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Pouco mais de um mês atrás, com autoridade, esquema tático arrumado, talento técnico e muito merecimento, o Ceará conquistou a Copa do Nordeste. Um torneio ganho de forma invicta, indiscutível, uma das maiores conquistas do clube que, nesta semana, fez 101 anos de fundação.

O mundo gira, entretanto. O futebol é mais dinâmico ainda e o Ceará hoje tenta entender como conquistou apenas quatro pontos dos 15 disputados, aproveitamento de  26% na Série B.

A exigência é de alto nível sempre, mas o futebol apresentado pela equipe na Copa do Nordeste não pode servir de parâmetro puro, principalmente porque uma competição mata-mata possui diferenças fundamentais em relação ao regulamento de pontos corridos. Ainda assim, chega a assustar a falta de empenho e brio nas atuações, bem diferentes do que foi apresentado na competição regional. Com exceção da vitória sobre o Atlético-GO, no PV, quando finalizou 30 vezes e mandou no confronto, nas outras partidas da Série B o Ceará se mostrou abatido, sem poder de reação, se deixando envolver pelos adversários, muitos inferiores tecnicamente.

Não é apenas a falta de alma. Na parte técnica, a equipe perdeu três titulares: Magno Alves, Samuel Xavier e Assisinho. O que se esperava era uma reposição com qualidade e rápida. Não aconteceu porque a diretoria foi incapaz. Para piorar, Charles e Marinho se machucaram neste início de Série B. Sandro está muito abaixo do nível desejado e Marinho não tem substituto na função tática que exerce, muito menos na técnica e no estilo de jogo. Eloir, Wescley e Robinho, quando ganham chance, se perdem completamente e pouco ajudam.

De contrato renovado,  com justiça, Ricardinho ainda está abaixo do futebol que pode mostrar. William, que assumiu a vaga de titular no ataque, não rende. Até no gol o sempre seguro Luis Carlos passou a ter problemas em falhas seguidas que originaram tentos adversários. Uilliam Correia, Sandro Manoel e Fernandinho também apresentam atuações aquém do que já desempenharam neste ano mas, de maneira geral, não têm comprometido.

Silas tem responsabilidade, mas não é justo ser apontado como culpado direto pela má fase. Seus equívocos se concentram especialmente na parte tática da equipe, que diante de tantas dificuldades se tornou previsível e desorganizada, afunilando o jogo pelo meio, sem jogadas pelos lados e alternativas. Entretanto, não será surpresa se o treinador passar a ter o cargo ameaçado, muito em função da postura da diretoria do Ceará, conhecida pela falta de paciência  e na preferência por trocas constantes de treinadores.

A solução para o time reagir, com exceção da necessidade de reforços de qualidade para o elenco, está dentro de casa. Primeiro, com a recuperação dos contundidos Charles e Marinho. Depois, com a função tática de cada jogador retomada porque Silas precisa definir e treinar muito posicionamento. Outro ponto que considero fundamental para ser corrigido: a equipe, no aspecto psicológico, está claramente nervosa, reclamando das arbitragens quando tem e quando não tem razão, terceirizando a culpa. Mais importante, entretanto, é resgate da alma do grupo. Alma que apareceu com destaque durante boa parte deste ano. Sem ela, não há bom caminho.

About the Author

Fernando Graziani

Fernando Graziani é jornalista. Cobriu três Copas do Mundo, Copa das Confederações, duas Olimpíadas e mais centenas de campeonatos. No Blog, privilegia análise do futebol cearense e nordestino.

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