(Foto: Zoë Van Boekel)

A experiência da Vivendo do Ócio desaguou em Selva Mundo, o terceiro álbum de estúdio, lançado em 2015. Produzido por Curumin e Fernando Sanches no Estúdio El Rocha, em São Paulo. O primeiro totalmente independente, Selva Mundo é resultado da força dos fãs do grupo que é acompanhado por mais de 115 mil pessoas só no Facebook. Foi com a ajuda deles que o grupo financiou a produção do álbum, orçado em R$ 61.225 – 115% da meta.

O grupo deixou a Bahia em 2008, onde foi formado dois anos antes, após vencer um concurso que resultou na gravação do primeiro álbum oficial pela Deckdisc: Nem sempre tão Normal (2009). Em São Paulo, a VDO viu o rock gritar e, em 2010, fez seus primeiros shows internacionais. Em 2012 veio O Pensamento É um Ímã, também pela Deckdisc. O disco rendeu o hit “Nostalgia”, com clipe dirigido por Ricardo Spencer.

Agora, Jajá Cardoso (vocal e guitarra), Luca Bori (baixo e voz), Davide Bori (guitarra) e Dieguito Reis (bateria e voz) continuam colhendo os frutos de Selva Mundo. Lançado em julho deste ano, o clipe de “Prisioneiro do Futuro”, dirigido por Iuri Nogueira, concorreu a diversos prêmios ao redor do mundo em categorias de animação. Um deles foi o Palm Springs International Animation Festival, chegando a competir com artistas como Elton John e Gorillaz.

Ao Blog Repórter Entre Linhas, Luca e Jajá Cardoso comentam, faixa a faixa, os temas que costuram Selva Mundo.

Faixa a faixa: Selva Mundo (2015) – Vivendo do Ócio
Por Luca Bori e Jajá Cardoso

Luca Bori: “O descaso com o sertão é um tema que fica sempre em último plano, a gente não queria que isso se repetisse no nosso novo álbum. A Espera fala sobre descaso, a seca e a esperança no sertão. Muitas vezes esses assuntos não têm a devida importância nas grandes mídias. Outro ponto importante é que ela sintetiza bem a mistura do rock com a influência nordestina”.

Luca: “Prisioneiro do Futuro ganhou um dos melhores clipes da Vivendo do Ócio. Com direção, roteiro, ilustração e animação de Iuri Nogueira, trouxe tudo que a música pedia e agregou muito mais, com uma estética incrível que deixa qualquer um hipnotizado. Além de tudo, é ótima pra dançar nos shows. Ela remete aos nossos álbuns anteriores mas sem deixar de mostrar as novas influências da banda, passado do brasileiro ao rock pesado”.

Jajá Cardoso: “Prisma veio de um sonho que tive. Tenho uma conexão muito intensa com o mundo onírico, costumo lembrar detalhadamente dos meus sonhos. Eu estava aprisionado em um objeto no canto de uma sala de uma casa, e a vida dentro dela passava rapidamente. Nessa agonia vi que os móveis mudavam de lugar e forma, e as pessoas eram apenas rastros. Às vezes alguém se aproximava e olhava, mas era tudo borrado. Depois eu vi uma piramide de metal que girava devagar em um plano negro e me senti sendo aquele objeto. Acordei no meio da madrugada com essas imagens na mente e pensei em transformar em música, então chamei Lirinha (Cordel do Fogo Encantado). Já tínhamos conversado sobre compor junto nos bastidores do Lollapalooza. Sem dúvida ele foi o cara certo para captar a energia que a música precisava. Foi uma experiência muito doida escrever com ele, fluiu de um jeito que nunca tinha acontecido com qualquer outra pessoa que escrevi junto. Os versos vinham como se estivéssemos numa conversa mesmo ou uma espécie de repente psicodélico”.

Cardoso: “A Lista fala sobre a correria da vida urbana, de um cotidiano que não sobra tempo para viver as coisas simples e também como tudo isso afeta uma relação. O som pesado deixa a interpretação da música em sintonia total com a letra”.

Luca: “Beira do Mar é uma música “solar”, nossa primeira parceria com nosso grande irmão Guerra (Fresno / La Cumbia Negra). Esse som surgiu da maneira mais espontânea possível com Dieguito e Guerra tocando violão no sofá do QG em São Paulo”.

Cardoso: “Carranca é um símbolo de proteção contra os maus espíritos que era usado inicialmente nas navegações como figura de proa, muito comum antigamente na Bahia e essa música fala de proteção à vida, amor ao que você ama. As pessoas cometem injustiças com elas mesmas às vezes vivendo o sonho de outras pessoas ou que as pessoas esperam que ela seja, ao invés de seguirem seus próprios instintos. Nós, juntos com Adalberto Rabelo e Thadeu Meneghini, tivemos a felicidade fazer um mantra de amor à vida”.

Cardoso: “Selva Mundo não é uma música. É tipo um interlúdio caótico onde os sons da cidade e da floresta se misturam”.

Cena do clipe “Prisioneiro do Futuro”

Cardoso: “Com a letra de Flaíra Ferro e melodia de Igor Bruno, Porrada fala sobre as mazelas que assolam nossa sociedade há muito tempo e, no final das contas, a culpa e as consequências caem em cima de quem não deve”.

Cardoso: “Escrevi a letra de Não Te Digo Nada quando perdi uma amizade que era importante para mim. Não posso entrar em muitos detalhes por que é muito pessoal, mas as coisas poderiam ter sido resolvidas de uma maneira tranquila, sem destruir a confiança e pela falta de maturidade dele, perdemos a amizade e nossa conexão musical”.

Cardoso: “Todas as músicas são especiais para gente, mas temos um carinho imenso por Amor em Construção. Tivemos a honra fazê-la com Pepeu Gomes. Conhecemos ele por meio do filho dele, Filipe Pasqual, que curte nosso som e nos apresentou. Em um show em Salvador, no camarim, Pepeu falou que tinha gostado da nossa música, que escutava. Até falou trechos. Ficamos boquiabertos sem saber direito o que estava acontecendo (risos). Conversa vai, conversa vem, ele falou que ia mandar uns sons que ele estava fazendo. O Pepeu mandou a melodia, e nós chamamos dois grandes amigos, Fábio Trummer (Banda Eddie) e Tiago Tejo para escrever a letra conosco. Na gravação tivemos a imensa felicidade do Pepeu cantar uma parte da música e ainda gravar um solo de guitarra”.

Luca: “Salva! fala sobre nossa querida Salvador, tão linda, rica e amada, mas questionando alguns clichês baianos que transparecem uma Salvador que nem sempre é verdadeira. Um problema não só da nossa cidade, mas que infelizmente se repete em todo o mundo”.

A banda não comentou a faixa Batalha do Sono.

About the Author

Rubens Rodrigues

Jornalista. Na equipe do O POVO desde 2015. Em 2018, criou o podcast Fora da Ordem e integrou as equipes que venceram o Prêmio Gandhi de Comunicação e o Prêmio CDL de Comunicação. Em 2019, assinou a organização da antologia "Relicário". Estudou Comunicação em Música na OnStage Lab (SP) e é pós-graduando em Jornalismo Digital pela Estácio de Sá.

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