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Um acidente gravíssimo de carro numa estrada em Portugal, quando uma das rodas do veículo que dirigia se desprendeu a 100 km por hora, por pouco não matou Uillian Correia, sua esposa e um amigo. O ano era 2013 e os torcedores do Ceará nem sabiam da existência do jogador.

Hoje a torcida o conhece bem, mas nem imagina que também por causa deste acidente o volante teve a chance de atuar pelo Ceará e ser ídolo da torcida, algo conquistado em apenas três meses de clube.

O trauma da batida foi grande demais e despertou de vez a saudade da família e o desejo de voltar ao Brasil. As coisas para o jogador revelado no Atlético-PR não estavam nada bem. Sem oportunidade no Paços de Ferreira, um ano sem atuar – sequer era relacionado para os jogos – desiludido com o futebol, a decisão estava tomada: abandonar a carreira aos 23 anos. Ao lado da mulher, o objetivo era voltar ao Paraná e estudar. Assim, ambos retornaram ao país em 2014.

O ponto da virada, mais um na vida de Uillian foi Uma ligação do presidente do Sampaio Corrêa. O time precisava de um volante para a Série B e dois jogadores que atuaram com ele no campeonato gaúcho pelo Santa Cruz e estavam no Maranhão fizeram a indicação. Era a última chance que Uillian daria ao futebol.

No Sampaio, fez um contrato de risco, ganhando muito pouco. Chegou sem qualquer alarde, desconhecido e com restrições internas. Flávio Araújo tinha indicado outros atletas para a posição e não queria o jogador, mas o presidente do clube foi firme. Disse a Flávio Araújo que todos os atletas que chegaram eram aprovados pelo técnico e que Uillian Correia seria da cota do presidente.

Não demorou nada para o jogador mostrar nos treinos um desempenho excelente. Na estreia contra o Paraná na Série B, em São Luis, derrota por 2×0, mas Uillian não foi escalado. No jogo seguinte, contra o Icasa, em Juazeiro, Flávio deu a camisa titular a ele. Sampaio 3×0 e nunca mais Uillan saiu da equipe.

O garoto, que batia bola com o pai no quintal da casa no Mato Grosso do Sul, depois adolescente nos campinhos e escolas nas imediações de Curitiba, ajudava no sítio da família que vendia leite e sonhava em ser jogador de futebol, tinha renascido pela segunda vez. Suas atuações seguras na Segundona, sua velocidade para defender e ajudar ofensivamente, começaram a chamar a atenção. No confronto com o Palmeiras, já pela Copa do Brasil, Gilson Kleina pediu a contratação dele e a de Jonas – hoje no Flamengo – mas a demissão do técnico verde impediu o acordo. Seu contrato ia até o fim do ano e o Sampaio passou a insistir na renovação com aumento de salário, mas ele não quis, deixando torcedores e os dirigentes do time do Maranhão bem contrariados por entenderem que foi lá que a porta para o futebol foi novamente aberta para o volante.

Em outubro o Fluminense fez uma proposta real. Uillian aceitou e chegou a declarar que só faltava assinar o contrato para começar 2015 no Rio de Janeiro. O acordo não avançou e o Ceará chegou com uma proposta de três anos de compromisso, assinado em 2 de dezembro. Uillian passou a ter então, depois de muitas idas e vindas, o melhor contrato da vida. Contrato este que, por incrível que pareça, correu o risco de ser quebrado precocemente.

No dia em que chegou a Fortaleza para se apresentar ao Ceará, ainda no aeroporto, seu telefone tocou. Quando identificou a pessoa do outro lado da linha, suas pernas tremeram. Era Wanderley Luxemburgo o convidando para jogar no Flamengo. Uillian disse que já tinha compromisso com o Ceará e que sua palavra estava empenhada, mas pediu que o técnico continuasse acompanhando seu trabalho. A partir daquele momento ele era alvinegro.

 

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Fernando Graziani

Fernando Graziani é jornalista. Cobriu três Copas do Mundo, Copa das Confederações, duas Olimpíadas e mais centenas de campeonatos. No Blog, privilegia análise do futebol cearense e nordestino.

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