagens positivas, pra escutar, refletir, absorver coisas boas. São letras que levantam a autoestima, apesar do estilo ser agressivo”, diz. Jeferson Matheus Ferreira (guitarra/Vocal) e Adilson Silva (baixo) completam a formação.

Faixa a faixa: Despertar (2016) – In No Sense
Por Jeferson Veríssimo

“A letra de Despertar é uma reflexão. Não foi rápida de ser feita. Eu já tinha a ideia do nome ‘Despertar’, achava uma boa palavra, e pensando nisso ela foi desenvolvida. Reflete a vontade de vencer barreiras, superar as dificuldades. Depois que enfrenta o problema, você desperta, vê as coisas como realmente são e fica mais forte. Você se fortalece com as suas derrotas”.

Cárcere é uma letra antiga que a gente já vinha tocando antes de saber que iria gravar o Despertar. Ela foi acontecendo. Foi montada durante os ensaios. A letra fala da violência no cotidiano. O medo que as pessoas têm de andar na rua. A certeza da impunidade dos criminosos. O fato da gente viver preso dentro de casa, com pseudo segurança que na verdade não nos garante nada. O crime acontece em qualquer lugar, em qualquer horário, com qualquer pessoa. Tem uma parte da letra que fala em salvar da condenação os que ainda não despertaram para o mal. Ainda há esperança de educar as crianças e transformar o Brasil em um país melhor”.

Cão foi composta de uma forma bem rápida. A gente já tava em processo de gravação. A melodia já havia sido feita e eu tive que escrever em cima dela. Guitarra rolando, ficava escutando, tentando montar uma métrica que ficasse legal pra letra. Pensei na primeira frase e fui construindo as ideias. Fala da perspectiva de alguém que observa um morador de rua. É sobre a fome, o medo, a falta de esperança. O descaso da sociedade com pessoas nessa situação. É uma visão de quem está de fora, de quem nunca viveu isso”.

Memórias Póstumas fala sobre memórias de morte e sentimentos. E sobre o momento da despedida, do pós morte, da saudade e da sensação de perda. Escrevi para contar uma história que vivi quando perdi a minha primeira namorada, ainda adolescente, que faleceu ao adoecer. Foi inesperado, rápido. Foi um processo de amadurecimento e crescimento pra superar tanto o sofrimento dela no hospital e o que foi vivido depois disso. O que imagino é que as pessoas querem ser lembradas pelas coisas boas que elas deixaram. Quando você ama uma pessoa e ela morre, você fica numa situação de desamparo. Acredito que o desejo dela é que você lembre dos momentos mais felizes que foram vividos”.

“A gente já vinha tocando Ao Seu Alcance antes de gravar o álbum. Já estava amadurecida, mas era diferente porque a gente ainda não tinha um guitarrista como o Lucas, que é um cara criativo, virtuoso. É uma letra bem direta. Fiz na mesma vibe de Despertar. É positiva. Fala sobre vencer, querer algo melhor pra sua vida e que você tem que lutar por isso. Você precisa plantar coisas boas para colher coisas boas. Não desistir dos seus sonhos”.

Haciendo tu proprio camino tem duas frases em espanhol. Na época da gravação, a gente tava assistindo muito a série Narcos e veio a vontade de expor essa parada em espanhol, assim, agressiva. Pra ser uma coisa bem humorada, de certa forma. Fala sobre você dar sua cara a tapa e fazer as coisas acontecerem”.

P. E. A. é sigla para perpétua escuridão advinda. É uma das músicas que mais gosto no álbum porque ela é direta, pesada, bem forte. Fala sobre esperança e humanidade. A esperança no mundo tá cada vez mais se esvaindo. A luz no céu, que tem na letra, representa isso. Também fala de amizade e companheirismo. As pessoas que estão ao seu lado são as que você pode contar de verdade. Seus amigos e sua família”.

Precipício já tinha sido feita, em parte, antes da gente pensar em gravar o álbum. Tinha umas ideias soltas. Depois, com a entrada do Lucas na banda e a certeza do álbum, voltamos a trabalhar nela. Fala do ego. De muitas pessoas que inflam muito o próprio ego, que ficam cegas e acabam perdendo oportunidades por isso. De pessoas que ficam sozinhas em seu universo. De saber que você não é melhor ou mais importante que outra pessoa, e saber se colocar no seu lugar”.

Véu do Acusar é a que menos participei. Praticamente só gravei, e gravei com muita vontade. Aprendi a cantá-la já durante a gravação (dos vocais). Antes não tinha escutado nada dela. Fomos gravando, corrigindo, refazendo até dar certo. O resultado é uma das faixas mais diferentes. Revezo o vocal com o Lucas. É uma letra que cabe várias interpretações. É sobre a humanidade também, sobre a responsabilidade de cada um. Das pessoas que justificam a violência, acusam outras, encontram motivos para julgar”.

“O primeiro intuito de Santimônio é uma crítica religiosa, a como as pessoas agem em nome da fé. A violência, a manipulação. Muitas pessoas usam a fé de gente mais humilde para tirar o que elas têm. A letra retrata isso tentando pegar referências do passado, das guerras travadas pela fé”.

Imunidade é a última faixa do álbum. Foi uma das letras mais difíceis de escrever. A música tinha métrica e andamento bem diferentes (em relação às outras). É um olhar introspectivo sobre as frustrações que a gente passa durante a vida. A gente aprende a dar valor às coisas quando perde. A gente tende a valorizar umas coisas e deixa de lado outras coisas que também são importantes. É uma crítica as atitudes do ser humano em relação às coisas mais simples da vida”.

https://open.spotify.com/album/0ZPjQo8TNOyLnRfp8zbdgo

About the Author

Rubens Rodrigues

Jornalista. Na equipe do O POVO desde 2015. Em 2018, criou o podcast Fora da Ordem e integrou as equipes que venceram o Prêmio Gandhi de Comunicação e o Prêmio CDL de Comunicação. Em 2019, assinou a organização da antologia "Relicário". Estudou Comunicação em Música na OnStage Lab (SP) e é pós-graduando em Jornalismo Digital pela Estácio de Sá.

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