Na foto: GildoFoto: Divulgação, em 09/04/1985

Na loucura do dia a dia não há muito tempo pra chorar. Mas hoje foi diferente comigo.

Logo pela manhã soube da morte de Gildo, maior artilheiro da história do Ceará. Estava com 76 anos. Foram mais de 440 jogos pelo clube, 261 gols contabilizados – há um processo de revisão que está realizado de um período na década de 60.

Entre telefonemas, mensagens, coordenação da cobertura para o portal e pensando no conteúdo para o jornal impresso de quinta-feira,  demorei um pouco para lembrar de quanta gente ficaria triste com a notícia, de que caiu o pano para um ídolo marcante.

Passei a lembrar dos tantos textos que já li sobre o atacante e das muitas conversas que tive com amigos e historiadores alvinegros nestes 15 anos que trabalho na imprensa esportiva. Ao mesmo tempo, precisava registrar aqui no blog. Página em branco e a facilidade com que eu escrevo se perdeu completamente. Me vi incapaz. Me vi triste pela família, pelos torcedores, por um futebol que não volta mais. Me vi mudo, mas precisava escrever.

Já na redação, Érico Firmo, jornalista dos melhores aqui do O POVO, me contou que o pai dele viu muitos jogos do  Gildo, o conhecia da Gentilândia desde sempre. Liguei então para o Seu Cláudio. Queria conversar, entender o que Gildo significava para ele, buscar inspiração para um texto. Só que ele não sabia da morte do ídolo. Soube por mim.  E a partir daí a conversa que tivemos me comoveu. Comoveu porque o futebol é algo espetacular, mas a gente esquece. Esquece por causa dos absurdos, da roubalheira, dos jogadores sem alma, dos dirigentes incompetentes e que não valorizam ídolos, do total apego ao dinheiro, da violência.  Mas a essência ainda existe. É a essência do torcedor com o jogador. E a cada palavra de Seu Cláudio eu fui me lembrando disso.  O que ele falou pra mim está abaixo:

“Graziani, conheci o Gildo desde a época de Torneio Início, que era um grande evento. Ele sempre foi uma figura completamente voltada para o futebol. Era um jogador espetacular, sabia fazer gols como ninguém. Nas nossas conversas mais recentes, sempre se lembrava dos gols que marcou, muitos em clássicos. E dizia que antes de finalizar, dentro do campo, ali da área, já via a torcida do Ceará comemorando, como em um gol contra o Fortaleza num lance com o Cícero Capacete. E ria, lembrava, se alimentava daquilo.  Me lembro demais quando ele fez dupla no Ceará com um jogador chamado Fernando Carlos, a famosa dupla “tome bola”. O que posso dizer é que estou muito triste, muito. Faço questão absoluta de ir ao velório, ao enterro. Não há um jogador que represente mais o amor e o carinho da torcida do Ceará do que Gildo. Faz muito tempo que não vou ao estádio, mas certamente estaria em todos os jogos se Gildo estivesse em campo. Para mim, Gildo é imortal”.

Tagged in:

,

About the Author

Fernando Graziani

Fernando Graziani é jornalista. Cobriu três Copas do Mundo, Copa das Confederações, duas Olimpíadas e mais centenas de campeonatos. No Blog, privilegia análise do futebol cearense e nordestino.

View All Articles