Os fãs de Selvagens à Procura de Lei têm muito pelo que esperar. A banda foi confirmada no Rock in Rio e está prestes a lançar Paraíso Portátil, quarto disco de estúdio. No festival, o quarteto cearense toca no palco Supernova, no próximo dia 6, ao lado das bandas Lagum, Zimbra, Folks e do cantor André Prando.

Antes, já no próximo dia 13, o grupo lança o primeiro single do novo álbum. A música “Intuição” chega nas plataformas de streaming e com clipe. O segundo single, “Sem Você Eu Não Presto“, chega dois dias antes de subir ao palco do Rock in Rio.

Selvagens à Procura de Lei abre calendário de lançamentos na próxima sexta-feira, 13 (Foto: Igor de Melo)

Em novembro deste ano, o grupo lança o single “Dejá Vú” e libera Paraíso Portátil completo nas plataformas. É a primeira música que o baixista Caio Evangelista assume os vocais – o guitarrista Rafael Martins e o baterista Nicholas Magalhães também cantam. O lançamento marca o início da turnê de divulgação do disco.

Vocalista, guitarrista e pianista da SAPDL, Gabriel Aragão falou ao blog Fora da Ordem pela primeira vez sobre a oportunidade de tocar no Rock in Rio e destrinchou os processos de produção e conceito do novo álbum. Revelou também o plano de registrar o show acústico e defende letras intimistas em tempos de caos político.

Faixa a faixa: SAPDL comenta o álbum Aprendendo a Mentir (2011)

Fora da Ordem: Vocês acabaram de ser confirmados no Rock in Rio, mas já tocaram em festivais como o Lollapalooza (em 2014 e em 2018), Mada (no Rio Grande do Norte) e o saudoso Ceará Music. Também já tocaram fora do Brasil. O que representa entrar em um festival como o Rock in Rio nesse momento da carreira?

Gabriel Aragão: Tocar no Rock in Rio é realmente pra riscar daquela lista de sonhos da gente, né? De toda banda. A gente acredita que toda a nossa geração cresceu com essa volta do Rock in Rio, que foi o Rock in Rio 3 (realizado em 2001), então a gente sempre cresceu nessa expectativa de um dia o festival voltar justamente nessa época que todo mundo tá com banda.

A gente cresceu com aquelas lendas do Rock in Rio, né? Quando a gente vê os vídeos dos Paralamas do Sucesso se apresentando muito novos, em 85, lançando o segundo disco (O Passo do Lui, 84) deles por lá. Todas essas lendas do rock nacional reverberam na geração atual. A gente já tocou nos festivais mais importantes do País. Poder se apresentar agora no Rock in Rio e finalmente chegar nesse palco, o Supernova, ao lado de bandas da nossa geração, vai ser realmente muito especial.

SAPDL é Rafael Martins, Gabriel Aragão, Nicholas Magalhães e Caio Evangelista (Foto: Igor de Melo)

FDO: Paraíso Portátil abre um conceito de comportamento da sociedade contemporânea. Como esse tema se desenvolve no disco e quais aspectos vocês trataram?

Gabriel Aragão: O conceito do Paraíso Portátil é, mais do que um comportamento da sociedade contemporânea, digamos assim, algo interior. Acredito que quando a gente se volta pros temas do interior, acaba sendo espelho pra quem tá ouvindo e sendo espelho pra sociedade de alguma maneira.

Vem justamente dessa coisa de você carregar dentro de si um Paraíso Portátil. No meio do caos, da confusão, da correria do dia a dia, todo mundo tem a capacidade de se sentir em paz consigo mesmo. E se você se sente em paz, você tem a capacidade de transmitir essa paz pra fora de você. Esse é o tema central desse disco e vai tá em músicas como “Intuição”, “Sem Você Não Presto”, “Dejá vù”, a faixa-título. Ao longo do disco inteiro diversos prismas sobre esse mesmo tema.

Faixa a faixa: Gabriel Aragão comenta álbum Selvagens à Procura de Lei (2013)

FDO: E o que motivou a escolha do tema?

Gabriel Aragão: A gente procura não se repetir a cada disco. No Praieiro (2016), que foi um disco completamente pra fora, a gente testou novos estilos da música pop, do reggae, do funk, esse tipo de estrutura musical. O lado melódico no Praieiro foi muito forte. No nosso segundo disco (Selvagens à Procura de Lei, 2013), o lado instrumental também foi levado a sério, mas a letra era uma coisa muito na cara, digamos assim.

Então, o Paraíso Portátil é primo desse segundo disco no sentido de ter uma mensagem muito forte. E é o contrário do Praieiro, que era solar e trazia uma felicidade quase de música de verão. Não que Paraíso Portátil seja o inverno, que seja uma tristeza, mas é um disco mais reflexivo. Pela primeira vez a gente toca no tema da espiritualidade. Fala sobre se encontrar, sobre dúvidas, mas também fala sobre a luz no fim do túnel, fala sobre esperança.

Acho que muitos fãs estavam na expectativa do Selvagens lançar um disco super politizado, tendo em vista a música “Brasileiro”, lançada em 2013, e a situação que o País vive hoje. Mas a gente tá indo por esse caminho de interiorização justamente porque vem muito aquela frase: “Pra mudar o mundo você tem que mudar primeiro. Seja mudança que você quer ver no mundo”. Essa é a mensagem do Paraíso Portátil.

FDO: A banda ultrapassou a meta (R$ 30 mil) do financiamento coletivo do álbum Paraíso Portátil. Por que voltar a apostar no crowdfunding?

Gabriel Aragão: Esse crowdfunding foi diferente do anterior porque no Praieiro toda grana que a gente levantou foi usada na gravação do disco. Sem ela, não teria possível gravá-lo. Já no Paraíso Portátil, a gente levou muito mais como uma pré-venda porque já tinha as condições de gravar. A gente tava gravando no estúdio Fibra, no Rio de Janeiro. Já tinha passado da fase da pré-produção, da produção.

O crowdfunding foi para ajudar no segundo passo, a pós-produção e tudo que vem depois. Investimento em clipes, marketing, tudo isso. É uma evolução do que fizemos no Praieiro. A gente conseguiu garantir toda a gravação, e com isso a gente também garante que não existe nenhum atraso da nossa parte. Foi um movimento muito mais saudável.

FDO: Vocês têm feito uma série de shows acústicos e aproveitaram para apresentar algumas das novas músicas. Como foi a experiência? Há intenção de fazer um registro nesse formato?

Gabriel Aragão: A turnê do Praieiro foi a maior que fizemos até agora. Rodamos o País inteiro, fizemos nossos primeiros shows internacionais. Em 2018, começamos a lançar singles inéditos como “Gostar Só Dela”, “Solidão Me Levou” e a regravação de “Jamoga”, versão acústica com a participação da Roberta Campos. Também fizemos nosso primeiro DVD produzido por Paul Ralphes.

Quando a gente chega em 2019 com tanta coisa nova e sem poder mostrar o disco inteiro pro público, a gente teve essa ideia de fazer a releitura acústica pra ter novidade pra mostrar pros fãs e também sair da nossa zona de conforto. Tem sido legal porque a gente revisita músicas antigas. Toda vez que a gente toca voz e violão ou voz e piano, voltamos pra célula original de cada composição. E é um formato muito intimista entre banda e público. A gente gostou muito de fazer isso. Depois da tour do Paraíso Portátil, se formos gravar um segundo disco a vivo, a gente pensa de fazer no formato acústico.

FDO: Vocês têm gravado algumas músicas em voz e violão. De que forma isso influenciou no novo disco?

Gabriel Aragão: Tocar no formato voz e violão foi muito importante. Paraíso Portátil foi escrito muito em voz e piano ou voz e violão. Depois desse formato definido, a banda entrou. O violão tá muito presente no disco. Em todas as músicas tem teclado ou piano. E em cima disso tem a banda tocando e colocando guitarras e efeitos. Tudo com aquele saborzinho psicodélico que quem gosta de Selvagens vai encontrar. É um som bem diferente. A gente brincou muito com coisas que nunca tinha mexido. Muito som de teclado, sintetizador. Os fãs vão se surpreender. E quem não conhece Selvagens, vai ter a oportunidade de conhecer uma banda nova, num novo momento.

About the Author

Rubens Rodrigues

Jornalista. Na equipe do O POVO desde 2015. Em 2018, criou o podcast Fora da Ordem e integrou as equipes que venceram o Prêmio Gandhi de Comunicação e o Prêmio CDL de Comunicação. Em 2019, assinou a organização da antologia "Relicário". Estudou Comunicação em Música na OnStage Lab (SP) e é pós-graduando em Jornalismo Digital pela Estácio de Sá.

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