Ter conquistado apenas cinco pontos dos 24 mais recentes disputados na Série B provoca a intensa busca pela explicação perfeita da queda brusca de desempenho do Ceará. A caça aos culpados também é perene e até natural da parte dos torcedores, justamente indignados com a baixa produção do time que, efetivamente, tem jogado muito mal.

No futebol cearense – e também no Brasil, para ser justo – as primeiras justificativas sempre são novelescas: ou é o técnico que perdeu o comando (seja lá o que isso queira dizer) ou os jogadores estão querendo derrubar o treinador ou os salários estão atrasados ou o ambiente ficou péssimo por vaidade ou há alguma teoria da conspiração que ainda será descoberta.

Ocorre que há aspectos táticos, técnicos e de mérito dos adversários que precisam ser levados em conta também. Taticamente Sérgio Soares tem mostrado problemas na montagem do time. Na derrota para o Sampaio ficou nítido que as decisões equivocadas foram muito mais relevantes, além de uma escalação ruim. Tecnicamente, os mesmos jogadores que estavam bem no primeiro turno caíram de rendimento assustadoramente. Historicamente, outra constatação: no segundo turno as equipes da parte de baixa da tabela tendem a pontuar mais. Não é lenda, é real.

Internamente é evidente que a culpa é dividida. Presidência, diretorias, comissão técnica e jogadores são partícipes. Deixar algum setor de lado é injusto.

A análise dos oito jogos seguidos em que o Ceará não conquistou nenhuma vitória, entretanto, mostra de maneira evidente que o problema, no campo, é ofensivo e não defensivo (até porque a zaga já vinha mal desde o começo da competição). É preciso então analisar a situação de forma mais ampla.

As comparações abaixo são conclusivas:

Média finalizações certas: 4,52
Média últimos 8 jogos: 3,62

Média finalizações erradas: 8,04
Média últimos 8 jogos: 10,5

Média gols: 1,28
Média últimos 8 jogos: 0,5

Média assistências para gols: 0,84
Média últimos 8 jogos: 0,5

Média cruzamento errado: 19,2
Média últimos 8 jogos: 23,12

Assim, nos principais índices ofensivos a produção despencou. Por outro lado, a defesa tomou menos gols, os passes errados diminuíram e os passes corretos aumentaram (comparações abaixo). Ocorre que, com mais posse de bola ficou ainda mais nítido que prosperam os toques laterais sem compromisso, a falta de criatividade e a incapacidade do time em furar as defesas, mesmo quando os adversários estão com um jogador a menos.

Média passes certos: 293,16
Média últimos 8 jogos: 351,5

Média passes errados: 40,28
Média últimos 8 jogos: 37

Média gols sofridos: 1,16
Média últimos 8 jogos: 1,12

Com 38 pontos o Ceará está na sexta colocação. A pontuação é a mesma do CRB, quarto colocado. Restam 13 rodadas. Ainda assim o que mais incomoda o torcedor é que a performance despencou, causando falta de confiança e insegurança no por vir. O time não está jogando bem e perdendo pontos. Está jogando mal e perdendo pontos.

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Fernando Graziani

Fernando Graziani é jornalista. Cobriu três Copas do Mundo, Copa das Confederações, duas Olimpíadas e mais centenas de campeonatos. No Blog, privilegia análise do futebol cearense e nordestino.

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