Fortaleza e Ceará têm convivido com muitas críticas de seus torcedores neste início de temporada. A cobrança, legítima, sempre busca por equipes fortes, competitivas e com potencial técnico relevante. O exagero, entretanto, está presente e um dos motivos é a falta da real noção das limitações financeiras dos rivais cearenses, inclusive diante de equipes da região Nordeste.

A contratação do atacante André, pelo Sport, é um bom exemplo. O clube do Recife vai pagar, por baixo, R$ 4 milhões pelos direitos federativos do jogador (estava no Sporting, de Lisboa) para assinar contrato de cinco anos. André passou com sucesso em 2015 pelo Sport, com 14 gols marcados, fazendo boa dupla com Diego Souza. Esse valor é quase um terço do orçamento todo do Fortaleza para 2017, que teve previsão de R$ 13 milhões. O total previso de gastos do Sport em 2017 é de, no mínimo, R$ 113 milhões, nove vezes mais do que o Tricolor do Pici (e quase cinco vezes mais do que o Ceará, como mostro no parágrafo seguinte).

O Ceará também não tem condições orçamentárias para contratar jogadores com valor alto, sequer mediano (isso não quer dizer que não possa ter bons jogadores, entretanto). Com expectativa nesta temporada de gastos totais (não apenas com folha de pagamento dos atletas) de R$ 25 milhões, vê o Bahia, por exemplo, com previsão de usar pelo menos R$ 100 milhões, uma diferença de 300% (em relação ao Fortaleza, uma diferença ainda maior). Já o Vitória, outro nordestino na Série A, aprovou ao menos R$ 83 milhões para a temporada.

Não é impossível que Ceará e Fortaleza cheguem nesse patamar mas, por enquanto, a realidade é bem distante. Ao mostrar esses dados – sem esquecer que Pernambuco e Bahia são estados com uma economia mais desenvolvida do que o Ceará – repassados em francas conversas com as respectivas diretorias financeiras, tenho como por objetivo abrir uma reflexão e não isentar Fortaleza e Ceará de eventuais trabalhos ruins, até porque menos dinheiro não quer dizer necessariamente desempenho ruim, assim como muito dinheiro não reflete ótimos momentos. É preciso competência em todos os casos.

Para os clubes cearenses, entretanto, é urgente que o investimento nas categorias de base – discurso perene, mas real – seja efetivamente executado. Só que leva tempo. Refinar e aumentar os programas de sócios também. O olho clínico para contratar jogadores baratos (e fazer compromissos longos) e que possam render técnica e financeiramente é igualmente vital, casos recentes do Ceará com Marinho, Sandro Manoel, Ricardinho e Uillian Corrêa e do Fortaleza com Jean Mota.

Alvinegro e Tricolor necessitam chegar até primeira divisão do Campeonato Brasileiro. É condição para o pulo de patamar. Mais do que isso, é fundamental que fiquem por lá – eventualmente disputando a Série B – e sigam evoluindo administrativamente. Sim, evoluindo, porque quem conheceu os dois clubes 10 ou 20 anos atrás sabe que hoje a situação, ainda que esteja longe do ideal, melhorou bastante.

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Fernando Graziani

Fernando Graziani é jornalista. Cobriu três Copas do Mundo, Copa das Confederações, duas Olimpíadas e mais centenas de campeonatos. No Blog, privilegia análise do futebol cearense e nordestino.

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