Em entrevista exclusiva ao Blog, Dalasam revela conceito do próximo clipe e fala sobre a banalização dos discursos na música pop. Ele faz show em Fortaleza nesta sexta-feira

Rico Dalasam não quer se repetir. Prestes a encerrar a divulgação do EP Balanga Raba, lançado em julho de 2017, ele trabalha no clipe de “Procure“, um curta-metragem repleto de discussões, no seu próximo disco, e em um livro. O sucessor do álbum Orgunga (2016) ainda não tem data para sair, mas um coisa é certa: será diferente.

Nesta sexta-feira, 22, ele se apresenta pela terceira vez em Fortaleza, no Órbita Bar, com um show que define como “entressafra”. Com novidades, músicas já conhecidas do público e um pouco de experimentação. Ingressos custam de R$ 20 a R$ 40.

Em entrevista exclusiva ao Blog Repórter Entre Linhas, Dalasam revela seu rumo criativo para os próximos meses e avisa que está arrumando as malas para passar uma temporada em Nova Iorque. Tudo para amarrar as pontas do seu próximo disco.

O ciclo do Balanga Raba está caminhando para uma conclusão. Como foi esse processo do EP?

Criei o EP com uma pretensão de campanha mais curta do que um disco, mas o Balanga Raba me deu um monte de coisa legal e que se estende. Ainda não acabou, apesar de eu já estar bem encaminhado no processo do disco. Ainda temos coisas a trocar em relação ao Balanga. É uma proposta do pop pra junto das coisas que eu já fazia no rap e isso me rendeu vários frutos. Agora, tô fazendo um disco. Acho que daqui a dois meses a gente encerra todas as atividades do EP pra se preparar pro disco.

Qual seu próximo passo com o Balanga Raba?

O Balanga vai terminar com um curta-metragem de “Procure”, que é uma faixa muito especial pra mim. O curta vai discutir relacionamento inter racial, entre classes e, claro, homoafetividade. Vai ser mais ou menos essa discussão. E termino pensando nessa sequência de me despir de alguma coisa que tava em mim. “Não Deito pra Nada” foi um pouco isso.

O Orgunga e o Balanga são bem diferentes, embora sua identidade seja muito bem estabelecida. O que esse caminho te ensinou?

O Balanga me colocou diante de uma experiência de um plano de negócios que eu ainda não tinha, que é o imaginário do pop. E também me deparar com uma coisa que, infelizmente, é muito recorrente. O pop, querendo ou não, tem uma propensão a idiotizar uns discursos que tem muito peso. Ele se banaliza dentro da própria imensidão, porque ele tem uma demanda mais plástica e rápida. Eu pude experimentar isso.

E foi bom também porque o Orgunga era uma outra coisa. Todos esses trabalhos passaram por lugares que era o de colocar essa minha existência como se fosse três obras, como se eu estivesse dividido em três camadas.

E como está o processo do disco novo?

O disco a gente já tem o repertório todo, estamos em processo de produção. No começo do outro mês (julho) vou pra Nova Iorque dar sequência a ele e este ano ainda creio que a gente consegue dividir com o público. É um caminho bem imersivo, não tenho pretensão pop com ele. Há grande chance do disco vir acompanhado de um livro. Tô escrevendo já tem um tempão, e talvez eu inclua porque tem muito a ver. O nome do livro é o nome do disco, que eu não posso dizer ainda.

Vai ser um caminho de forma múltipla e poética. A gente brinca com as palavras. Às vezes, quando (um texto) tá musicado é bom de dançar, de ouvir. Mas a assimilação no processo literário te coloca em contato com a lírica. E quero que ele seja lúdico, mesmo que discorra narrativas da minha existência. Seja ela de amor, de bagunça. Não é um livro corrido, é um livro de episódios.

Pesquisa para novo disco de Dalasam inclui viagem para Nova Iorque

O que esperar dessa viagem para Nova Iorque?

Esse disco tá sendo feito em casa. Não vou a Nova Iorque para gravar. Nada disso. O disco tem um conceito artístico, de imagem, narrativa. Vou até lá para amarrar a pesquisa e o processo de concepção visual dele com outros amigos. Porque ele carrega um peso lúdico e de imagem, e que vai ser esse tempo que eu vou passar lá quando vou amarar esse conceito pra gente entender melhor o disco.

Há uma complexidade nesse trabalho.

Consigo enxergar isso. É complexo, é reflexo do quanto eu… Eu não tô satisfeito. Não tenho compromisso com um modo de fala. Existem formas de narrar meu processo, mas não é porque uma fórmula deu certo que eu vou repetir. Essa fórmula é do pop. Se eu não quiser fazer hit, não vou fazer hit. Vou fazer outra coisa que me faça dançar, sentir, chorar, que afete minhas emoções. Quero que a obra que eu construo nesse caminho mostre sempre a possibilidade da curva. A constância esgota o artista.

Você fez uma temporada do Elefantes, Mantras e Trava-Línguas, um show experimental, em São Paulo. Vai continuar?

O Mantras é um show de teatro. Ele desmembra as músicas entre mantras e trava-línguas. Elefantes é a imagem que rege essa lógica. Mas é um show sentado, tanto eu quanto platéia, e tem a intenção de imersão. Não tem luz como um show normal. A roupa é sóbria, escura. E o som passa por efeitos sonoros e descondensadores de criar atmosferas pra essa imersão. Gostei muito, ficamos em cartaz aqui em São Paulo um tempo e foi mágico. E quando sair o disco, a ideia é que tenha dois shows: um que seja imersivo e o show de palco grande.

Isso reflete de alguma forma no seu próximo álbum?

Esse processo, ainda que o álbum não tenha esse nome (Elefantes, Mantras e Trava-Línguas), foi um pontapé para eu entender que eu queria lançar o disco. Foi a última coisa que eu apresentei aqui (em SP).

O show que você traz para Fortaleza nesta sexta-feira é uma mistura dessa trajetória?

Como a gente tá numa entressafra, no show de sexta entram várias coisas novas e as coisas que eu já fazia. No meio desse processo do Elefantes, a gente mudou algumas formas. Pra gente, o disco já tá muito presente, embora não esteja pronto. Eu vivo o disco novo todo dia. A gente vai pra estrada com esse espírito já para experimentar algumas coisas. Então, a gente mistura Modo Diverso (EP, lançado em 2015), Orgunga, Balanga Raba e o disco novo.

Serviço

Me Dei Bem com Rico Dalasam, no Bud Basement
Sexta, 22, no Órbita Bar (Rua Dragão do Mar, 207 – Praia de Iracema)
A partir das 21 horas

Ingressos: R$ 40 (inteira), R$ 30 (promocional) e R$ 20 (meia)
Vendas no Sympla.

About the Author

Rubens Rodrigues

Jornalista. Na equipe do O POVO desde 2015. Em 2018, criou o podcast Fora da Ordem e integrou as equipes que venceram o Prêmio Gandhi de Comunicação e o Prêmio CDL de Comunicação. Em 2019, assinou a organização da antologia "Relicário". Estudou Comunicação em Música na OnStage Lab (SP) e é pós-graduando em Jornalismo Digital pela Estácio de Sá.

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